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sábado, 2 de agosto de 2014

AS VOVÓS

 Acadêmica Myria Machado Botelho
Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella

              26 de julho, dia de São Joaquim e Santana, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus, quase passa despercebido como o dia dos avós, configurando uma injustiça.
            Sou vovó de oito netos, sete bisnetos e mais uma a caminho, e creio poder dizer que todos eles conviveram e convivem comigo desde que nasceram e não são poucas as doces lembranças desse convívio quando, em alguns, troquei as primeiras fraldas e dei os primeiros banhos. Embalei-os no aconchego do colo, da cadeira de balanço, dos cafunés e das canções de ninar. Havia um tempo para as histórias reais e imaginárias que até hoje repito e acrescento para os mais novos; inicia-se ali um aprendizado no mundo da imaginação e da fantasia, alicerce do sonho tão necessário na difícil batalha da vida. A expressão nova e bela de olhos atentos e ouvidos prontos, junto de tantas manifestações e porquês, se repete e caminha no tempo, sempre a determinar outras fases, outros objetivos, outras circunstâncias. É o mundo que se abre diante deles para descortinar a beleza das descobertas e dos encantos da vida. O que, hoje, infelizmente, não acontece para muitos pequeninos que, depois de crescidos não conheceram as delícias desse aconchego.
            Vivendo e participando de sonhos e conquistas, fracassos e vitorias, decepções e alegrias, respeitando seus espaços ou interferindo às vezes, brinquei, corri, dancei, cantei, me diverti e chorei com eles. Até hoje, ainda canto, danço e me escondo com minha neta caçula e a nova geração dos bisnetos, procurando sempre fazer presença nos momentos importantes de uma caminhada que não cessou e não cessará enquanto eu viver e tiver forças para estar ao lado deles . Não somente contribuo e aconselho, como também aprendo e muito; não  somente escuto, como também extravaso minhas dúvidas e dores, e ouço sugestões e críticas. Devo dizer, com certeza, que meus netos e minha família constituem uma das razões principais de minha vida.
            Sem falar do lado triste do abandono e das carências do afeto e do necessário acompanhamento, as crianças de hoje são vítimas das intromissões nefastas do mundo dos adultos, da terceirização, dos conceitos estúpidos que substituem os sentimentos verdadeiros e simples, sobretudo a tecnologia dos aparelhos e dos robôs que ameaça inclusive a substituição humana. Não vai tardar muito o tempo das babás eletrônicas mais eficientes, aliás já temos algumas como a TV e os celulares.

            Um grande número de pseudoeducadores, ideológicos de teorias que nunca conviveram com crianças, e políticos desinformados que proliferam como pragas, em vez de se deterem nos problemas que realmente afetam os pequenos propõem certas aberrações “politicamente corretas” que só trazem confusão e prejudicam, criando, isto sim, o preconceito e o estigma, tais como alterações em histórias e cânticos  milenares, incluídas as deliciosas histórias de Monteiro Lobato,   que tanto coloriu e fez sonhar o mundo infantil. A  última dessas aberrações  é a lei das palmadas que concede aos pequenos mais uma liberdade a seus desregramentos. Sou do tempo muito saudável da liberdade que impunha deveres e obrigações comportamentais, limites que educam e formam o caráter e a dignidade; algumas vezes, as palmadas necessárias, ajudaram-me bastante sem causarem traumas. Acredito que muitas vovós  se identificam comigo e, como eu, elevam a Deus uma ação de graças pela vida  e o convívio tão belo e enriquecedor que nos é dado.

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