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segunda-feira, 16 de abril de 2012

DEGRADAÇÃO

Carlos Morais Júnior Cadeira n° 18
Patrona: Madalena Salatti de Almeida

Andante, ia pelos verdes campos
buscando na linha do horiznnte
os olhos verdes que perdera
naquela jura de amor inacabada...
Havia naquelas pernas
uma força de labareda, nos braços
a vivaz mocidade decadente um dia
e nos lábios o murmúrio seco
de um beijo, a vontade da carícia negada.
Andante de deserto por fora e por dentro,
carente do contorno facial do vento,
ou da alegre imagem querida
apagada na ardente brasa do turbulento coração.
Andante, tristonho, inexistente de virtudes,
e antes de tudo, saudoso de um lar, da mulher.
E um dia houve a companheira.
E houve um dia uma paixão,
como poucas tinham havido.
Mas o tempo veio, e com ele a desgraça
e o que era amor em amor se desfez.
Infelicidade que a vida dá em troca
do sofrimento, das rugas e do desespero.
Brincadeira maldosa do extrovertido destino, só isso...
Andante sozinho, de alma bem ferida,
sem saber voltar ao si mesmo, humilhado e quieto.
Daí para o passo, por força daquelas opções bem grandes,
foi apenas mais uma pisada em falso.
Depois a decadência, o nada, e poderia ser apenas tudo.
Andante, caminhante de quilômetros sem fim,
de estradas poeirentas e toalhas de asfalto.
Tristeza vai com ele para amargar-lhe os últimos dias.
Andante de pés no chão e coração vazio.
Apenas andante, sem destino e sem fé, cético de tudo,
porque ele próprio era um ato de ceticismo,
descrente de tudo, talvez porque, para ele, a vida
fosse um símbolo de descrença.
Andante de desatino na alma e nos pés,
palmilhando pelas milhas buscando um espelho,
para poder recolher o sangue das feridas abertas
e se pintar com ele para representar no palco da vida
o último ato da sua comédia existencial.

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