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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

COMER DE MARMITA

Toshio Icizuca
Patrono: Elias de Melo Ayres
Cadeira no 38
Outro dia, ao ver uma pessoa comer de marmita, em vasilhas feitas de alumínio em formato retangular, os leitores não imaginam o que é que fui lembrar: fatos da minha infância em Londrina, na década de quarenta, quando morava no sítio e ajudava os meus pais no trabalho de campo.
Naquela época meus pais eram agricultores em pequena propriedade, a primeira  adquirida por eles depois de cumprir o contrato como colonos na região de Penápolis, no Estado de São Paulo. Na verdade, quando eles compraram era uma mata virgem, pois Londrina nem existia, no local havia um povoado que seria a futura cidade.
Ao ver aquela marmita, lembrei que todos os trabalhadores do campo, que seriam os boias-frias de hoje, levavam os almoços nas marmitas iguais a que vi, e ao chegar a hora da refeição, sentavam-se em qualquer canto, no troco de uma arvore caída, no monte de terra resultante de arruação, ou em sacos de algum produto colhido, como café, arroz, feijão etc..
A nossa família também almoçava no campo, ou na roça como era chamada. Mas, o almoço não vinha em marmitas separadas, a minha mãe trazia todas as tralhas necessárias e a comida dentro de panelas e travessas. Como ela conseguia trazer tudo aquilo nas mãos não tenho a menor ideia, pois quando ela nos chamava para o almoço, todos os pratos, talheres, canecas, e as comidas estavam  sobre enorme lençol estendida no solo. Olha, carregar o almoço para cinco pessoas e caminhar cerca de quatrocentos metros não é brincadeira, precisava ser uma supermulher! Ela foi uma heroína. Aliás, todas as imigrantes foram, visto esse tipo de trabalho recaia sobre os ombros das donas de casa. Ah..., preciso falar que almoçar sentado no chão em volta da toalha era gostoso, familiar e bucólico.  
O fato estranho é que, tudo que eu falei sobre o trabalho da minha mãe fui lembrar justo na hora que vi a pessoa comendo de marmita... Talvez naquela época de imenso sacrifício para todos, achasse que tudo que a minha mãe fazia era normal. Somente agora, depois de passados mais de sessenta anos, e sem a presença dela e nem do meu pai, pude reconhecer e agradecer o que eles fizeram para os seus filhos.
Toda vez que lembro fatos dessa natureza meus olhos não resistem, enchem-se de lágrimas de agradecimento aos meus pais.

* com esta crônica, Toshio Icizuca estreia na Folha de Londrina, na página 2, que tem 50,000 tiragens.

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