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sábado, 4 de janeiro de 2014

É a vida...

 Marisa F. Bueloni
Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade

     É a vida, e é bonita e é bonita. Assim, diz uma canção popular cheia de esperança, onde se canta também que “ninguém quer a morte; só saúde e sorte”.
     Pois é. Contudo, nos deparamos com os imprevistos, os infortúnios, as vicissitudes, as perdas e dores. Assim é a vida. O que importa, em toda situação dolorosa, é nosso espírito bravio, nossa disposição de seguir adiante, passando por cada obstáculo, buscando forças onde forças não havia.
     A vida terá nos reservado uma bela e indescritível fatia, aquela que ainda não vislumbramos, porque é cedo demais. Ou porque teremos de merecê-la.
     Vejo que nossa caminhada neste mundo nos confere algo de muito oportuno e enriquecedor, se soubermos aproveitar cada nova lição. O sofrimento e a dor existem para todos. Para jovens e velhos, ricos e pobres. O imponderável e o inesperado nos aguardam a todos, democraticamente.
     Um dia, embarcamos nesta nave chamada “vida”, construímos algumas certezas hoje, que serão derrubadas amanhã, porque mudamos de pensamento e isso é natural. Conceitos e dogmas que são a base de nossa fé e de nossa crença podem ser imutáveis, mas há pensamentos universais que abraçamos depois de alguma longa e profunda reflexão.
     Penso sempre na infinitude das coisas que duram. E que permanecem conosco por longos anos. Uma xícara predileta para ao chá, um cobertor amado, um casaco de lã, um anel, uma alicate de unha. Mas existem outras espécies de coisas que são infinitas porque nosso coração assim o deseja.
     Há objetos que nos pertencem a tanto tempo, que não sabemos mais viver sem eles. Há verdadeiras preciosidades a nossa volta e, distraídos que somos, perdemos o pôr de sol mais lindo do mundo, a música que toca em algum lugar da nossa alma, a inaudível beleza do silêncio.
     É a vida, em toda a sua rica textura. Sons, gestos, rumor de gente chegando e partindo, tristeza e alegria misturadas à exaustão.
     É a vida, apresentando uma coleção completa de ofertas. Cada um tem suas preferências e junto com estas, algumas certezas. Aquelas, que, mais tarde, acabaremos por questionar.
     Penso que viver ainda é o mais belo exercício. Diz um ditado chinês que “uma caminhada de mil passos começa com o primeiro”. É justamente este primeiro passo o mais difícil, o mais crucial, o que mais exige de nós. Trata-se de uma decisão a tomar e que terá suas consequências.
     Este exercício de decisões inclui algumas derrapadas pelo caminho, porque a vida não é em linha reta. Há curvas perigosas e nem sempre há placas de aviso. Somos pegos de surpresa num declive súbito e não há como frear. Mais à frente, uma montanha a transpor, subida íngreme, dura, penosa.
     Mas é bonita, a danada da vida. Ela nos bate quando quer. Temos de nos defender com as armas que conhecemos. E uma de minhas preferidas é a oração. Quando pressinto a aflição pela frente, começo a rezar. Ou seja, a rezar mais, porque venho rezando sempre.
     Orar faz um bem imenso para o espírito! Ter um pensamento amoroso para o mundo e para todas as pessoas faz da vida algo com mais sentido.


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