Páginas

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

“Vou-me embora pra Pasárgada!” *


Ivana Maria França de Negri

            Os versos de Manuel Bandeira foram a inspiração desta crônica. Mas...onde fica Pasárgada? Existe mesmo esse lugar? Dizem que era uma antiga cidade da Pérsia, mas não existe mais. Restou apenas um sítio arqueológico e a metáfora de um local fantasioso, onde reinaria a felicidade plena. Em alguma fase da vida todos temos esse desejo de evasão, quando o mundo se apresenta cruel demais e queremos fugir da realidade e viajar para o mundo das ilusões.
Final de um ano, início de outro, ciclos que terminam, recomeços, e todos ficamos mais reflexivos, questionamos nossa existência e contabilizamos as conquistas e as perdas.
Sonhamos com um paraíso onde não há sofrimento, nem dor, que nos acena promessas de felicidade. Mas só poetas e crianças conseguem vislumbrá-lo em algum momento de suas vidas. Esse éden pode existir em outras dimensões inimaginadas.
“Além do horizonte existe um lugar, bonito e tranquilo pra gente se amar” diz a letra da música. E reza a lenda que no final do arco-íris tem uma ponte que liga a terra ao céu... Muitos tentam localizar o paraíso perdido, o Jardim do Éden descrito na bíblia. Talvez alguns até descubram o portal que se abre para esse Eldorado, mas se o encontram, não contam para ninguém, pois não querem ser chamados de loucos. A maioria dos pobres mortais, apenas o visitam em sonhos, quando estão nos braços do deus Morfeu, entre a vigília e o sono. E quando despertam, ficam com aquele sentimento de angústia, de nostalgia, de querer voltar, mas não sabem como chegar até lá, a não ser em sonhos mesmo.
No conto de Peter Pan, o menino que se recusava a crescer e virar adulto, existia uma ilha denominada Terra do Nunca, um lugar mágico e de localização indefinível. Talvez só exista no imaginário das crianças e dos adultos com alma de criança. Lá os meninos perdidos vivem aventuras sem fim, com piratas, índios, fadas, muitas descobertas,  surpresas e emoções. Emoções essas que só podem ser sentidas e não compreendidas.
E a gente conclui que tudo nesta vida tem que ter uma certa dose de fantasia. Existe o mundo real e o surreal. E às vezes, viver o real é bem doloroso. Por isso é bom sonhar!
Alice, a do país das maravilhas, em seu universo não menos mágico, pergunta ao coelho branco: “Quanto tempo dura o eterno? E ele responde para Alice: “às vezes, apenas um segundo...”
O Pequeno Príncipe, outro personagem intrigante e enigmático, traduz em sábias palavras o que é preciso para entrar nesse mundo onírico: “o essencial é invisível aos olhos e só se pode ver bem com os olhos do coração.”

Termino meu texto com Bandeira, tal como o iniciei: “Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, em Pasárgada tem tudo, é outra civilização! Lá a existência é uma aventura! E quando eu estiver mais triste, mais triste de não ter jeito, quando de noite me der, vontade de me matar, vou-me embora pra Pasárgada, aqui eu não sou feliz...”

* Texto publicado na GAZETA de PIRACICABA - 9 de Janeiro 2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário