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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Para onde vão as palavras já ditas?

Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33
Patrono: Fernando Ferraz de Arruda

Para qual lugar deste vasto mundo vão as palavras que proferimos?
Para qual ponto do Universo?
Assim que as dizemos, adquirem uma espécie de vida, voam mesmo sem asas e se distanciam das bocas, das pessoas, do planeta e alcançam o espaço.
Qual pássaros libertos, não podem mais ser contidas. Qual águas revoltas das cachoeiras, que jorram pelos precipícios, não podem mais ser represadas. Como ondas de rádio que partem e são sintonizadas pelo mundo, não podem ser detidas.
E as palavras levitam, volteiam, passeiam, se dispersam e flutuam para bem longe. Pragas ou bênçãos, construtivas ou destruidoras, são como bumerangues, e retornam a quem as proferiu com a mesma intensidade de cura ou maldição, de benevolência ou malignidade.
Por isso é preciso sempre medir as palavras antes que se disseminem pelo vasto universo. Elas constroem ou destroem, curam ou fazem adoecer, são puras e leves ou asquerosas e pesadas. E as palavras se materializam e se tornam ações.
“No início era o verbo (palavra) e o verbo se fez luz e se fez matéria”.
E assim sempre será, por todos os séculos e séculos, amém...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Pai Antonio e seu Fusca

Leda Coletti- Cadeira no 36
Cadeira n° 36 - Patrona: Olívia Bianco

           Pai Antonio possuiu muitos carros em sua vida, mas dois são lembrados por mim com mais carinho, pois foram significativos para nossa família em terras rioclarenses e ipeunenses. O primeiro foi um Simca, carro grande e vistoso. Foi importante para nós crianças, porque servia de transporte de ida à cidade de Rio Claro. Diariamente nosso pai nos levava à escola. Voltávamos de jardineira, a qual passava na estrada de terra, no mesmo local onde é   hoje a via asfaltada e duplicada Piracicaba.- Rio Claro.
O segundo foi adquirido quando residia na zona rural de Ipeúna. Tratava-se de um Fusca  zero quilômetro de cor verde escuro. Aderiu à iniciativa do então presidente da República- Itamar Franco- para retornar o sucesso do “fusca” nas últimas décadas do século XX .Contou-me que, indiretamente eu influenciei sua escolha, pois na época que vivia pelas estradas, (quase sempre precisei do carro, como meio de locomoção para o trabalho), dava preferência aos carros da linha Volkswagen, os quais nunca me deram qualquer problema mecânico.
Para ele foram alguns anos de imensa satisfação, usufruindo bons momentos quando o dirigia. Contava a todos as suas peripécias e, dentre elas orgulhava-se do dia em que foi o único carro de passeio a ultrapassar uma ladeira íngreme com lama. –“Gente, vocês deviam ter visto o “besourinho”. Subiu sem deslizar um segundo os quase 100 metros”!..
Quando ficou impossibilitado de continuar a dirigir por problemas de saúde, percebíamos sua alegria, quando alguém o levava de Fusquinha para um passeio, ou à santa missa em Ipeúna, ou mesmo para sua consultas médicas.

 Nosso querido pai completaria 103 (cento e três anos) nesse mês de fevereiro de 2017. Quero homenageá-lo através dessa página. Acreditamos que na sua nova morada celestial, ele continue tocando seu  violão e cantando a música que gostava:: “fuscão preto”...

domingo, 5 de fevereiro de 2017

O IMIGRANTE


Francisco de Assis Ferraz de Mello - Membro Honorário da APL

Era um forte e sonhava sonhos altos
Deixou, por isso, um dia, a sua terra.
O trabalho, para ele, era uma guerra
Para vencer-se em mais de mil assaltos.

Transpôs rios e montes, mares saltos
Em busca de riquezas. Subiu serra.
E aprofundou o arado sob a terra.
No sonho louco dos homens incautos.

Mas foi-lhe ingrata a vida. E o coitado
Quando sentiu o sonho terminado,
Velho demais para que alguém se engane,

Olhou atrás de si o que ficara,
Com desencanto impresso-lhe na cara
Suspirou com tristeza:” – mondo cane.”