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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Avaliando redações

Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado


Cinco são os critérios recomendados a um professor para bem avaliar redações feitas pelos alunos: a) adequação ao tema solicitado; b) adequação ao tipo de composição; c) adequação ao nível de linguagem; d) coesão;  e) coerência.
Esses cinco pontos, realmente, são fundamentais. O primeiro deles é óbvio; se o aluno produz uma obra prima de literatura, mas fora do tema que lhe foi solicitado, não pode obter boa nota. Faz lembrar o dito célebre de Santo Agostinho: “bene cucurristi sed extra viam” (correste bem, mas fora da tua pista).
Também é importante que haja adequação ao tipo de composição. Se é pedido um texto dissertativo, não se pode fazê-lo em forma epistolar, ou em poesia, ou à guisa de discurso. Se é pedida uma carta, é uma carta, e não um discurso ou uma crônica que deve ser feita. Se é uma narração, ou uma reportagem, ou um requerimento que foi pedido, não se vá fazer coisa diferente.
O nível de linguagem é também algo a não ser negligenciado. Em princípio, quanto mais simples, direto e objetivo for o texto, melhor. Evite-se linguagem rebuscada e cheia de artificialismos. Evitem-se também gírias e expressões coloquiais, que não cabem num texto a ser avaliado por um professor, num ambiente escolar. Ainda há poucos meses presenciei um fato muito engraçado. Estava na Unicamp, num congresso de História Antiga, e apresentou sua comunicação uma menina muito jovem, de Minas Gerais, ainda estudante de graduação. Com bastante coragem, foi a um congresso em que quase todos os oradores já estavam pelo menos no Mestrado e alguns já no Doutorado. Ela expôs o seu trabalho, naturalmente com imprecisões, com erros, com falhas. Mas todos os presentes, de modo muito elegante e - quase diria - caridoso, sem humilhá-la com jeito a ajudaram, corrigiram as suas falhas, recomendaram que pesquisasse melhor um ponto ou outro. Ela agradeceu e saiu contentíssima. Realmente foi bonito ver o jeito com que todos, sem exceção, contribuíram para que a menina, que estava dando o melhor de si, saísse de lá melhorada e engrandecida. Ela, aliás, percebeu isso e agradeceu a todos, de modo muito tocante, com muito charme.
O que me chamou a atenção, no caso, foi a observação que fez um dos professores mais graduados que estavam na sala. Com muito jeito, com ar meio bondoso, disse à menina: - Minha filha, vou dar a você um conselho: quando falar de um personagem histórico, não fica bem colocar o artigo na frente do nome, insinuando uma intimidade que você não pode ter com ele. Nunca diga: o Aristótoles, o Platão, o Sócrates. Nenhum dos três foi seu colega ou seu amigo de infância... Esse artigo dá uma nota excessivamente coloquial que não fica bem num trabalho acadêmico.
A menina entendeu a crítica, sorriu e agradeceu.
Por fim, coesão e coerência são indispensáveis. Conjunções e preposições devem ser colocadas nos lugares certos, do modo correto. Não são palavrinhas que se distribuem aleatoriamente pelo texto, só para enfeite. Os conectivos têm significado que não pode ser ignorado. É com eles que se “costuram” as várias partes do texto, de modo a adquirirem unidade e coesão interna.
O pensamento do texto, seu conteúdo, é importantíssimo. Em que medida o aluno conseguiu exprimir um pensamento lógico, pessoal, maduro e refletido no que escreveu? Em que medida se limitou a repetir frases feitas, lugares comuns e banalidades, numa espécie de psitacismo cultural? Em que medida o texto produzido pelo aluno permite entrever um espírito lúcido, capaz de ver com clareza o problema e, com igual clareza, expô-lo por escrito?
Se em todos esses pontos o aluno foi bem sucedido, somente se for muito “malvado” o professor não lhe dará nota 10...
A todos esses critérios eu acrescentaria um último, que nem sempre é lembrado mas considero digno de consideração. Acredito que o professor, além da análise tanto quanto possível objetiva e imparcial que faça de uma redação, também deve tomar em linha de conta, subjetivamente, o aluno em si. Um aluno menos dotado que se esforçou extraordinariamente merece, em justiça, que o professor lhe faça sentir, na nota mais alta, que compreendeu e deseja estimular aquela conduta mais esforçada. E um aluno mais dotado que produza uma ótima redação, mas que evidentemente poderia tê-la feito muito melhor, também é justo que sinta, na avaliação, que o professor percebeu e lamentou o desleixo.
A justiça de uma avaliação é, pois, uma composição de objetividade e subjetividade, de censura e estímulo, de justiça comutativa e distributiva. É mais equitativa do que igualitária já que, como dizia Rui Barbosa, a verdadeira igualdade consiste em tratar desigualmente os desiguais.

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