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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sobre Newton de Mello (1905-1965)* *


Newton de Mello

que, segundo dizem, foi professor na cidade, cidadão pacato (me perdoem os que acrescentaram que Newton tinha algo de boêmio), homem de família, poeta e músico.  Daqueles não tão incomuns no iniciar do século passado, que com seus dotes musicais (ah os pianos e flautas, que casas de famílias de medianas poses não os tinham e sempre alguém que tocasse ?) para tirar as gentes do ramerrão sem cinema, difícil teatro e outras diversões que não havia como de dias atuais – poetas e músicos como Juvenal Galeno, Catulo da Paixão Cearense e, por aqui Erotides de Campos e nosso Newton, sempre chamados para alegrar noites e tardes das boas famílias da cidade ou acordar gente serenando madrugadas.
Conheci Newton numa tarde de setembro de 1955 à porta da livraria do Jornal de Piracicaba, apresentado pelo Dr. Losso.  Eu com 22 anos, revisor do Jornal, e que mantinha uma página literária dominical nesse Jornal.  Newton acabava de safar-se duma situação escabrosa, de vida em que o meteram circunstâncias e gentes ruins.  Mal estava tornando para sua cidade.  Esticamos a conversa por mais de hora, e evitando falar de corda em casa de enforcado, mas do momento e gente literária da cidade – tempos de David Antunes, do professor Demóstenes, do professor Salvador de Toledo Pizza, de Frei Marcelino de Angatuba e gente nova.  Nem falamos de seu poema e música que se tornaram hino da cidade.  Dele recebi dias depois um soneto me dedicando (e que foi publicado em seguida no Jornal).  Despedimo-nos.  Ele tornou pelas Morais Barros ate a Praça José Bonifácio, derrubado dentro de seu jaquetão escuro e contra o sol, passos marcados.  Eu fui completar o que trouxera à redação do Jornal.
Fim de ano mudei-me para são Paulo, estudar.  Porém por algum tempo ainda mantivemos correspondência, ele mandando-me seus poemas que avulsos os editava, eu devolvendo-lhe aqueles que eu remendava.
Um dia chegou-me Carrilhões, volume onde somava sua obra até ali.  Fiz-lhe à época um esticado comentário, que não consegui que se publicasse no Jornal, por motivos e humores do Dr. Losso.
Daí perdemos contato e só soube de sua desistência daqui, anos mais tarde, via David Antunes, que se trocara por Campinas.
Isso de minha parte.
Irineu Volpato




REPORTAGEM*
(a Irineu Volpato)
Newton de A. Mello

Vem perto o dia. Salve a madrugada!
A passarada, em festa pelos ninhos,
com semifusas, vuotas e fermatas,
sacode matas, bosques, caminhos.

O rio, beijando da colina a fralda,
é uma esmeralda líquida a rolar
por entre as pedras de ouro e de berilo,
calmo, tranquilo, procurado o mar.

Vem perto o dia! Mais altura ganha
a alta montanha, cuja silhueta,
qual uma enorme faixa de safira,
ao céu atira chispas de cometa.

Findou-se a noite! Pássaros bonitos,
brindai com gritos o acontecimento!
surgiu o sol no píncaro da serra,
saudando a terra lá do firmamento!

*Este poema foi escrito por Newton de A. Mello para Irineu Volpato e foi publicado na coluna Crônica Social do Jornal de Piracicaba em 1º de maio de 1956


* *Irineu Volpato discorreu sobre vida e obra de Newton de Mello no Poesia ao Vento - SESC Piracicaba


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