Páginas

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

FORMIGAS HUMANAS

Toshio Icizuca
Patrono: Elias de Melo Ayres
Cadeira no 38

Um dia desses, na manhã quente de verão, estava eu malhando na “Academia da Terceira Idade” do Parque da Rua do Porto. Aliás, uma das grandes realizações da  administração Barjas Negri que encerrou o mandato no final de dezembro. Espero que a próxima não me deixe com a saudade da anterior.
Então, estava no aparelho que é chamado de “remador” e, ao invés de olhar para frente, que seria a posição normal da cabeça, olhava o solo. Não havia motivo para isso, mas estava. Quem me visse assim poderia pensar que estava procurando algo que deixei cair durante o movimento dos braços, pernas e o tronco. Na verdade estava completamente absorto, desligado de tudo, como se estivesse sozinho no imenso parque.
De fato, no início era isso mesmo, porque costumo me relaxar dessa forma, embora o corpo esteja em movimento. Porém, a partir de certo momento a minha atenção se fixou em uma formiga que parecia estar perdida, andando sem rumo, mudando de direção sem nenhum motivo aparente. Instantes depois já eram duas formigas, com as mesmas atitudes. Ao aumentar o meu campo de visão percebi que eram perto de dez formiguinhas, perdidas ou desgarradas a procura de alimentos para a sua sobrevivência. Assim imaginei naquele momento, mas poderia ser por outros motivos, como rejeição da “família”, “desempregadas”, ou até ociosas por falta de “habilidade” para o trabalho.
Ao imaginar essa situação, o meu pensamento foi mais longe, em vez de formigas, essas pequenas criaturas podiam ser seres humanos, gentes como moradores de rua que dormem ao relento e ficam perambulando pelas ruas à procura de alimentos para saciar a fome. Para fazer uma ligação entre as duas situações não foi preciso relembrar histórias da civilização humana, os fatos reais ocorriam bem próximos um do outro, pois há mais de meses um grupo de moradores de rua fizeram da cobertura da nova Rua do Porto a sua moradia. Todas as manhãs, ao deixarem a cobertura eles se dirigem ao sanitário do Parque para fazerem a higiene pessoal. Depois se dispersam e cada um toma o seu rumo para “ganhar o pão de cada dia”.
Não tenho nada contra os moradores de rua, eles vivem à sua maneira dentro da sociedade, talvez injusta para alguns, mas justa para outros... A solução do problema é da alçada dos governos, municipal, estadual e federal.
Talvez tenha sido infeliz em fazer comparações entre os dois fatos, uma vez que as formigas trabalham, enquanto no outro grupo nem os jovens fazem isso. Falta de emprego? Culpa da sociedade? Tenho as minhas dúvidas...

Texto publicado na Gazeta de Piracicaba

Nenhum comentário:

Postar um comentário