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quarta-feira, 25 de maio de 2022

As lições de ontem

 


Myria Machado Botelho

                Na crise extrema que experimentamos sem vislumbrar uma saída, crise não somente política, mas principalmente moral, quase vamos perdendo as esperanças de dias melhores, de um futuro  mais claro e promissor para as novas gerações, carentes de tudo, e sem exemplos dignos que as  sustentem , em especial nos bancos escolares, onde a educação foi atirada  num lamaçal de bobagens e de “ politicamente corretos” , convido  meus leitores para uma pequena reflexão.

                Nossa crise reside numa enorme carência de valores  éticos, morais, espirituais e familiares.  Nas escolas, uma ausência quase absoluta de  competência e de formação, salvo algumas exceções que , infelizmente , não pontificam, e cujas vozes, quase sempre não são ouvidas, em virtude da enorme carga provinda de espíritos mesquinhos que tudo fazem para ridicularizar e apequenar o que é certo.  Nossos meios de comunicação primam pela mediocridade e a linguagem que se adotou nos meios digitais é um caminho aberto para o  cultivo da ignorância.

                As tintas são fortes, porém, infelizmente, traduzem uma realidade mais do que preocupante para as novas gerações que, nas escolas , talvez nunca tenham ouvido os nomes de  brasileiros exemplares, dotados de virtudes distintas, sobretudo possuidores de um patriotismo nato e predominante.

                O sentimento de amor à Pátria deveria ser tanto mais intenso e decisivo quanto mais infeliz ela possa ser e quanto maiores os riscos que ela, eventualmente , possa correr.

                Em  15 de novembro de 1889, proclamava-se a República no Brasil, após a extinção da escravatura com a lei  Áurea, promulgada a 13 de maio de 1888 e assinada pela  Princesa Izabel.

                A mudança de regime teve muito a ver com esta extinção.  Os escravocratas despeitados derrubaram o trono de Pedro II e sua dinastia, embora a monarquia parlamentar tenha sido, em quase todos os aspectos, um governo vitorioso e grandemente promissor.

                 A história constitucional e política de Pedro II, o perfil de grande monarca em sua idade madura, retratado por Joaquim Nabuco em “O Estadista do Império”  nos dá a dimensão política do  imperador de pulso firme, de espírito arejado e conciliador que tinha em seus ministros a colaboração e o desempenho à altura de seus nobres objetivos.  Homens incapazes de adulação e servilismo, com a deferência necessária e razoável à Coroa, porém devotados aos interesses públicos, que não sofriam imposições do imperador, embora sua influência fosse enorme e incontestável  .  Essas características nortearam as linhas políticas e sociais do Brasil durante quase meio século.

                Apesar de tudo, passado o período  difícil dos princípios da república e, desmentidos os prognósticos sombrios dos monarquistas, o Brasil retomou a marcha normal de seu progresso sob a nova forma de governo, com certeza, a preferência de quase totalidade dos brasileiros.

                A Pátria retomou seus rumos, dentro de um governo exequível, graças a um contingente de grandes homens, dotados de virtudes distintas e possuidores de um patriotismo nato e predominante.

                No país novo, de intensas transformações, os políticos não consideravam os cargos públicos como monopólios pessoais ou dos partidos  a que pertenciam. Seu desempenho devia ser o melhor possível, correspondente à dignidade do cargo que ocupavam.  O sentido de honra, de integridade pessoal, de responsabilidade nos compromissos, enfim o caráter, eram pontos pacíficos, inquestionáveis, tanto que as exclusões aos que não correspondiam a este perfil, ocorriam normalmente.  No Brasil  desse tempo já se delineava uma posição liberal, de natureza cívica que teve em Joaquim Nabuco, no Visconde do Rio Branco, em Rui Barbosa e posteriormente ,na República, em Prudente de Moraes e Campos  Sales, seus mais dignos precursores.

                Nesses homens ilustres, a luta pela vida, a ambição do poder e a competição, dentro dos bastidores políticos sempre existiu, porém não ao ponto de obscurecer as noções do dever e do sacrifício, da verdade, do empenho e da responsabilidade no manuseio da coisa pública, dentro dos verdadeiros padrões humanos.

                Na presente  e maior crise que atravessamos, a política se amesquinhou em função da péssima categoria dos que a representam.  Salvo exceções, o Brasil após Getúlio  Vargas, sofreu um grave processo de desmantelamento moral e progressivo.  São incontáveis e deploráveis os exemplos de homens públicos imorais e corruptos que ocupam as páginas de nossos noticiários diariamente.  Essa conscientização cívica republicana, da qual jamais poderemos abdicar, precisa ser restabelecida  com urgência.

                O imenso potencial que nos foi legado por construtores idealistas do passado- que possuíam em comum, ao lado do preparo, da Inteligência e da capacidade, uma sólida e resistente autoridade moral e patriótica à prova das tentações  e dos abalos- não deverá jamais ser desprezado pelos cidadãos brasileiros   que desejam  a dignidade e o progresso de seu país.


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