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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Impressões ( 1 )

 Acadêmica Myria Machado Botelho
Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella

            Em dezembro, um tempo que termina para dar lugar a um novo ano, as expectativas, os sonhos e as esperanças parecem aflorar mais insistentes,estimulados com certeza pela doçura das festas do Natal. Embora o comércio, a Mídia, os atropelos e as inversões ofusquem, em parte, a beleza dessa simplicidade contida num Nascimento de tanto significado para o mundo, algo maior se impõe e prevalece, e sabemos bem que esta força não será derrotada.
            Para um grande número de viventes, a sensibilidade é maior, ao lado do desejo ou da intenção de sermos melhores, de marcar com algum gesto e de alguma forma o bem de transmitir ao outro o nosso amor, a nossa ternura.
            Já foram muitos e incontáveis os dezembros de minha vida, os natais, seguidos dos “réveillons”, desde quando, ainda pequenina, eu não entendia bem o significado daquelas reuniões festivas em que a família se reunia em torno de nossos pais, quando nem se imaginava o transitório e as perdas. Nestas reuniões simples, aprendi a valorizar os laços familiares que, mais tarde, eu repetiria junto de uma nova geração, a minha geração que se iniciava em outro lugar e outras circunstâncias, com o nascimento de meus quatro filhos. No princípio, um arbusto que se desenvolveu até se transformar numa árvore frondosa e forte, enraizada em terra firme, e de cujos galhos já pendem os frutos de mais duas gerações, a dos netos e dos bisnetos. Quanto esforço foi necessário nessa transformação de tantas décadas, pontilhadas de certezas e de incertezas, de fracassos e de vitórias, de decepções e de alegrias, de sofrimentos, de conquistas e de perdas! Perdas dolorosas e quase insuportáveis, que só a esperança legada por Aquele que venceu a morte e venceu o mundo logrou amparar e fortalecer.
            Com o passar dos anos, as impressões se vão transformando em algo doce e suave, acentuando-se nas coisas mais simples e naturais. Os olhares, os ouvidos, a percepção se voltam para uma essencialidade mais pura, talvez uma compensação dispensada pelo Criador àqueles que O amam e sabem distinguir os prodígios e as belezas incomparáveis e inimitáveis de Sua criação portentosa. Como a criança descobrindo o mundo e as coisas que a cercam, nossos sentidos se voltam para este mundo que tantos sentidos embaçados não conseguem admirar.
Vemos com novos olhos e o coração cantando o céu e as nuvens em suas mutações de formatos e de coloridos, emoldurando montanhas sinuosas; as aves em bandos em busca deste céu e do infinito; a vegetação e suas nuances de verde em ondulações caprichosas, tocadas pela aragem e o vento farfalhante, ora silenciosa e recolhida como numa prece,ora vibrante como um canto de glória; as flores, pequeninas e escondidas,ou perfumadas e abertas, ofertando seu néctar às borboletas e aos pássaros em revoadas, gorjeando e entoando hinos  de alegria, levando o alimento para seus filhotes de biquinhos abertos nos ninhos feitos sob os arbustos e as jardineiras em flor..  
            Mas a impressão mais forte, terna e marcante deste último dezembro me foi dada pelas crianças, os meus pequeninos desabrochando para a vida, ensinando-me neste eterno caminhar a surpreendente aventura de viver. Para mim, é sempre a criança, a grande mestra da simplicidade, da alegria e da esperança.

.Em meio ao cenário, descrito imperfeitamente acima,meu bisneto Antonio é o rei deste paraíso, ao lado de um cãozinho especial. .Meigo e amigo de todas as crianças, inteligente, educado, gracioso, sapeca e imprevisível nos brinquedos, porém super obediente ao dono e comportado quando necessário, Jack tornou-se  o guarda voluntário de Antonio. Do seu lado, sob o berço ou o carrinho, ele acompanha toda a movimentação em torno do bebê e reage com desagrado ao choro de seu companheirinho, erguendo a cabeça e as orelhas num gesto de alerta, como a pedir uma providência.E a cena mais bela que me foi dada  assistir aconteceu á beira da piscina, quando, pela primeira vez, Antonio  foi colocado ao lado  de seu super amigo. Estabeleceu-se, de pronto, uma empatia digna de registro, em que Jack submeteu-se a uma verdadeira prova. A expressão feliz da criança e a docilidade do cão ante as investidas dos pés e das mãozinhas gorduchas do nenê, introduzidas até na boca do cão que as lambia como um afago, gravou-se em minhas retinas. O cão e o menino- a imagem perfeita do amor incondicional!...


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