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sábado, 10 de agosto de 2013

Leitura e entendimento de um texto

Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado

                           
            Objetivamente falando, entendemos um texto quando somos capazes de reproduzi-lo “ipsis litteris”, repetindo de memória suas ideias e suas formulações de modo, por assim dizer, fotográfico. Ou quando o parafraseamos, repetindo suas ideias, não porém suas formulações; ou seja, quando o recontamos com nossas próprias palavras, mas respeitando fielmente seu conteúdo.
            Esse entendimento será mais perfeito se não nos limitarmos à repetição do texto, mas o situarmos dentro do seu contexto e, sobretudo, se “entrarmos dentro da cabeça” de quem o produziu, de modo a compreender as motivações e intenções do seu redator.
            Até aqui, ficamos dentro do campo da mera objetividade. Mas, além desse campo, há também outro, de grande importância, que é o da subjetividade.
            Quando não nos limitamos a analisar e memorizar o texto em si mesmo considerado, ou no contexto em que ele se situa, ou na ótica do seu autor, mas o reinterpretamos e nele colocamos algo de nós mesmos, de certa forma nós o recriamos.
            Nessa recriação entra, necessariamente, algo de pessoal, de eminentemente subjetivo. É forçoso que sejam selecionadas algumas partes do texto que são, ou que nos parecem mais importantes. É forçoso que acentuemos certas passagens, que destaquemos sua importância, que as relacionemos com outros fatos que o texto não referiu, mas que nos parece conveniente aduzir para que o texto adquira toda a sua importância e para que se realce todo o seu interesse.
            A distinção entre o sentido objetivo e o subjetivo da leitura é mais teórica do que real; é didática e, a esse título, é útil que a conheçamos e estudemos. Mas, na prática, é quase sempre impossível a objetividade total, pois é próprio do ser humano, à medida que reproduz, já ir insensivelmente julgando e acrescentando uma notinha pessoal sua.
            Talvez uma comparação permita se entender melhor isso. Diante de uma paisagem, podemos tirar uma fotografia dela. Teremos, assim, uma reprodução sem dúvida objetiva.
            Podemos, também, pintar um quadro a óleo, ou uma aquarela, ou fazer um desenho, em que procuremos reproduzi-la fielmente, de modo por assim dizer fotográfico, nos moldes da chamada arte hiper-realista. Por mais que queiramos fazê-lo, entretanto, jamais se logrará alcançar esse objetivo de modo perfeito, porque insensível e subconscientemente acabaremos realçando as formas, as cores e os tons que, subjetivamente, mais nos impressionaram num quadro que, na sinceridade do nosso espírito, julgamos estar pintando de modo plenamente objetivo.
            E podemos, também, partir diretamente para uma reinterpretação da paisagem, permitindo-nos maior liberdade de criação, já num campo inteiramente explícito e "assumido"; ou podemos partir para uma caricaturização, em que são exagerados de propósito certos traços para realçar mais aquilo que se quer fazer passar como realidade.
            Tudo isso é possível fazer ao entender e reproduzir um texto.
            Outro ponto interessante a tratar, com relação à leitura, é o problema da memorização. Em que medida é indispensável guardar na memória algo para se poder dizer que houve uma intelecção plena? Em que medida pode-se selecionar e condicionar a memória, treinando-a para guardar, ou para esquecer determinadas informações? Como poupar espaço útil do HD cerebral, não o enchendo com arquivos inúteis que tornam o processamento cerebral mais lento e cansativo, e portanto menos produtivo?
            Deixemos isso para outro artigo.


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