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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Biografias : Quantas contradições!

 Acadêmica Myria Machado Botelho
Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella
 
       Não deixou de ser impactante  a atitude de alguns de nossos artistas, os músicos e compositores Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan, alguns deles ligados e conhecidos por seus pronunciamentos públicos em favor da liberdade e da livre manifestação do pensamento.  O grupo, autodenominado Procure Saber, além de exigir autorização prévia para qualquer biografia, ainda sugere o pagamento de royalties aos biografados ou seus herdeiros. Embora mais recentemente, após a saraivada de protestos, de cobranças, de gozações e de argumentações incisivas e certeiras provindas das redes sociais,da imprensa falada e escrita, de entrevistas de escritores e biógrafos conceituados, eles tenham tentado atenuar o impacto com declarações que não convenceram, a fogueira cruzada já crepitava bem alto.
            Roberto Carlos, numa entrevista concedida ao programa Fantástico de domingo passado, disse e não disse em sua fala plena de ambigüidades e de evasivas que não convenceram, acabou por declarar que é a favor das publicações sem autorização prévia; no dia seguinte, entretanto, segunda-feira , no programa Roda Viva da TV Cultura, seu biógrafo, Paulo Cesar Araujo, cuja excelente biografia ( Roberto Carlos em Detalhes)  foi retirada  da circulação em todo o território nacional, explicou também em detalhes a maneira apressada e injusta  de como ocorreu esta proibição que lhe custou muito trabalho, algumas décadas de pesquisas e de finalizações. Se o artista mereceu todo esse empenho, este seria mais um motivo para que ele se sentisse honrado e agradecido ao escritor que se interessou por ele.
            Contradições à parte, é preciso acentuar que um artista, à luz da história, é uma figura pública; ele não se pertence e sua privacidade é relativa pois  é através do público que ele se torna conhecido. A liberdade de expressão não pode aceitar uma ditadura de biografias “chapa branca”, desde que sejam verazes e sem danos morais à imagem dos biografados. Creio que está faltando no caso um debate mais amplo entre as partes, no sentido de que se estabeleça esta importância na formação cultural, moral e intelectual dos povos.
            É através dessa formação que se aprende a história e a vida de homens e mulheres que conquistaram a fama por suas vitórias e seus feitos, também por suas atrocidades e seus desvios. As revoluções e as guerras, as descobertas e os inventos, as criações múltiplas da beleza da arte em suas mais variadas formas,  permeadas por fracassos e superações, por  atos heróicos e  pusilânimes, desde que somos todos feitos da mesma massa e somos humanos não chegariam até nós e nosso conhecimento, não fora o empenho  dos artesãos da palavra e da escrita....
            Quero crer que nossos queridos artistas reconsiderem sua atitude absurda, ditada talvez por um excesso de vaidade ou por uma convicção muito radical de si mesmos, quando na realidade  sua trajetória de vida e seu protagonismo se misturam com os nossos e também pertencem a cada um de nós.

               

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