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sábado, 26 de março de 2011

Jornal livre e independente

Pedro Caldari - Cadeira no 40
Creio que este artigo não será publicado por não “atender aos interesses da imprensa jornalística”, ou seja, “contraria a opinião do jornal”, e ponto final! Comprova-se, portanto, a triste realidade atual de Piracicaba – a cidade perdeu a sua tradicional identidade jornalística combativa, baluarte do espírito democrático da imprensa piracicabana, sempre vigilante e pronta para sair na defesa dos direitos e anseios do povo, especialmente dos menos favorecidos e dos indefesos.

A cidade é a grande perdedora quando isso ocorre, sem se falar do retrocesso que a democracia registra e projeta no seio da sociedade. Ao examinar-se os editoriais e as matérias na página nobre dos jornais diários desta província, verifica-se essa afirmativa, constatando-se a realidade que nos entristece e nos empobrece tanto, da absoluta falta de combatividade jornalística. Não cito nome algum, para não cometer a falha da omissão, mas são vivos na memória do piracicabano nato e também daquele que adotou a cidadania da Noiva da Colina, as figuras ilustres dos equilibrados articulistas que, sem receio algum, armavam-se de suas penas e iam à luta ao se depararem com um fato de alto interesse público não devidamente cuidado ou então, de flagrante desrespeito à lei e à ordem, com total imparcialidade. E defendiam assim, a liberdade de expressão, sem medo e conscientes do cumprimento de seus deveres de cidadão.

O jornal exerce importante função social ao manter-se fiel aos princípios de independência, de soberania e de imparcialidade, dentre outras linhas de conduta que deve ater-se, como o de propagar a paz e a ordem social. Deve, por conseguinte, fazer-se respeitado pelos detentores dos poderes públicos, eletivos e de carreiras, não como antagônico inimigo, mas sim como órgão de neutra oposição democrática, muito diferente daquele opositor de cunho partidário ou corporativista.

Piracicaba teve, no passado, vários jornais independentes e outros de propriedade de capitalista e de bem sucedidos empresários. Apenas um sobreviveu e circula nos dias de hoje, por sorte. Há, portanto, uma enorme carência no setor, faltando-nos a presença de reais formadores de opinião pública, capazes de ir além da expressão dos acontecimentos testemunhados como principalmente o de pugnar por medidas benéficas à sociedade, tanto econômicas e sociais como também culturais e de ordem política suprapartidária. O Legislativo e o Executivo, sempre, devam sentir-se sob os olhares atentos da comunidade, não de fiscais ou de policiais, mas de cidadãos capazes de exercerem suas cidadanias a todo o momento. O mesmo aplica-se ao Judiciário e às instituições que devem zelar pela manutenção da segurança e dos direitos patrimoniais e humanos da sociedade.

O conflito de interesses é um dos mandamentos da ciência da administração. O galinheiro não pode ficar sob a guarda da raposa, segundo a filosofia cabocla, logo, deduz-se que a condução da coisa pública deve ser compartilhada sabiamente e a execução das atividades deve passar por adequada auditoria independente com capacidade não só de detectar como um especial de coibir possíveis falhas e desvios com a devida antecedência. O administrador e seus prepostos, como seres humanos, podem incorrer em erros ou imprecisões executivas involuntárias.

Há ainda o valor da critica quando ponderada e construtiva, além da própria necessidade de opiniões divergentes para o aprimoramento dos fatos ou temas de interesse coletivo. As contestações operam milagres, como por exemplo, aquela do menino que ousou, inocentemente, de denunciar a nudez do rei! A ótica pode ser iludida ou confundida através de artifício e a tecnologia da mídia opera milagres na formação de opinião pública, graças à massificação da eletrônica. O olho puro e inocente do menino, em meio à multidão, exemplifica o papel do jornalista como guardião da sociedade.

Piracicaba, recentemente, deu um grande salto no plano urbanístico e tudo indica que irá progredir muito como cidade industrial sem prejuízo da tradicional agricultura. Todavia, falta-lhe a competitividade nos meios de comunicação, fator indispensável à garantia da independência da expressão do pensamento, no caso, de opinar sobre assuntos de relevância pública, política e socialmente.

Nem tudo que reluz é ouro e nem tudo que soa agradável é a verdade. É preciso, sempre discernir entre o útil e o supérfluo, bem como entre as prioridades quais são realmente demandadas pela comunidade .
Texto publicado no jornal "A TRIBUNA PIRACICABANA" em 26/03/2011

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