Assisti duas
vezes a esse filme, a primeira vez quando foi colocado nas locadoras e, depois,
para fazer uma análise mais acurada dele. Foi dirigido por Oliver Hirschbiegel,
figurando como Hitler o ator suíço Bruno Ganz e lançado ao público em 1995. Recebeu
várias indicações para o Oscar. É um filme sinistro, pavoroso, faz mal ao
expectador. Mas precisa ser visto e analisado.
Trata-se de uma
recomposição das últimas horas do bunker berlinense de Hitler.
A Guerra já
estava de há muito perdida pela Alemanha (no meu modo de entender, desde 1941,
quando do fracasso da missão Rudolf Hess na Escócia). Os russos já estavam
dentro da cidade, disputando terreno com os últimos focos de resistência dos
alemães. O ambiente psicológico daquela fase é muito bem apresentado no filme.
A loucura paranoica
e o total alheiamento da realidade, por parte de Hitler; os contrastes e
paradoxos de sua "criminal mind", ao mesmo tempo capaz de
manifestações de frieza e crueldade e de momentos episódicos de ternura quase
lírica; o desconcerto dos oficiais de seu estado maior, que viam as loucuras do
Führer, mas achavam-se presos pelo juramento de fidelidade incondicional a ele;
o contraste entre o ambiente de aparente normalidade, das refeições e festinhas
ocorridas no bunker, com as cenas de fim-de-guerra externas; o poder hipnótico
e fanatizante que Hitler exercia sobre as pessoas, levando-as a atitudes
desatinadas; o fanatismo de muitas pessoas que, contra toda a evidência, ainda
criam em Hitler e preferiam morrer com ele a deixá-lo; o oportunismo, a
politicagem e as rivalidades que envolviam pessoas da entourage do líder todo-poderoso - tudo isso fica muito claro no
filme.
É um filme com
enredo pobre; é mais bem um documentário. Mas é um filme a que assistimos com
interesse crescente, sem nos desviarmos um minuto do fio.
A cena mais
impressionante e perturbadora é, sem dúvida, a da Sra. Goebbels matando um a um
seus seis filhos, antes de se suicidar juntamente com o marido. É algo,
realmente, assustador.
O ator suíço
Bruno Ganz, que fez o papel de Hitler, é magistral no seu desempenho.
Mereceria, sem dúvida, um Oscar. O filme foi muito criticado porque, segundo
alguns, mostraria um lado humano e carinhoso de Hitler, o que seria
propagandístico para sua odiada figura. Sinceramente, não julgo procedente essa
crítica. A meu ver, as episódicas cenas de "ternura quase lírica",
como escrevi acima, só realçam, por força do contraste, a monstruosidade
satânica do personagem. Acredito que tenha sido por causa dessas críticas que o
filme não levou o Oscar, a meu ver injustamente.
Repito: é filme
perturbador e sinistro, mas precisa ser visto.
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