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segunda-feira, 28 de julho de 2014

A VIDA EM SEQUÊNCIA

Elda Nympha Cobra Silveira
Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior  

Durante a juventude, tão passageira, muitos sonhos ficam sublimados, porque nem sempre se consegue realizar o que se almeja. Depois do casamento vem o sonho da casa própria, bem decorada, com jardim, cujas dimensões dependem da condição econômica de cada um. Sonhar ansiosamente com filhos, e quando eles nascem desejar que cresçam logo porque, longe de trazerem somente alegrias, trazem também bastante trabalho e preocupação, que passam para um patamar mais externo.
Mesmo com a violência que nos assusta, e os perigos na sociedade moderna, os jovens não param em casa, pois estão preocupados em frequentar as baladas com os amigos, namorar, beber e se divertir, enquanto resta aos pais ansiosos as noites mal-dormidas, ligações para celular, que nem sempre são atendidas, e o incômodo de vê-los chegar sempre com o sol alto para dormirem até duas horas da tarde!
De repente, os pais descobrem sua verdadeira incompetência, quando não conseguem acompanhar os estudos, os modismos, nem o linguajar dos rackers que têm em casa, especialistas em computadores, que pensam numa velocidade tão alta que ter um bom diálogo com eles torna-se impossível, afinal, quem disse que eles têm tempo, ou estão interessados nisso? Resta aos pais chorosos, despedirem-se deles na noite do domingo, quando, às pressas, voltam para suas faculdades, às vezes, em cidades distantes, ou em outro país.
Certo dia, sem que os pais se deem conta, acabam os telefonemas, as noites mal-dormidas, as malas de roupa suja para lavar, a saudade constante por causa da ausência repetida, e eles casam e vão viver suas vidas. Assim, aquele tempo que os pais sonhavam ter somente para si está disponível, mas num dia-a-dia misturado com a solidão, com um gostinho de monotonia e abandono, e aquela certeza de que a família está se desintegrando pouco a pouco.
A vida segue a sua sequencia, vagarosamente, e por um espaço de tempo muito curto, os velhos pais curtem o tempo que lhes sobra exercitando a sua individualidade, cultivando as coisas do intelecto e do espírito e a prática de esportes. Longe daquele trabalho diário de doação, longe dos deveres paternos, que eles nem percebem que jamais foram atingidos, voltam-se para o convívio dos amigos, para a leitura e para cultivar as artes, viajar, e realizar tudo aquilo que tinha sido apenas sonho sublimado da juventude.

Os netos, possivelmente, irão preencher e alegrar seus corações, mas eles terão a certeza de que, apesar de tudo, saberão usar o tempo dilatado, à sua disposição, que afinal, foi tão esperado, em seu próprio proveito! Cada fase da vida traz muitos problemas, dissabores e complicações, mas todas elas têm sua dose de felicidade. Chegou a vez de eles usarem e dispor desta felicidade!

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