Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
Objetivamente
falando, entendemos um texto quando somos capazes de reproduzi-lo “ipsis
litteris”, repetindo de memória suas ideias e suas formulações de modo, por
assim dizer, fotográfico. Ou quando o parafraseamos, repetindo suas ideias, não
porém suas formulações; ou seja, quando o recontamos com nossas próprias
palavras, mas respeitando fielmente seu conteúdo.
Esse
entendimento será mais perfeito se não nos limitarmos à repetição do texto, mas
o situarmos dentro do seu contexto e, sobretudo, se “entrarmos dentro da cabeça”
de quem o produziu, de modo a compreender as motivações e intenções do seu
redator.
Até
aqui, ficamos dentro do campo da mera objetividade. Mas, além desse campo, há
também outro, de grande importância, que é o da subjetividade.
Quando
não nos limitamos a analisar e memorizar o texto em si mesmo considerado, ou no
contexto em que ele se situa, ou na ótica do seu autor, mas o reinterpretamos e
nele colocamos algo de nós mesmos, de certa forma nós o recriamos.
Nessa
recriação entra, necessariamente, algo de pessoal, de eminentemente subjetivo.
É forçoso que sejam selecionadas algumas partes do texto que são, ou que nos
parecem mais importantes. É forçoso que acentuemos certas passagens, que
destaquemos sua importância, que as relacionemos com outros fatos que o texto
não referiu, mas que nos parece conveniente aduzir para que o texto adquira
toda a sua importância e para que se realce todo o seu interesse.
A
distinção entre o sentido objetivo e o subjetivo da leitura é mais teórica do que
real; é didática e, a esse título, é útil que a conheçamos e estudemos. Mas, na
prática, é quase sempre impossível a objetividade total, pois é próprio do ser
humano, à medida que reproduz, já ir insensivelmente julgando e acrescentando
uma notinha pessoal sua.
Talvez
uma comparação permita se entender melhor isso. Diante de uma paisagem, podemos
tirar uma fotografia dela. Teremos, assim, uma reprodução sem dúvida objetiva.
Podemos,
também, pintar um quadro a óleo, ou uma aquarela, ou fazer um desenho, em que
procuremos reproduzi-la fielmente, de modo por assim dizer fotográfico, nos
moldes da chamada arte hiper-realista. Por mais que queiramos fazê-lo,
entretanto, jamais se logrará alcançar esse objetivo de modo perfeito, porque
insensível e subconscientemente acabaremos realçando as formas, as cores e os
tons que, subjetivamente, mais nos impressionaram num quadro que, na
sinceridade do nosso espírito, julgamos estar pintando de modo plenamente
objetivo.
E
podemos, também, partir diretamente para uma reinterpretação da paisagem,
permitindo-nos maior liberdade de criação, já num campo inteiramente explícito
e "assumido"; ou podemos partir para uma caricaturização, em que são exagerados
de propósito certos traços para realçar mais aquilo que se quer fazer passar
como realidade.
Tudo
isso é possível fazer ao entender e reproduzir um texto.
Outro
ponto interessante a tratar, com relação à leitura, é o problema da
memorização. Em que medida é indispensável guardar na memória algo para se
poder dizer que houve uma intelecção plena? Em que medida pode-se selecionar e
condicionar a memória, treinando-a para guardar, ou para esquecer determinadas
informações? Como poupar espaço útil do HD cerebral, não o enchendo com
arquivos inúteis que tornam o processamento cerebral mais lento e cansativo, e
portanto menos produtivo?
Deixemos
isso para outro artigo.
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