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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Amor na tarde

Maria Helena Vieira Aguiar Corazza
Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz      

            Apesar de escondida num canto qualquer da vida, havia ali sem duvida nenhuma, um soluço reprimido e uma solidão doída que gritava baixinho e, talvez por isso não conseguisse ser ouvida.
            No entanto, num lindo dia, mais precisamente um fim de tarde do ultimo dia de um quente janeiro houve um grito para chamar a atenção de alguém do outro lado da rua. Alguém que requisitava um encontro profissional, já que essa parecia ser a intenção de um ente solitário a procura quem sabe, de uma orientação, ou apenas um olhar dirigido ou um ombro amigo cujos braços pudessem agasalhar aquela solidão sofrida, que já se fazia aparecer para enfraquecer e atormentar.
            Encontro marcado, medo de chegar o momento... Novo encontro, confusão dela para explicar o que queria, e a inquietude do interlocutor que apenas ouvia... Após, doçura em suas palavras e uma interrogação no seu olhar penetrante que, ela soube depois ambicionava beijar sua boca ou tomá-la nos braços, talvez para sempre... Encontro de “almas gêmeas” desse “amor na tarde” que nenhum dos dois soube até hoje explicar.
            Aconteceu a primeira caminhada juntos, cuja surpresa ao final foi um longo beijo inesperado e não premeditado que até hoje, não há como saber quem tomou a iniciativa nesta linda história de amor: se ele que estaria se apaixonando por ela, ou ela que, de alguma forma, não entendia ainda aquela necessidade de vê-lo, encontrá-lo e estar enfim com ele para abrir o coração, encontrar um apoio, um amigo, ou querer ser amada de novo... Ela não sabia explicar... Ele queria saber... Importou o beijo colado e demorado, que aconteceu revestido já de grande estremecimento, ternura e sentimento. Foram duas bocas que se encontraram numa magia e doçura inexplicáveis.
            Logo depois, quando uma linda lua cheia apareceu no céu houve o primeiro encontro, agora, já de namorados. Pedro não mais resistiu e tomou-a em um abraço louco de expectativa e emoção incontrolável! Os braços que a seguravam eram fortes e as palavras sussurradas eram belas, suaves e apaixonadas, ansiosas, o que fez Marília perceber e sorrir: naquele momento ela esquecera completamente da lua que era linda e cheia, pois apenas seus olhos se encontraram e não mais queriam deixar de se olhar...
            Havia acontecido um amor verdadeiro que não teria mais condição de permanecer ignorado.... Havia despertado naquele instante, um “amor adormecido”... E, um “novo amor” havia começado ali... Um “amor na tarde” de dois seres maduros, cabelos já prateados pelo tempo, caminhantes antigos das agruras da vida e conhecedores de tantas dores, perdas irreparáveis e penas tão dolorosas, mas que não caberiam jamais nos sonhos dos mais jovens e inexperientes... Um “amor forte e grandioso”, porém, como seus próprios protagonistas não imaginavam poder conhecer, nem muito menos sentir e usufruir. Um “amor perfeito” poder-se-ia concluir, ou uma “obra prima” como defenderia Padre Charbonneau em um de seus belos trabalhos numa de suas frases profetizadas a fim de enfatizar o valor incomensurável desse sentimento, onde nada mais caberia a não ser uma miraculosa perfeição.
            E assim, de mãos dadas em suas vidas, dois seres apaixonados vão caminhando em busca do sol de cada dia, valorizando cada respirar e cada passo, olhos, ouvidos e palavras que se tornam encantadas na colheita do “amanhecer e do anoitecer”, na certeza de que, somente aquele que muito amou e foi amado, poderia conhecer um “grande amor novamente”. Sobretudo agora para eles, quando a “tarde” da vida, lhes dá a certeza da grandiosidade do milagre de mais um dia juntos, ao encontro do paraíso perfeito.    

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