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quinta-feira, 4 de junho de 2020

O FRIO COBROU MEU ATRIBUTO



Carmelina de Toledo Piza


Era um dia de frio.
Tinha chovido muito naquela manhã.
O sol não aparecera, o dia entristecia.
Não gosto do frio, ele dói. Mas tinha que ir para a escola.
O uniforme, o avental branco de algodão, já bem lavado, passado, engomado e velho. Era roto.
O vento passava entre as tramas.
E eu sentia frio.
Apesar das meias de lã listradas e as alpargatas, o frio penetrava nas pernas e nos pés. E doía.
O gorro de lã azul marinho, como a blusa eram feitos com restos de lãs de tricô. Mas a gola da blusa e os punhos combinavam com uma das listras das meias.
Eu sentia frio e estava ridícula.
Mas era o que tinha para vestir.
As mãos geladas.
Uma mão segurava a bolsa da escola e a outra o guarda-chuva.
Eu sentia frio.
No atributo da vida, eu não perdia um dia de escola.


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