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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Caçadores de autógrafos

Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
                                      

Um dos pesos que irremediavelmente carregam as pessoas que conseguem vencer a barreira do anonimato e chegar aos galarins da fama é ter que suportar os caçadores de autógrafos.
São uma praga...  Chegam a constituir um verdadeiro martírio para o grande homem - ou a grande mulher - que deseja preservar um pouco sua privacidade e não gosta de ser reconhecido em público.
Marie Curie (1867–1934), a famosa cientista polonesa que, juntamente com seu marido Pierre Curie, descobriu a radioatividade, detestava os caçadores de autógrafos. Chegava a ser "inimiga íntima" de tal espécie de gente.
Pois um desses colecionadores queria a todo custo ter uma assinatura dela. E imaginou um meio que julgou infalível.
Escreveu a ela uma carta, dizendo que acompanhava com interesse suas atividades científicas, que era grande admirador dela, e que tomava a liberdade de encaminhar uma modesta contribuição para ajudar suas pesquisas, etc. etc.
A carta ia acompanhada de um cheque nominal de um valor que, sem ser muito alto, não era desprezível... Evidentemente, Madame Curie endossaria o cheque e o descontaria. E o emitente do cheque o recuperaria depois no banco, guardando o cobiçado autógrafo.
Entretanto, Madame Curie não caiu na armadilha. Na semana seguinte, o caçador de autógrafos recebeu uma carta muito amável, assinada pela secretária da cientista. Explicava inicialmente que Madame Curie havia recebido a carta, que ficara muito sensibilizada pela generosa oferta, que mandava agradecer penhoradamente, etc. etc.
Depois, em post-scriptum, informava que Madame Curie não iria descontar o cheque, porque era colecionadora de autógrafos e não queria perder a oportunidade de conservar aquele autógrafo de um seu admirador tão simpático e generoso.
O tiro saiu pela culatra, pois...

Já idoso, São João Bosco fez uma viagem à França, e foi recebido com indescritível entusiasmo pelos parisienses. Sua fama era muito grande em toda a Europa, de modo que centenas de pessoas acorreram à casa em que ele estava hospedado, e não queriam deixá–lo em paz enquanto não obtivessem uma lembrança ou uma relíquia dele.
Não era possível atender a todos, obviamente.
Depois de uma longa espera na fila, afinal chegou a vez de uma idosa marquesa, muito conhecida por sua imensa fortuna e por sua ainda maior caridade.
Sentando-se diante de São João Bosco, ela afirmou peremptória:
- Dom Bosco, daqui não saio enquanto o Sr. não me entregar um autógrafo seu, como lembrança.
- Não seja por isso, Senhora Marquesa!
E, tomando uma folha de papel, o santo escreveu:
"Recebi da Sra. Marquesa Dona Fulana de Tal a quantia de mil francos como donativo para as obras de caridade da Arquidiocese de Paris". E assinou.

Quando a marquesa recebeu o autógrafo, sorriu, abriu a bolsa e entregou os mil francos...

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