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quinta-feira, 6 de março de 2014

Balanços


André Bueno Oliveira
Cadeira n° 14 - Patrona: Branca Motta de Toledo Sachs

Linda mangueira de infância!
Nascida em zona rural,
– na colônia da Fazenda –
compartilhava comigo
um saudoso caipirismo
de uma vida campesina.

Além de mangas maduras,
me dava um rude balanço
feito em cordas de sisal.
Com a aragem moderada,
seu perfume, na florada,
atraía beija-flores,
bem como orquestra de abelhas
e o matiz das borboletas.

A mangueira envelheceu...
Quando morta, foi cortada!
A colônia demolida,
deu lugar aos canaviais!

Hoje vivo na cidade,
numa casa pequenina,
com quintal menor ainda,
onde tenho um pé de fruta
de sabor bem agridoce...
Se assemelha, sim, à manga, (?)
tão somente pela rima.

Minha linda pitangueira
 que sombreia meu quintal,
oferta rubras pitangas
aos sabiás, bem-te-vis,
aos sanhaços, aos puvis,
e traz de volta as abelhas,
as mesmas de minha infância,
que orquestravam sinfonias,
com o aval das borboletas,
sob o olhar dos colibris.

Só não traz o meu balanço,
aquele em corda-sisal
que ainda embala saudades.

Mas...o destino sapeca
que sutilmente ironiza,
se não resolve, contorna.
Ganhei no “bingo da Igreja”
uma prenda benfazeja,
que estimula meu astral:
um balanço de madeira,
muito chique, por sinal,
feito em cedro e cerejeira.
Uma pomposa cadeira:
a Cadeira de Balanço!

Debaixo da pitangueira,
balançando na cadeira
com pensamento na infância,
mentalizo outro Balanço:
checando Ativo e Passivo,
ceifando Lucros e Perdas,
tenho um Saldo Positivo.

Olhos fechados, eu vejo,
que apesar do velho corpo
já cansado e sem pujança,
meu espírito é criança.




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