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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Intelectuais do novo século

Carlos Morais Júnior Cadeira n° 18 - Patrona: Madalena Salatti de Almeida
Os intelectuais devem estar mudando! A cultura deve estar mudando e se tornando algo mais imediatista e rápida, alguma coisa em pílulas, como mandam os ventos do novo século; afinal, quem dispõe de tempo para ouvir coisas intermináveis, sonambúlicas e detalhadas a respeito do que quer que seja? Até os políticos têm abreviado os seus discursos! Aqueles que ainda teimam em alongamentos desnecessários, intermináveis e hipnotizantes, estão condenados a falarem para as cadeiras, ou para uma plateia sonolenta, que não para quieta, pois se levanta amiúde para esticar as pernas, fumar um cigarro e se distanciar daquela coisa maçante. Resumindo: conversa, palestra, piada, discurso, aula, seminário, solenidade, leitura de currículo, apresentação de motivos, toda essa fauna deve ser abreviada ao máximo! E não se deve esquecer o imprescindível coquetel, já que, sem ele, vai ser muito difícil ter público.
Os novos sábios já não se apresentam como velhos empertigados, de óculos grossíssimos, porte principesco, vestindo ternos de seda a tecerem considerações a respeito de tudo o que existe no mundo, em conferências ou palestras intermináveis, sem o pejo de serem interrompidos ou contestados, como se fossem os donos da verdade e os deuses das elucubrações luminosas! É impossível saber tudo a respeito de tudo, quiçá saber um pouco a respeito de tudo! Quedamo-nos, embasbacados, frente à realidade que se nos apresenta: a intelectualidade deste século, que pode ser contada nos dedos, representa apenas 3% da população brasileira! Sim, apenas alguns loucos de meia-idade, mal-vestidos para os padrões de elegância, de cabelos emaranhados, barba por fazer, com óculos escuros e porte malhado, versados infinitamente em informática, que se metem a tergiversar a respeito de pinceladas disto e daquilo. Mas não conhecem tudo sobre tudo, pelo contrário, são eternos estudiosos sobre o vastíssimo e interminável mundo do saber. A verdade é essa e ponto final. Daqui para a frente o sábio será representado por um grupo de pessoas, cada uma especialista numa área, e todos eles alavancados por um banco de dados infinito e um supercomputador.
Parece um dado pessimista, mas nos últimos três séculos subimos bastante o nosso ranking. De 0,8% no século dezoito para os ditos 3%, o que representa um número próximo das 180 milhões de pessoas! Mas, será que vale a pena estar entre estes verdadeiros escolhidos? Será que vale a pena gastar a vida na leitura, cultuando valores altíssimos, e deixar o profano, o prosaico e as banalidades para trás? Onde quer que se vá o fio das conversas é sempre o jocoso, a fofoca e a maledicência. De que adianta, por exemplo, saber que o nome científico do abacate é Persea americana, que o nome científico do leão é Panthera leo, de que adianta saber o nome de todos os elementos químicos de cor ou ter milhares de informações a respeito de Geografia, História, Economia, Biologia, Medicina, Ecologia e os cambaus, se a maioria das pessoas com quem temos contato nem consegue entender as palavras mais simples que dizemos!?
Isso me faz lembrar o curto espaço de tempo em que fui responsável por um jornal semanal de uma cidade pequena. Escrevia meus editoriais sem me preocupar com o purismo da língua, usando termos bem conhecidos, justamente por estar escrevendo para um público leigo. Mesmo assim, fui advertido pela direção do semanário de que deveria escrever mais fácil, pois os meus artigos causavam muita polêmica porque todo mundo era obrigado a recorrer ao dicionário para saber o significado de palavras complicadas como: discorrer, melancólico, celeuma, perspicaz e muitas outras. Não pensei duas vezes e pedi demissão do jornal!

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