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sábado, 3 de agosto de 2013

A Lista de Schindler

Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado

            
O filme A Lista de Schindler, baseado em livro de Thomas Keneally, é, sem dúvida, uma obra-prima do cinema moderno. Realizado em 1993 pelo famoso cineasta Stevan Spielberg (Scorcese, antes dele, havia sido convidado para a direção e recusara), é quase inteiramente filmado em preto e branco. Esse recurso, realmente de uma ousadia singular, tem o efeito psicológico de transportar imediatamente o assistente para a década de 40. É uma ação subliminar, dir-se-ia, muito sutil. O fato é que se imaginarmos o mesmo filme em cores, ele perderia muito, ficaria quase banal.
Os atores também são muito bem escolhidos e, nas suas fisionomias, convincentes. Não há, nem um pouco, aquela espécie de anacronismo cinematográfico que faz com que sintamos certo mal-estar quando vemos artistas com caras da nossa época representando papéis de personagens do passado. Pelo contrário, todos os artistas, sem exceção, até mesmo as crianças que figuram no filme, são convincentes, parecem de fato personagens da época.
Oskar Schindler, o herói principal do filme, é representado magistralmente pelo ator Lean Neeson. Schindler é um sudeto, ou seja, um tcheco de origem alemã, industrial e "bon vivant". Muito insinuante e político, faz boas relações com as autoridades nazistas, filia-se ao seu partido e se aproveita disso. Monta, na Polônia dominada pelos alemães, uma fábrica de panelas, para fornecimento à Wehrmacht, e ganha rios de dinheiro nesse negócio, empregando judeus, como mão de obra barata ou, melhor dizendo, escrava.
Pouco a pouco, o lado mais humano de Schindler vai tomando a dianteira sobre seu lado pior. De explorador, ele se transforma em protetor dos judeus, salvando muitas vidas de pessoas que, se não empregasse, teriam morte certa nos campos de extermínio. Mesmo salvando vidas, continua a ganhar muito, muito dinheiro, mas vai ficando chocado, cada vez mais, com as injustiças que vê seus amigos nazistas praticarem. O lado altruísta, generoso e justiceiro de Schindler vai suplantando, pouco a pouco, o lado empresarial e interesseiro, e já no final da guerra não hesita em sacrificar toda a sua imensa fortuna para salvar cerca de 1100 pessoas, pagando alto preço por elas, uma a uma, numa imensa lista que deu nome ao filme: A Lista de Schindler.
Acaba a Guerra falido, mas foi transformado em herói e reverenciado pelos judeus sobreviventes.
Disse que o filme é filmado quase inteiramente em preto e branco. De fato, há alguns breves momentos de cor, no filme. No início, quando os judeus estão sendo levados para o gueto, numa cena de grande conturbação e violência aparece uma menina de olhar angelical, que caminha sozinha entre as pessoas e parece à procura de algum lugar para se esconder. Ela parece não ser vista por ninguém, pois ninguém mexe com ela. Ela se destaca, no filme, porque seu vestidinho é de cor vermelha. Mais adiante, já quase no final do filme, numa carreta de cadáveres que estão sendo levados para a vala comum, aparece, entre os mortos, o vestidinho vermelho da menina, igualmente destacado. O assistente, é claro, faz relação com a cena anterior e compreende que era a mesma menina.
No fim do filme, há uma cena de um cortejo de judeus envelhecidos, salvos por Schindler, visitando sua sepultura na aldeia natal do benfeitor. A cena se passa, suponho, já nos anos 60. Com grande talento e criatividade, Spielberg apresenta essa cena em cores, não nas cores vivas do nosso cinema atual, mas naquele colorido mortiço da primeira fase do tecnicolor.
Enfim, trata-se de um grande clássico do cinema. 







fotos Cassio Negri

 Fotos da fábrica de Schindler tiradas recentemente na Cracóvia. 
Nela estão expostas as fotos de todas as pessoas salvas por Oskar  Schindler

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