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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Flerte

Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33
Patrono: Fernando Ferraz de Arruda

                         
A noite, bêbada de luz,
vomita estrelas.
E respingos prateados
chovem sobre o jardim.

Flores se abrem
e o ar
de perfume se incensa

Senhora da noite,
                                                      a lua cheia no céu  suspensa,
                                                          soberana, malvada,
brinca de seduzir o sol...


quarta-feira, 16 de abril de 2014

TROVA

Leda Coletti- Cadeira no 36
Cadeira n° 36 - Patrona: Olívia Bianco


A justiça clama aos céus
quando há violência, opressão,
e os justos tornam-se réus
de algozes sem coração.


sábado, 12 de abril de 2014

CONSTATAÇÃO

Elda Nympha Cobra Silveira
Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior  


No silencio, a noite escureceu
Sem fazer ruído e, as sombras
Caminhando vieram do jardim.
Cansadas desvaneceram na penumbra
Entre os móveis escuros como breu.

O vento trouxe perfumes
Impregnando de odores a solidão.
No vazio de presenças,
Onde só a morte trazia a lume,
O tempo se esvaía em lentidão.

Recostado na poltrona,
Mitigando suas carências,
Ele aceitava toda a amargura.

Não foi amado,
Não soube amar,
Viveu em vão...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Convivendo com a rotina

Leda Coletti- Cadeira no 36
Cadeira n° 36 - Patrona: Olívia Bianco


                                                                       Leda Coletti

Estamos precisando mudar nossa rotina. Ela abrange desde os mais simples hábitos diários, até aqueles de aspectos mais profundos de nossa personalidade.
Os primeiros parecem ser os mais difíceis para serem quebrados, desde que a eles estamos condicionados culturalmente: levantar no mesmo horário para o trabalho, executar tarefas diárias próprias das funções exercidas.
Já os segundos, como não são muito frequentes ficam mais propensos à diversidade de ações. Por exemplo, quando viajamos, saímos do horário convencional, nos desligamos do relógio e por alguns dias seguimos mais a rotina dos moradores dos locais visitados. Quem já viveu essas situações, sabe o quanto é bom viver novas experiências.  Elas nos ajudam a desligar um pouco do cotidiano e contribuem para nosso bem-estar tanto pessoal como social.
Mas, também aquelas tidas como rotineiras, podemos alterá-las reinventando-as ou simplesmente colocando pequenas modificações, usando a criatividade. Por exemplo, se vamos ao trabalho, mudemos o trajeto das ruas, pois elas nos permitirão conhecer ou rever novas paisagens, residências diferentes, casas comerciais.  Se estivermos  em casa, podemos modificar atividades na cozinha, preparando um prato novo, seguindo receitas de outros, ou reinventando as triviais; na sala e outros ambientes, deslocar os móveis e enfeites para outros pontos dos cômodos, permitem novos visuais.
Para nós que gostamos de ler e escrever são incontáveis as atividades que nos auxiliam a evitar que a rotina se torne árida. Algumas: ler ora livros de poesias, partindo para a escrita das mesmas com versos livres, rimados, metrificados. No caso da prosa, além da leitura de romances, crônicas, contos, artigos, tentar redigir algo novo; também muitas vezes procurar figuras para ilustrá-los, nas revistas, computador e outros materiais alusivos.
Aos que buscam alternativas para encontrar meios para não sentir tédio e sim prazer, são muitos os recursos à disposição. Desse modo dificilmente a rotina se faz enfadonha. Ao contrário ela se torna oportunidade para o nosso desenvolvimento e enriquecimento pessoais. 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Benquerenças

 Marisa F. Bueloni
Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade
Quero o sabor da infância, a bolsa de couro, novinha, do antigo primário, com um cheiro que impregnava a alma e os sentidos. Quero uma lancheira com alça de cruzar no peito e um bolo de fubá feito pelas mãos da minha mãe.
Quero de volta a inocência da vida. Aquela que todos perdemos, um dia, quando se descobre a verdade. E aí, não tem mais volta. É preciso dignidade no contato com o assombro, e foi de rasgar a alma, não foi?
Quero ter um dia na semana para ficar letargicamente deitada ao sol. Como um lagarto, espreguiçar-me no espaço solar da minha casa terrena. Que a pátria celestial espere um pouco, pode ser? Tem um montão assim de coisa que eu ainda preciso fazer.
Quero agradecer a Deus pelos amigos que Ele me deu. São muitos, cara. São centenas e centenas. Coisa mais linda. Nunca pensei ter tantos amigos assim. São bons como um pão feito em casa. Cheiram a pêssego maduro, a jasmim. Têm a doçura da cana de Piracicaba. A gente precisa e eles estão lá, prontos para uma palavra, um carinho, uma força.
Quero ver você, pelo amor de Deus! Mostre-me seu rosto, mande uma foto. Precisamos nos conhecer. Esta tal de internet é uma coisa ótima, mas nossa amizade precisa de laços mais consistentes. Qual a cor dos seus olhos? E que perfume você usa? Seu prato preferido? Essas coisas. Dê notícias sempre, não vire sabão.
Quero esperar o inesperado. O segundo sol, a terceira margem, a sétima estrela. Quero ver de perto a beleza. Vou me extasiar à sua chegada e será arrebatador. Espio devagarzinho, fecho um olho, tapo a vista, faço de conta que ela não chegou. E pergunto: posso olhar? Não, ainda não.
     Quero cantar uma canção sob as estrelas e pegar num raio de luar. Depois chorar. Preciso chorar. Meu peito está trespassado de dor, de saudade, de esperança! Vinde, arauto da paixão. Algo novo rumina dentro da minha alma e não sei o que é. Se soubesse vos diria. Mas não sei.
Quero ganhar, assim, de graça, sem pedir nem insinuar, um buquê de rosas vermelhas, destes que se manda quando se quer muito bem uma pessoa. Rosas vermelhas. Como resistir, meu Deus? E que venha com um cartão indecifrável.
Quero ler um livro onde haja uma história de amor,  esse dono das nossas almas e que canta ao nosso redor. Quero ler até cansar e depois dormir o sono dos séculos. Acordar plena e com o coração batendo a alegria de viver.
Quero a plenitude dos momentos inexatos. Aquele onde tudo falta e, no entanto, tudo preenche. Você não entendeu. E não é para entender mesmo. Não se preocupe.
     Quero que este texto sem pretensão nenhuma leve a cada coração o meu coração. Que a vida pegue leve conosco. Que as dores sejam suportáveis, nada que um Advil não resolva. Nenhuma cirurgia à vista, por favor. Nem para mim, nem para os que me leem neste momento.
Quero dizer o que ainda não disse. O que fica lá, no substrato de todas as coisas. E em algumas delas, resiste, forte e infinito, belo como nunca, algo chamado amor.

terça-feira, 1 de abril de 2014

SER OU ESTAR

Elda Nympha Cobra Silveira
Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior  


Quero estar num estado
Permanente de criação.
O cotidiano me explora,
Retira de mim as horas,
De poder sonhar...

Quero escrever frases eternas
Que transcendam minha matéria.
Preciso soltar meus devaneios...
A alma intrínseca em mim
Está enclausurada!

Venho de longínquas eras
Venho de outras esferas...
Já fui muitos antes de mim.
Mas estou aqui, enfim!