Páginas

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Poema pobre

 Marisa F. Bueloni
Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade





Minha pobre poesia
é sem não-me-toques:
diz o que sente
sem retoques


Pois eu digo sem rodeios
poesia é coisa de muitos meios


A minha é pé no chão
taipa de fogão à lenha
leite tirado da vaca
sonho que se ordenha


É cheiro de grama orvalhada
som de trovoada
pulo do sapo na relva
vida renovada


Roupa de algodão
chinelinho rasteiro
dor no coração
pombos no viveiro


Pois saibam os senhores
versos sentem dores
e estou aqui
na voragem da vida
rimando sofrida


Minha poesia paulista
tem som de viola caipira
repica numa ciranda
roda de dança catira


Minha poesia é pobreza
é sandália franciscana
tem cheiro de café
arroubo de fé
e gosto de cana


Meu poema pobrezinho
não tem um vintém
não conhece ninguém
é sozinho


Vive de migalhas
de palavras contidas
veste-se de tralhas
das horas batidas


Meu pobre poema
não possui esquema
nem estratagema
nem do ovo a gema


Canta pequenino
as tristes cantigas
varre o chão de pedras
deita-se em urtigas


Meu poema pobre
sem linhagem nobre
não faz feio:
vai levando a vida
como ao mundo veio


Se me envergonho?
Nada! Até componho
qualquer um versinho:
vou pelo caminho
brada o meu poema
geme o meu pinho


Meu poema chora
pela vida afora


Mas percorre altivo
as frases solares
e rima festivo
solto pelos ares...




3 comentários:

  1. Olá Marisa, que tudo permaneça bem contigo!


    Simples talvez, mas pobre jamais será teu poema,
    Digo até que é deveras encantador,
    Por expressar a simplicidade do viver como tema,
    Ainda que traga palavras de dor, por favor,
    Postou cá e compartilhou um belíssimo poema!

    Desculpe, por me exceder neste simples comentário, e que, continuei embalado pela leitura deste teu belo pensamento escrito!

    Assim grato e encantado me vou deixando meu desejo que você tenha um viver de intensa felicidade, abraços e até mais!

    ResponderExcluir
  2. Ivana: sem palavras para agradecer tanta honra! Muito obrigada!
    MARISA BUELONI

    ResponderExcluir
  3. Oi MARISA.
    Repetindo o que disse por e-mail, segue minha opinião, em TROVA:

    NOBREZA

    Jamais um poema é pobre,
    mesmo com sangue caipira.
    Poesia é Virtude Nobre,
    que a poucos a Musa inspira.

    abraço
    André

    ResponderExcluir