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sexta-feira, 4 de março de 2022

Maria na Janela

 



Ivana Maria França de Negri

 

            Maria, na janela, olhava a rua. Flor nos cabelos, no coração esperanças, muitas. E sonhos, tantos sonhos.

            Todos os dias, quando o sol se punha, lá estava Maria, debruçada na janela, fitando o horizonte.

Passava o moço moreno, de chapéu, e lhe sorria, um sorriso bonito. Passava a garotinha que voltava da escola e o seu cãozinho sempre a esperar por ela, agitando freneticamente a cauda quando a via cruzar a esquina.

Maria menina, Maria moça, Maria mulher. O tempo passando e Maria sempre debruçada na janela vendo a vida passar. Tudo tão rápido que ela nem se deu conta. Os cabelos branquearam, o moço de chapéu se casou e foi embora, a garotinha que vinha da escola se formou e foi dar aulas em outra cidade. O cão morreu de velho.

Maria velhinha, já nem via mais nada, apertava os olhos e dizia: mas que vidraça embaçada!

Um dia, Maria se foi...Seu vulto desapareceu da janela de onde viu a vida passar.

Em sua lápide, o olhar de Maria, numa foto, fixava o nada. A moldura do retrato, como se fosse uma janela. E os olhos etéreos, voltados para outras dimensões.

Eis que novas paisagens se abriam para as janelas de Maria...

 


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