Páginas

sábado, 21 de maio de 2022

Igualdade



Lídia Sendin

            Julia tomou nos braços, com carinho, a velha boneca de pano. Muito colorida, pois fora feita de retalhos, chamava-se Emília, como a da história que ela tão bem conhecia.
            Sua avó, costureira que era, havia feito a boneca dos retalhos que lhe sobravam.
            Espiando lá fora, conversava com a boneca sobre a chuva fina que caía incessante durante a manhã, enquanto espremia seu nariz arrebitado contra o vidro da janela: - sabe, Emília, as plantinhas me disseram que gostam muito da chuva, mas não dá pra brincar no jardim, né?
            Sua mãe, espiando sorrateira pela porta, sorriu balançando a cabeça, admirada que a pequena “ainda” falasse com as bonecas.
            Pelo canto dos olhos a garota viu a reação da mãe. Ofendida, abraçou a boneca e continuou a brincadeira, resmungando baixinho.
            Na cozinha, às voltas com a receita nova que preparava, a mãe lia em voz alta os ingredientes da massa.
            De repente, uma risadinha sapeca tirou sua concentração, era a filha espiando a mãe a falar sozinha: - com quem você falava mãe?
Meio sem jeito, tentando se justificar, disse: - Converso com os meus botões, menina, vá brincar!
            A garota voltou para o quarto batendo os pés: - se minha mãe pode falar com seus botões, por que eu não posso falar com minha boneca!?

Nenhum comentário:

Postar um comentário