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quarta-feira, 25 de abril de 2018

Resiliência



Ivana Maria França de Negri

            Resiliência é a capacidade de enfrentar as piores situações, lidar com elas, e adaptar-se às mudanças que se seguem. Resiliência é perseverança, superação, é o popular “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
            Ser otimista ajuda bastante, e manter acesa a chama da esperança é fundamental.
Resiliência é a habilidade de se manter sereno diante de uma situação estressante, ter autocontrole, não se desesperar. Falar sobre resiliência parece fácil, mas vivenciar é outra coisa.
            Lembro-me de um desenho animado onde os personagens principais eram um leão otimista e uma hiena pessimista e depressiva. Eram amigos, mas completamente opostos um do outro. Enquanto o leão via a beleza e sentia o perfume das flores, a hiena só enxergava os espinhos. A hiena vivia a dizer: “Eu sei que não vai dar certo... Oh, dia, oh, céus, oh, azar..., eu sei que não sairemos vivos daqui”...E o leão: “Calma, no final,  tudo vai dar certo!”
            Quando vemos certas pessoas passarem por traumas, tragédias, catástrofes, logo pensamos: “se fosse eu, não suportaria”. Só que quando um evento traumático acontece com a gente, não temos escolha: enfrentar ou sucumbir. E sempre optamos por lutar, enfrentar e tentar superar as dificuldades.
            Não é uma tarefa fácil. Numa guerra, por exemplo, vemos pessoas perdendo tudo: entes queridos, a casa, pertences, emprego, perdem até a dignidade, pois têm que esmolar, depender da ajuda dos outros. Muitos têm que recomeçar do zero.  E ter vontade e forças para recomeçar, depois de ver tudo o que alcançaram na vida desmoronar-se em segundos,  é ter resiliência!
            No famoso romance “E o vento levou”, que fez muito sucesso no cinema, a personagem principal, Scarlett O’Hara, interpretada pela bela atriz Vivien Leigh, era filha de um rico proprietário de terras, escravagista, que vivia suntuosamente, mas quando o Norte avança contra os sulistas com ideais de liberdade contra a escravidão, é que começa a história. E em meio à guerra civil que é deflagrada, Scarlett se apaixona platonicamente por Ashley, mas quem aparece em sua vida para ajudá-la realmente, é Rhett Butler.
            O filme é bastante longo, mostra dramas e conflitos intensos e como o curso da vida pode ser totalmente modificado em situações de guerra. Scarlett perde os pais, a casa, a riqueza, perde até a única filhinha que teve com Rhett, num acidente. De personalidade forte, mimada, egoísta e manipuladora, acaba ficando sozinha. Até o marido que a amava, não suportou conviver com ela. Na cena final, consegue administrar todas as emoções e resolve seguir em frente, mesmo sem nada e só. Pega um punhado de terra da fazenda Tara, outrora exuberante e luxuosa,  que pertenceu aos pais, lugar onde nasceu. No cenário, tudo seco, descampado, só escombros. Diz para si mesma: “eu vou sobreviver a tudo isso e nunca mais passarei fome!”
            É o momento crucial do filme, sob um céu alaranjado e com o fundo musical maravilhoso que todos conhecemos. A resiliência de uma mulher sofrida,  sobrevivente de uma longa guerra, que passou por todas as privações possíveis. Quando se joga ao chão, seu corpo se confunde com a terra de Tara. Inesquecível!
            E todos saíam das salas dos cinemas com olhos marejados e a certeza de que vale a pena ser resiliente e lutar pela vida. Sempre!

* Texto publicado na Gazeta de Piracicaba

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