Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
Sócrates,
com a maiêutica, ensinou o parto das ideias, ensinou a pensar, estabeleceu as
regras básicas do pensamento lógico. Seu discípulo Platão aplicou e desenvolveu
as ideias do mestre, teorizando acerca de um mundo ideal que deve servir de
baliza e modelo ideal para a realidade humana. Seu pensamento é dedutivo, parte
do geral e se aplica ao particular, mantendo-se sempre ambos em perfeito
equilíbrio.
Já
Aristóteles, discípulo de Platão, desenvolveu e aperfeiçoou os ensinamentos
socráticos e platônicos de um ponto de vista diverso. Aristóteles era
cientista, filho de médico e ele próprio estudou medicina. Seu método era o
estudo dos casos concretos e particulares para, a partir deles, chegar ao
conhecimento e formulação das regras gerais. Seu pensamento era indutivo, ao
contrário de Platão. Mas ambos se completam admiravelmente. Em ambos se nota o
mesmo equilíbrio fundamental da natureza humana, o geral com o particular, o
todo com as partes, a teoria com a prática.
Um
exemplo mostra bem as diferenças dos dois. Na República, Platão concebeu um regime político ideal, se bem que, no
sentido original do termo, utópico, ou seja, não existente em lugar algum. Já
Aristóteles escreveu a Política
seguindo o caminho inverso. Possuindo um generoso e rico Mecenas, Filipe da
Macedônia, dispunha de verbas abundantes para seus estudos. Pôde, assim, enviar
emissários a todos os povos então conhecidos,
coligindo mais de duzentos relatos de como se governavam em concreto os
povos. Foi a partir desse rico material de pesquisa que teorizou e elaborou sua
obra. Ambos, Platão e Aristóteles, por caminhos diferentes influenciaram
profundamente o pensamento político do Ocidente, sendo ambos considerados ainda
hoje, a justo título, luminares da Ciência Política.
O
pensamento grego, assimilado e adaptado pelo gênio romano, recebeu ainda um
terceiro componente, de importância fundamental: a influência hebreia, que nos
chegou por intermédio do Cristianismo, trazendo o elemento religioso da
revelação divina. Essas são as matrizes do pensamento original do Ocidente,
profundamente lógico, coerente e completo.
Já
na Era Cristã, o pensamento de Platão teve numerosos seguidores, dos quais,
talvez, o maior e mais brilhante tenha sido Santo Agostinho, Bispo de Hipona e
profundo pensador e intelectual fecundíssimo. De conhecimentos enciclopédicos,
escreveu com profundidade e espírito criativo sobre todos os ramos do
conhecimento humano - sempre sem perder de vista a unidade fundamental desse
conhecimento.
Aristóteles
teve, na Idade Média, um discípulo igualmente genial, São Tomás de Aquino, que
cristianizou, renovou, desenvolveu e aperfeiçoou o aristotelismo, num conjunto
de mais de cem obras, igualmente abarcativas de todos os ramos do conhecimento.
O pensamento aristotélico-tomista também privilegia a visão global do
conhecimento humano, especialmente na Summa
Contra Gentiles (que é
exclusivamente filosófica e faz abstração da Revelação) e na Summa Theologiae (a qual, como o próprio
nome indica, focaliza temática religiosa
e teológica, sem embargo de incorporar poderosamente o arcabouço filosófico).
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