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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Linguagem oral e linguagem escrita

Armando Alexandre dos Santos
Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado

Tanto o texto oral quando o escrito são produções verbais e, pelo menos em princípio, devem ser organizados de modo coerente, fazendo sentido e exprimindo determinada ideia, transmitindo determinada mensagem.
Na linguagem oral, o emitente dispõe de maior liberdade, ajudado que é, na transmissão da sua mensagem, por numerosos fatores coadjuvantes: o timbre da voz, a maior ou menor ênfase com que fala, a línguagem corporal, a mímica, a entoação, o jogo dos olhares, tudo isso acrescenta, ao que está sendo dito, elementos significativos. Admitem-se, na linguagem oral, anacolutos, quebras sintáticas, aporias, hesitações, expletivos, interjeições, repetições etc. - recursos esses que, na linguagem escrita só podem figurar, quando podem, com parcimônia e “sense de mesure”.
Já na linguagem escrita, em que habitualmente se requer uma formalidade maior e uma correção gramatical e estilística mais estrita, não intervêm esses fatores coadjuvantes, cabendo unicamente a quem escreve, se for talentoso, suprir a falta deles. Como pode fazê-lo? Numerosos são os recursos estilísticos à disposição do bom redator para, de acordo com os gostos e costumes de sua época e da cultura em que se insere, conseguir atrair e prender a atenção de quem o lê.
Pessoalmente, gosto muito do estilo de linguagem escrita que vai se desenvolvendo dialogicamente, numa como que interlocução com um imaginário leitor. Esse estilo, largamente utilizado por eminentes escritores do passado, como por exemplo Machado de Assis e Eça de Queiroz (não em todas, mas em algumas de suas obras principais), e também, de modo maravilhoso, por Guimarães Rosa, é sempre atual e, pela experiência que possuo de 36 anos de prática jornalística, costuma ser bem sucedido.
Nesse estilo, quem escreve vai acompanhando passo a passo o leitor, como quem está junto dele e vai, também passo a passo, observando suas reações, suas dúvidas, suas objeções, seu maior ou menor interesse, suas distrações. Importantes, nesse estilo, são as prolepses, por meio das quais o emitente prevê e responde a imaginárias objeções ou dificuldades do hipotético leitor/interlocutor. Importante também é que, nos trechos mais difíceis ou mais áridos, o emitente saiba temperar o texto com alguma nota particularmente atraente, com algo de novidade, de inesperado, até mesmo, se necessário, de chocante, ou acrescente uma nota de ironia ou humor. Tudo para manter continuamente a empatia, a ligação quase umbilical que o bom escritor deve manter com quem o lê. Entremear as exposições mais teóricas e esquemáticas com a apresentação de exemplos concretos em linguagem narrativa é, também, um recurso muito útil.
Curiosamente, à medida que um bom escritor desenvolve um estilo desses, até mesmo no modo de falar ele conserva essas características. Ele saberá, ao expor oralmente uma tese, prender a atenção dos ouvintes de modo análogo à forma como prende a atenção dos leitores que leem seus textos. O resultado, que pode parecer paradoxal, é que, ao fim e ao cabo, tanto a linguagem oral quando a escrita se aproximam bastante, sendo o modus loquendi bem próximo do modus scribendi.
Nada mais natural. Afinal, tudo é comunicação humana, tudo é texto, tudo é linguagem...

2 comentários:

  1. Olá,
    Sou estudante da ESALQ e estou realizando um projeto sobre os aspectos históricos e culturais dos hábitos alimentares de Piracicaba.
    Vocês poderiam me passar o contato de alguns membros que são e já foram da Academia?!
    Grata.

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  2. Olá Beatriz

    Entre em contato com a historiadora
    Marly Therezinha Germano Perecin que é acadêmica da APL e poderá passar as informações que necessita.

    abrs

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