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terça-feira, 14 de maio de 2024

Da obsolescência das palavras, da poesia e da Arte





(foto Ivana Negri)

                                                 Carmen Pilotto

Olhando pela minha janela de trabalho observo as folhas douradas caindo com o vento do outono, cheias das lembranças das estações anteriores, que nos contam sobre vivências pelas quais suas texturas foram tomando forma e se converteram em lindos recortes de seiva que alimentaram as árvores e exalaram oxigênio para dar suporte ao o planeta... Mesmo após a queda, passam a ser os húmus da terra e com o tempo, após séculos, se transformarão em âmbar contando a história de uma região.

Quando chego ao trabalho, tomo contanto com um cenário lindo e agradeço a Deus pela oportunidade ímpar de poder captar lindas formas vegetais, aromas, pássaros no entorno e amplitude de céu azul.  Faço minha oração e inicio minhas tarefas.

Hoje foi especialmente um dia triste, lendo a notícia publicada por nossa amiga Sabrina Scarpare sobre a poetry.camera/, traduzindo a Câmera de Poesia. Trata-se de um equipamento que em vez de tirar fotos irá fazer um poema descrevendo sensações das imagens capturadas! Usará metáforas, registrando belas imagens, descrevendo com técnicas perfeitas tudo o que consideramos belo.

Meu questionamento é de quando poderemos perceber se quem escreveu foi uma máquina ou um ser humano? Imagens serão detalhadamente registradas com um desempenho além da capacidade das palavras de nosso âmbito. Assim, a ARTE está muito comprometida: quadros, fotos, textos, esculturas, partituras e tudo que a genialidade humana produz será replicada de forma mecânica e com perfeição.

Os humanos e suas emoções são realmente algoritmos de uma raça em extinção.

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