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domingo, 30 de março de 2014

A Poeta Adélia Prado no “Roda Viva”

 Acadêmica Myria Machado Botelho
Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella
  
            Não foi bem uma entrevista, mas uma conversa, como salientou  Augusto Nunes, o condutor do programa “Roda Viva”, nesta última segunda feira, dia 24, durante a apresentação da poeta  Adélia Prado, pela TV Cultura .No relativo pouco tempo que o competente  jornalista  vem comandando um dos mais interessantes programas da TV, trazendo  para o interior de nossos lares um pouco da vida, do conhecimento e da experiência  de nomes famosos no campo da cultura, da economia, das artes e da política (ou  alvos da contradição e do julgamento popular), esta programação se distingue, em meio à mediocridade  reinante de nossa Mídia, com raras exceções.
 Uma conversa, sim , saborosa, rica e imprevisível com a autora de tantos títulos em prosa e verso, foi o que assistimos, magnetizados espectadores, entre a autora e os entrevistadores(as), capazes e sensíveis, juntamente com o notável chargista   e cartunista Paulo Caruso, eles(as) próprios encantados com a simplicidade e a franqueza da grande mulher. Ela própria, a personagem central de uma obra que já está inscrita na verdadeira literatura brasileira. Sem modismos, sem retoques, num estilo claro e direto na forma e na sintaxe,  livre dos obscurantismos e dos hermetismos tão em moda  na poesia e na prosa de pseudos escritores atuais, os temas cotidianos, aparentemente corriqueiros, com os quais o leitor se identifica facilmente, destacam-se pelo talento e pela graça, aliados a um original ineditismo na arte da boa escrita, num enfoque em que esta simplicidade se transforma em profundidade.
Adélia diz e escreve o que gostaríamos de ouvir e de escrever.Com precisão e objetividade ela  contou um pouco de sua infância na cidade mineira de Divinópolis, da vida familiar, do pai, seu incentivador indireto que se apaixonava pelos textos de livros, ao ponto de  lê-los em alta voz andando pela casa; da escola e dos primeiros escritos, composições e quadrinhas que já delineavam seu futuro;  do encontro emblemático com Clarice Lispector e Drummond  com os quais se correspondia e que, de certa forma, definiriam sua vocação.Falou também de suas leituras e da profunda identidade que sente com os escritores russos, sem deixar contudo de mencionar o execrável Putin,  ora em foco com a anexação da Criméia.
A escritora, entre vários assuntos, como o momento crucial que vivemos na política, a vassalagem e o apoio aos regimes totalitários de Cuba e Venezuela, a Copa, a Petrobrás e os desmandos dos corruptos, a ausência de lideranças e de uma oposição pra valer e, mais lamentável, o silêncio e a passividade, uma quase anuência dos intelectuais brasileiros que não se manifestam contra uma situação quase insustentável.
A pedidos dos entrevistadores, ela declamou com expressão, dois belíssimos poemas de seu último livro, Miserere, de forte conotação mística.Uma observação suscitada por Augusto Nunes, a respeito de suas crônicas, muitas delas  quase poemas,  quando Adélia disse, com ~ênfase , que prosa é prosa, e poesia é poesia”,  levou-me a concordar com o apresentador. Meu professor de literatura  afirmava sempre  que a prosa , para ser bela, deve ser musical  para os ouvidos, o que, realmente se encontra nos textos da poeta.

Muito se poderia dizer de  Adélia Prado, cuja sensibilidade e talento , a situam entre os grandes escritores brasileiros e que, ao terminar sua prosa, bem mineira, deixou em todos aquela sensação  de bem estar e de fé no ser humano, como aquela música  que se lamenta quando termina...

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