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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Prefiro olhar os ipês

Maria Helena Vieira Aguiar Corazza
Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
Sem exagero, mas é verdade! Abrir os noticiários e a cada dia ouvir, saber ou enxergar mais desgraças e desumanidades? Para quê? Para me entristecer a cada instante e fazer da vida um mar de tensões, descrenças e desesperanças? Não! Para mim, não está dando mais! Quero me ater a mais amanheceres de dias enquanto tiver tempo, quero sentir o perfume e o novo das manhãs, e colher quantos pores de sol estiverem ao meu dispor e ao meu alcance ainda... Quero agarrar tudo isso, e não desperdiçar um segundo sequer da esperança, minúscula que seja, mas que ainda trago dentro do meu coração e do meu ser, e de cada hora que me atinge gritando as paisagens que não desprezo por nada deste mundo, nem a diversidade de flores e de plantas que me encantam em cada desabrochar... Prefiro olhar os ipês que me comovem, promovendo em mim uma ternura estonteante que, se pudesse, me faria ajoelhar sempre, num agradecimento fantástico e enternecedor ao Criador, por tanta maravilha recebida!
Para mim chega de tanto sangue e de crimes hediondos, inexplicáveis e indescritíveis em se tratando de seres humanos atacando, maltratando, roubando ou destruindo, e desiludindo a vida, mesmo porque é o homem quem mata e maltrata! O animal irracional apenas cumpre sua missão natural de sobrevivência. É a sua natureza! No entanto, o comportamento animalesco do homem se torna dia a dia tão desordenado, chegando ao ponto de tirar a alegria da vida de muitos! Por isso resolvi olhar os ipês e, se fosse possível, não lembrar de tanta tristeza dos atingidos! Pelo menos, gostaria de “inventar truques” para me envolver e me conscientizar da impossibilidade de desprezar a beleza que, mesmo sendo tão agredida, ainda assim não se cansa de se revelar em tantos momentos inebriantes e inesquecíveis...
Quero, sim, mais do que nunca esquecer olhares tristes e desconsolados dos que choram a perda de seus entes queridos ou de seus amores, pela violenta insensatez indesculpável de desalmados, que colherão pelos seus desatinos e crueldades, e lembrar-me mais “dos olhos de Deus que enxugam as lágrimas humanas”... Quero olhar os ipês, repito, sobretudo nesta estação que é deles, e, quando sua explosão majestosa de cores, formatos e tamanhos, ainda nos conta histórias de emoção e dignidade, apesar deste mar de horrores em que o mundo se afunda incessantemente!
Culpados, culpa e revolta, desalinhamento social ou comportamental de cabeças doentes ou mal formadas, não é mais questão de avaliações ou desculpas. Onde encontrar tanta compreensão ou perdão para dar? Importa agora o mal além das forças e dos limites que este desequilíbrio desumano anda proporcionando, não só nos prejuízos materiais das vítimas, mas, no medo e no terror que machucam muito, e, pior de tudo, na destruição de sonhos, mutilando física e mentalmente, e, afinal ceifando tantas vidas!
Não quero, nem acredito mais em explicações de “quem de direito” que nada resolvme, nem consertam coisa alguma, nos tempos em que se acumulam sofrimentos, e não ouvem os gritos de socorro que se perdem por não serem jamais atendidos.
Prefiro olhar os ipês!...

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