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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Comunicado da REITORIA

Prezados Acadêmicos:
 
Informo, a pedido do Senhor Presidente da Academia, Professor Gustavo J.D. Alvim, que está sendo planejado para o dia 11 de março de 2016, 19h30, sexta-feira, no Centro Cultural Martha Watts, uma reunião para os Acadêmicos.
 
A pauta da reunião será:
 
1) Lançamento da 12ª Revista;
2) Revisão do Estatuto da Academia;
3) Avaliação dos candidatos inscritos para as vacâncias da Academia;
4) Outros Assuntos.
 
Sua presença é muito relevante para o sucesso da reunião
 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A boneca italiana



 Valdiza Maria Caprânico 
Cadeira n° 4 - Patrono: Haldumont Nobre Ferraz 

              Esta é uma história diferente. Talvez pelo inusitado da situação, hoje é motivo de muitas risadas ao ser lembrada. Mas foi um fato que marcou muito minha infância.
            Sempre gostei muito de bonecas. Aliás, até hoje, encanto-me muito mais com bonecas expostas em lojas de brinquedos, vitrines, do que com joias.
            Mais ou menos aos meus seis anos de idade, meu pai me comprou um número de uma rifa de uma boneca italiana, numa daquelas grandiosas festas juninas, que o Colégio Dom Bosco, recém instalado em Piracicaba, oferecia todos os anos. Aliás, eram festas muito lindas, que mobilizavam a cidade toda e que, sem dúvida, deixaram muita saudade.
            Para minha surpresa e alegria, fui a ganhadora da famosa boneca italiana – que os padres do Colégio, todos ou quase todos italianos, tinham trazido da Itália para ser rifada nessa festa,
            Foi um grande tumulto: todo mundo queria ver a boneca e sua ganhadora. Aí, ao saber do fato, meu pai foi me buscar em casa para receber, dos padres, a famosa boneca.
            Com grande espanto, em meio a todas as emoções que uma criança sente ao receber um prêmio, numa grande festa, levei o maior susto: a boneca linda e sorridente – era maior que eu! Claro que quem a levou para casa, dentro de sua enorme caixa foi o meu pai!...
            E, quando a colocou sobre a mesa da sala de jantar, na caixa, ela parecia tudo – menos uma boneca... parecia-me uma menininha morta, dentro de seu caixãozinho...
            Bem, não é preciso dizer que, passado o espanto, o medo se apossou de mim...
            Como poderia eu carregar, embalar uma boneca tão grande?! E, ela era linda – muito linda mesmo... Andava, virava a cabeça para todos os lados, piscava ao caminhar e sentava. Acredito mesmo, que na época, eu era a única menina da cidade que possuía uma boneca daquelas... Só que como ela era maior do que eu, não podia carregá-la... . Coube a uma das minhas irmãs mais velhas que eu, já com seus dez, onze anos, carregá-la para mim, quando eu queria passear com ela... . Minha irmã mais nova, então, só conseguia segurar em suas mãozinhas, de frente, para fazê-la andar...
            Bem, passada a fase de “conhecimento” meu com ela, fui perdendo o medo. Mas não a quis nunca em meu quarto. Ela ficava sentada num banquinho, ou em pé, no quarto dos meus pais... E, quando eu acordava pela manhã, ia devagarzinho espiar a italianinha (como meu pai a chamava) no quarto deles: lá estava ela, linda, sorridente, com aqueles grandes olhos esverdeados, olhando para mim... como a me pedir um carinho, um abraço... . Mas, era difícil eu chegar muito perto dela... . Até seu nome – Heidi – demorei para escolher...
            Mas lembro-me de alguns fatos que marcaram minha infância, ligados a essa boneca.
            Um deles, é que meu pai, talvez por eu ser muito clara, miudinha, e com olhos verdes, como os da família dele, - me apelidou de “italianinha” – e quando chegou a boneca – “outra italianinha”, talvez eu tenha me sentido ameaçada, enciumada – coisas de criança, enfim...
            Outro fato curioso é que – quando eu me reunia com minhas priminhas ou amiguinhas para brincar juntávamos nossas bonecas e brinquedos – mas sempre com a seguinte condição delas: “a bonecona não!” Claro que eu conclui que elas também tinham medo dela!
            E, para assinalar o destino da famosa boneca italiana, um último fato marcou minha ligação com ela:
     Fui, uma tarde com uma de minhas irmãs mais velha a casa de meus avós maternos – como de costume, e, como o “noninho”, como o chamávamos, estava acamado, muito doente, resolvi levar a boneca, italiana como ele, para alegrá-lo. Como sempre, foi minha irmã carregando a boneca pelas ruas, algumas quadras, de nossa casa até a casa de nossos avós.
            Pois bem, ao entrarmos na casa deles, minha “noninha” se encantou com a boneca. E eu, para alegrar o noninho, quis entrar em seu quarto, dando as mãos para a “bonecona”. Mas, na mesma hora, o noninho chamou sua mulher e perguntou a ela quem era aquela menina com as netas dele. Em vão o “noninha” tentou explicar a ele que ela era uma boneca italiana que eu havia ganho numa rifa do Colégio Dom Bosco – ali perto de onde eles e nós morávamos. Lembro-me, até hoje, ele, na cama, com aquele “português-italianado” (ou italiano aportuguesado?) dizendo alto: – “non gosto de questa minina”...
            Bem, para mim, foi o último passeio com a boneca...          
            Desse dia em diante, a pobre e linda boneca ficou, definitivamente, no quarto de meus pais... . Quando cresci o suficiente para carregá-la, eu já era grande demais para brincar com bonecas... . Aí, já adolescente, vestia-a com meus vestidos menores. Minha mãe chegou até a receber uma proposta para vendê-la a uma loja de roupas infantis, para ser usada como modelo em suas vitrines. Mas, eu, com dó dela não quis.
            Alguns anos depois, eu, já jovenzinha, preparando-me para ingressar na faculdade, resolvi doá-la, com outras bonecas que eu tinha a um orfanato feminino de nossa cidade.
            Hoje, muitas décadas depois, ao me lembrar dessa boneca, fico pensando o quanto um inusitado presente pode marcar vida de uma criança...
            E, com dó e remorso por não tê-la deixado um único dia em meu quarto, junto das outras bonecas e brinquedos meus, decidi eternizá-la nessa história real.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Monólogo para Enamorados

