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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

À Tarde

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira


O doce encanto da tarde calma
me alcança a alma sempre a cismar
O ameno enlevo do dia exangue
me agita o sangue, me faz poetar

Será, talvez, por que sem alarde
o fim da tarde desperta amores?
Será, talvez, que essa estranha hora
nos traz de fora tamanhas dores?

Quem sabe, enfim, donde vem um poema?
(atroz dilema que a alma assola)
Talvez do Olimpo onde as Musas cantam
e a voz levantam em barcarola

Talvez das cores, dos sons vagantes
desses instantes de inquietação
Talvez do pranto do povo inerme
que feito verme rasteja em vão

Talvez das iras da populaça
que toma a praça p´ra protestar
Talvez do grito dos que têm fome
que nem têm nome p´ra assinar

Quem sabe venha desse delírio
que só o martírio sabe plantar?
A fronte curva-se a tal enredo
Pesa o segredo, qual canitar

Entanto, eu sei que a poesia existe!
Alegre ou triste é potente voz
que vem do abismo, ou que vem do espaço
Num longo traço se estende após.

Mas, nessas horas da tarde calma
se agita a alma num tom disperso
Então descubro que, sem alarde,
na branca tarde fala o Universo. 

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