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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

LILICA: UM EXEMPLO PARA TODOS




                                                                                 Humberto Pinho da Silva -   Porto, Portugal

Lilica é cachorrinha vira lata. Não tem dono, nem casa, nem casota, para se abrigar. Vive desamparada, em imunda lixeira.
 Cansados da cadelinha, abandonaram-na em local onde abunda ferro velho e velhos utensílios imprestáveis.
 Ficou só, triste, perdida entre asquerosos desperdícios, entre animais muito magrinhos, muito enlameados, muito raquíticos., que vegetavam, ruminando comida suja e deteriorada.
 Para aumentar a desdita, teve oito encantadores cachorrinhos, que eram seu enlevo. Mas, se o alimento escasseava para ela, como iria saciar a fome dos filhinhos queridos?
 Como mãe, e mãe carinhosa, sabia que competia-lhe a obrigação de cuidar dos filhotes.
 Desesperada, de coração contrito, abala, em busca do sustento, por ruas e becos da cidade.
 Depois, mais afoita, caminha, cautelosamente, por movimentada estrada. Conhece a indiferença, a maldade, os sentimentos cruéis dos humanos.
 Se nada fizer, seus filhos morrerão. Mergulhada nesse aflitivo pensamento, procura, busca, pede, suplica. É mãe, e como mãe extremosa, ama os filhotinhos.
 Quis Deus; sim quis Deus, porque, como dizia o Santo de Assis, os animais também são criaturas do Onipotente, que deparasse com quem a compreendesse.
 Terminada a farta e saborosa refeição, Lilica lembrou-se dos filhinhos, que lá longe, esfomeados, aguardavam seu regresso. Tenta, sem êxito, arrastar a sacolinha, que continha a apetitosa comida. Depois, desanimada, volvendo o focinho, atira  olhar suplicante para a benfeitora.
 Entenderam-na, e caridosamente, ataram a sacolinha plástica.
 Por curiosidade ou amor, vão no encalço, no propósito de descobrirem onde morava.
 Galga dois quilometros, pela borda da estrada, sempre com a sacolinha bem presa nos dentes, e vai depositá-la junto dos filhos, que ansiosamente a esperavam.
 Os cachorrinhos cresceram. Foram adotados; mas Lilica, recorda que no ferro-velho há animais indefesos, que precisam dela.
 E assim, diariamente, pela quietude da noite, quando o movimento acalma, embuçada na negridão da noite, trilha a estrada, evitando assim a crueldade da molecagem, para tomar a refeição, que benfeitora prepara com ternura e amor.
 Abarca depois a saca, e percorre dois perigosos quilometros, para chegar ao local onde os esfomeados animais a esperam.
 O gesto altruísta, já é admirado e divulgado, por todos que se sensibilizam com a atitude, de extrema caridade, da humilde Lilica. A meiga cachorrinha bem merecia – a exemplo do que se passa noutros países, por gestos menos nobres – que a população e o Município de São Carlos, erguesse, como exemplo para a juventude, monumento, em praça pública da cidade, para que não se esqueça o extraordinário gesto de bondade, da pobre cachorrinha.
 Bem queria que todas as mães fossem tão carinhosas e tão altruístas, como a vira lata de São Carlos.

(Transcrito do blog luso-brasileiro "PAZ" http://solpaz.blogs.sapo.pt/)

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