Antonio Carlos Fusatto
Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda


A chuva fina tamborilava no capô do carro, que rodava calmamente pela estrada escura e sinuosa, a seu lado ela falava, ora assuntos amenos, ora coisas interessantes, as quais, nas entrelinhas ele também fazia alguns comentários, muito embora seus pensamentos vagassem, criando uma miscelânia de fantasias.
Mas, cada vez que ele a olhava, tinha vontade de gritar ao mundo tudo que por ela sentia; várias vezes mordeu os lábios para não dizer-lhe: te amo!
Quando se despediram, não pode conter o desejo de saciar sua sede naqueles lábios, mas que decepção!..., não fora um ladrão astuto e corajoso o suficiente, para roubar-lhe o beijo tão desejado, afinal seria apenas um beijo!
A porta foi fechada, logo, ele estava completamente só.
– Ele e a chuva;
– Ambos e a solidão.
– Não pensar em nada, esquecer de tudo... fugir de tudo... mas como? Se uma dor sinestésica dilacera-lhe a alma?
– Ah!... não queria desejar esse amor, afinal tudo estava tão bem..., gemeu como um animal ferido; solteiro, uma vida livre, por quê? logo eu? pensava, e justamente ela?...
– Frente a frente com estas lembranças, sorri debilmente e volta a pensar...
– Pensar novamente na noite passada, outra noite, na mesma hora, quando a viu pela vez primeira, namorando com seu amigo, quando descobriu que os sentimentos por ela já não eram mais uma simples amizade.
Agora, na quietude escura do seu quarto, que as luzes da noite maculam com sua claridade, está só. Lá fora, além da janela, o vento sopra e a chuva continua...
– E ele pensa.
– Como sempre, pensa nela, sente a fragrância do perfume que ela usava.
– Já não quer esquecê-la, ama-a perdidamente, cada vez mais, a cada momento quer estar a seu lado, como se fosse o único. Mas... a realidade é outra; e as últimas luzes se apagam na avenida, pois amanhece, para tudo outra vez...

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Carnaval na alma

Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33
Patrono: Fernando Ferraz de Arruda


Confetes de serotonina
 chuviscam no coração
Aflorando o riso fácil,
 a euforia que alucina

Pena que tudo é passageiro
e a quarta cinzenta
não tarda,
passa tudo bem ligeiro
refreando os ânimos
murchando o viço,
apagando as cores

Quem dera
fosse sempre carnaval na alma,
serpentinas de alegria,
explosões de felicidade
em confetes mil,
uma eterna folia!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A ETERNA PALHAÇADA


                               Lino Vitti Cadeira n° 37 - Patrono: Sebastião Ferraz                                      


Há uma igualdade atroz que concatena
Minha vida a essa vida do palhaço
Dando saltos de morte numa arena,
Girando em cambalhotas pelo espaço.

Ganha aplausos; é o ídolo da cena;
Não se deixa abater pelo cansaço.
Gargalha e chora, misturando a pena
Ao prazer, num só calix - como eu faço.

Eu faço assim, e, assim faz todo o bardo.
Há de seu um palhaço infelizardo,
Um títere a pular numa platéia.

Dançar na corda azul da fantasia,
Pendurar-se ao trapézio da poesia,
E, dar saltos mortais com sua ideia.