Páginas

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Indagações

Elias Salum
Cadeira n° 5 - Patrono: Leandro Guerrini

Como Presidente fundador da AAAP, (Associação de Amadores de Astronomia de Piracicaba), na década de 1980, iniciamos, também, uma luta juntamente com um grupo de aficionados sobre a matéria, para a criação de um Observatório Astronômico Municipal, que se deu em novembro de 1992, na Administração do ex-Prefeito Dr. José Machado e com apoio da ESALQ, que cedeu uma área, localizada no inicio da rodovia Piracicaba–Rio Claro.  O Observatório hoje recebe centenas de alunos, visitantes e turistas da cidade e região, para aulas e observações astronômicas, ministradas pelo insigne astrônomo Nelson Travnik, aplaudido pelas suas atuações, profundo conhecimento sobre a matéria e detentor de inúmeras condecorações nacionais e internacionais.
Indagado por mim sobre os tópicos abaixo, ele relatou e nos prestou as seguintes explicações, que levamos ao conhecimento dos nossos leitores.

DE ONDE VIEMOS?

Essa pergunta que há milênios aguça o espírito humano, sempre encontrou uma resposta fácil para as mais variadas crenças. Para a  ciência, contudo, o assunto foi sempre de extrema complexidade.
Apesar de haver teorias correntes, a formação do Big Bang, expressão inglesa usada pela primeira vez pelo astrônomo inglês Fred Hoyle (1915 – 2001), é a mais aceita pelos astrônomos. É o modelo mais simples e preditivo que conhecemos, muito embora envolva cálculos extremamente complexos. A radiação de fundo e a expansão do universo são uma das razões para aceitar a grande explosão. Contudo alguns estudiosos aventam a possibilidade de existirem outros universos. O nosso nasceu há 13,7 bilhões de anos. Antes disso, segundo a Teoria da Relatividade do alemão Albert Einstein (1879-1955), o espaço e o tempo não existiam e surgiram com o Big Bang. Segundo os astrofísicos, não faria sentido pensar em um momento anterior a esse evento. Viemos, portanto, de um ovo primordial cuja expansão deu origem as nuvens moleculares, as estrelas, destas aos planetas e destes ao surgimento de vida como conhecemos.

O QUE SOMOS?

Enquanto a Filosofia e a Teologia se debruçam sobre questões que não têm necessariamente uma resposta, é a ciência (notadamente a Biologia e a Química), que tenta responder o surgimento da vida nesse planeta que parece ter se originado nos oceanos. As primeiras vidas eram de bactérias anaeróbicas que viviam nas regiões de atividades vulcânicas no fundo dos oceanos. Após vários eventos cataclísmicos locais e vindos do espaço exterior, esses organismos quase se extinguiram, mas conseguiram sobreviver até os dias atuais, usufruindo da energia dos vulcões e por meio da evolução. Por conseguinte, todos os seres vivos de hoje são descendentes dos sobreviventes desses eventos. A química que criou a vida na Terra surgiu espontaneamente da interação durante bilhões de anos de moléculas cada vez mais complexas. Contudo a Complexidade de produzir vida inteligente é incomensuravelmente maior do que a de gerar bactérias e outras formas de vida primitivas de vida. O fenômeno vida, contudo, é universal e acontece quando em ambiente favorável, as moléculas, principalmente dos átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, vão se combinando aleatoriamente, formando complexos orgânicos até gerar ácidos nucleicos (DNA, RNA). Segundo Carl Sagan (1934-1996), “a química que criou a vida na Terra é reproduzida facilmente por todo o cosmo”. Os átomos que formam nosso corpo foram criados há muitos bilhões de anos, sintetizados no núcleo do sol e recombinados extraordinariamente de maneira a constituir a vida. Somos, por conseguinte, filhos do Sol e nossa origem remonta o âmago dessa estrela.

ESTAMOS SÓS NO UNIVERSO?

Pelo acima exposto é obvio concluir que seria muita pretensão achar que na imensidão cósmica somente um planeta abriga a vida, inclusive inteligente. Seria raciocinar como os crustáceos, para os quais nada existe além da superfície dos oceanos. Por isso alguns astrônomos já arriscaram a dizer que nos próximos 25 anos quando o projeto ALMA, o mais poderoso radiotelescópio da humanidade, estiver concluído em 2012 no deserto do Atacama, região de Chajnantor, Andes chilenos, estaremos recebendo a primeira resposta aos nossos sinais: “também estamos aqui”! Quando isto acontecer todos irão lembrar-se de Giordano Bruno (1550-1600) em seu livro “Del Infinito Universo e Mondi”: “Há incontáveis terras orbitando em volta de seus sóis da mesma maneira que os seis planetas do nosso sistema... Os incontáveis mundos no universo não são piores nem menos habitados que a nossa Terra”. Também irão lembrar de Camille Flammarion (1842-1925), que em 1862 publicou o livro “A pluralidade dos Mundos Habitados”. O primeiro foi queimado vivo pela inquisição por tamanha heresia e o segundo foi demitido por U. Leverrier, diretor do Observatório de Paris por publicar uma idéia medíocre e fantasiosa. A confirmação de mortal na crença de que o homem é o centro da criação e que nada é mais perfeito que o planeta em que vive. Quem viver verá.

ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS?

A introdução do telescópio, dos radiotelescópios, sondas espaciais e os progressos das teorias físicas, permitiram aos astrônomos traçar um quadro fiel do lugar que ocupamos na imensidão cósmica. Somos o planeta Três preso a atração gravitacional de uma estrela amarela que nos faz percorrer 29,5 Km/s ao seu redor. Por sua vez, o Sol com seu séquito de planetas, satélites, asteróides, meteoritos e cometas, avança célere a 280km/s para um ponto na esfera celeste a 10ºSW da estrela Vega da constelação da Lira. Por sua vez, o sistema solar está situado num dos braços da galáxia, espiral, Via Láctea, distante 30 mil anos-luz do seu centro. Para completar uma volta na galáxia, o sistema solar necessita pouco mais de 200 milhões de anos. Mas a coisa não termina aí. Os astrônomos chegaram à conclusão de que a nossa galáxia está em rota de colisão com a de Andrômeda, algo que irá ocorrer daqui a 5 bilhões de anos. Ambas irão se interagir a exemplo desses eventos flagrados pelos grandes telescópios. Esses são, pois, resumidamente, os parâmetros ditados pela Astronomia. Ela é única ciência que possibilita isso.




Nenhum comentário:

Postar um comentário