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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Toque mágico


Cezário de Campos Ferrari
Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz do Amaral
        
As ideias são, provavelmente, como inúmeras estrelas amontoadas entre nuvens e miragens. Elas estão lá, distantes, ocupando cada uma o seu lugar no ordenamento do cosmos. Inalcançáveis algumas durante um longo tempo, até que alguém descubra o seu brilho e, tendo-a dominada em suas mãos, a exiba para conhecimento coletivo; fáceis de encontrar outras tantas, daí se tornam comuns, simples, meras. Quando, repentinas como uma aparição, elas explodem e surgem maravilhosas, o mundo as recebe eufórico e delas faz uso deixando-as expostas, à vista, e já então tais ideias tomam o nome de seus desbravadores e se tornam propriedade humana. As ideias renovam a existência e dão um novo alento, alegrando e trazendo o ardor de diferentes luzes, e o seu brilho enche o espaço, ocupa posições, apaga a escuridão da ignorância. Por que o não-conhecer é o mesmo que não ver, tal qual o ser sem saber, o estar vivo quase sem perceber. Completa cegueira, enfim. O mundo necessita, sempre, de ideias recém-brotadas, de novidades oriundas das tempestades cerebrais que trazem a lume um conjunto de benefícios para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos. Sem isso, desprovido desse vislumbre e dos devaneios dos visionários, é perceptível uma estagnação capaz de retardar a evolução do homem, o que faz com que tudo se assemelhe, destarte, a repetitivos momentos de mesmice, a todos cotidianos niilistas e sem a menor graça. E o nada é somente escuridão, espelho do vazio, vereda tolhida por demasiados óbices, letras borradas, visão sobejamente turva. Por sua vez o aquilo de sempre, o mesmo deprimente e suas vertentes habituais tornam o dia após dia meio que nulo e descolorido, pois a revelação e a surpresa são inesperadas pérolas de mudança imprescindíveis e sempre bem-vindas. Estar vivo é não apenas aguardar a passagem do tempo, mas se possível tentar moldá-lo, fazê-lo trabalhar em nosso prol, procurar escolhas diferentes, pintar a lua de vermelho, por exemplo, cobrir o sol com a mão, pintar as nuvens com cores abstratas, torná-las multicolores, o sui generis enfim. Daí o turbilhão de ideias ser o algo mais, aquele sub-reptício toque mágico capaz de conquistar e cativar, de acender fogueira ao redor das geleiras, de sonhar voando porque  asas surgiram do além-imaginado, de andar de bicicleta no espaço como numa aeronave e tendo como moto propulsor apenas a força do pensamento e da fantasia. O horizonte é vasto, sem dúvida. Ter novas ideias é repensar a rotina, trabalhar a mente para que permaneça sempre jovem e ativa, é fazer do diferente e do estranho o igual e o interessante. Fará a sociedade sorrir e ser melhor. Sejam, então, as ideias almejadas a todo instante, procuradas como se busca inteiramente um tesouro por demais precioso. O objetivo é, conforme está explícito, o discernimento do oculto, vasculhar o escondido, avistar novos horizontes. E que venham abundantes, em cascata para nos deixar, a um só tempo, atônitos e encantados, sorridentes, felizes, também ansiosos por muitas ideias, todos os dias, na vida de cada um dos senhores formandos.
               Finalizando, quero lembrá-los de que essa vida, pela qual somos os responsáveis, não nos é dada feita, prontinha como um programa de televisão, que podemos apreciar, sem muito esforço pessoal, confortavelmente numa poltrona... Grande parte dela começa a partir de hoje, com a formatura de cada um dos senhores.
 Que Deus abençoe a todos. Boa noite...

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