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domingo, 26 de julho de 2020

Tribunal das redes sociais



Ivana Maria França de Negri

            Tenho muito medo desse tribunal... Principalmente o julgamento precipitado que vai se juntando com outras vozes exaltadas que vão expandindo o grau de ódio até que não se pode mais controlar. Em poucos minutos, por causa de uma simples postagem, uma pessoa pode ser julgada, condenada e linchada, sem que sejam apuradas as outras versões dos fatos. Isso é perigoso demais! E cruel também!
            Uma amiga postou: “Deus me livre do tribunal do facebook, amém”. E fiquei a pensar, como ela tem razão! É terrível essa obstinação que as pessoas têm de julgar os outros levianamente. Sendo que isso pode custar o linchamento “moral” de alguém, a perda do emprego, de amigos, enfim, pode acabar com uma pessoa em questão de horas.
            Lembram do caso da Escola Base? Ficou famoso, e numa época em que nem havia Internet. A mídia sensacionalista teve acesso ao depoimento de uma mãe que vazou da polícia antes que o inquérito tivesse terminado e espalhou-se como se fosse uma verdade sacramentada. Antes que os fatos fossem devidamente apurados, os donos da escolinha foram massacrados, física e moralmente. Não tiveram direito à defesa. Foram sumariamente condenados. Depredaram a escola e os pais tiraram os filhos do estabelecimento de ensino. Quando tempos depois sua inocência foi provada, nada mais havia a fazer... Os acusados já tinham suas reputações totalmente  destruídas. O caso tornou-se referência obrigatória nas discussões em cursos de Direito e Jornalismo. O jornalista Alex Ribeiro até escreveu o  livro “Caso Escola Base: Os abusos da  imprensa”, lançado em 2003.
            A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores no Guarujá, litoral de São Paulo. Foi violentamente agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que ela sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
            Lincharam uma inocente, sem provas, e só depois de morta e enterrada que veio a público sua inocência. E lá se foi uma mãe de família, julgada e condenada, sem direito a defesa...Mais uma grande injustiça.
            Boatos e mais boatos são espalhados o tempo todo. Ninguém procura fazer uma pesquisa para saber se aquilo é real ou é criação de uma mente diabólica, a serviço do mal.
            Por isso, não cometam injustiças. “Não julgueis, para que não sejais julgados, pois com o critério com que julgardes, sereis julgados, e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós. ” diz a passagem bíblica.
            Psicólogos costumam afirmar: o que as pessoas barbarizam nos outros e os defeitos que enxergam neles, é o que existe dentro delas mesmas.
            Não sejam juízes e algozes de ninguém. Existem profissionais que estudaram muito para terem a capacidade de fazer isso, e se não forem justos, a Justiça Maior, sempre prevalecerá, mais dia, menos dia ela triunfará.
            Portanto, seja leve ao apontar dedos e defeitos nos outros. Amanhã, poderá ser você o réu...

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