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quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Versos Dispersos

 



Lídia Sendin

 

Neste verso de papel,

Atirado pelo vento,

Pinto versos sem pincel,

Minhas letras eu invento.

 

Não importa se é pedaço,

Grande folha ou só tirinhas,

É ali mesmo que eu faço

Só um verso ou muitas linhas.

 

Posso usar papel de tudo,

Basta ter lugar vazio,

Se é pouco o conteúdo

Vou tecendo fio a fio.

 

Estes mesmos que ora escrevo,

São versos num papelão,

E a dizer eu me atrevo

Que foi boa a intenção.

 

O vazio do branco anima

A dragar o coração,

Versos livres ou com rima,

O que vale é a inspiração.

RESGATE “ DA ALMA ADORMECIDA”!



Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins

Batizei  por “Oração”,  minha primeira arte/estampa!  Consegui, a partir de uma gravura, criar uma imagem, compor uma “carta”, ou seja, um cartão da espessura de um papelão, de vinte por treze centímetros, tamanho pré-estabelecido  para o qual transpus  o que meu coração “ditava”   naquele momento...    
 Trata-se de um curso de autoconhecimento, mais precisamente, “SOULCOLLAGE”, idealizado e proposto por uma Educadora americana, pesquisadora, mestra e terapeuta,  dra. SEENA FROST, cuja aplicação  de teor convincente e  aceitação imediata, pelo nível do conteúdo preciso e objetivo claro,  obteve valoroso retorno nos Estados Unidos e em  outros países.   ( SOUL= alma   COLLAGE= colagem)
 É  um processo  criativo  que acontece de forma intuitiva e provoca uma experiência única a partir da colagem, aparentemente uma simples “brincadeira artesanal”...    Sob a orientação de especialistas,  denominadas “Facilitadoras”, o referido curso oferecido agora, aqui no Brasil, tem  como objetivo acessar o inconsciente, isto é, a sabedoria interior, muitas vezes  guardadas a “sete chaves”!      O resultado é  fantástico!   Posso afirmá-lo por experiência própria  e descrevê-lo sem dúvida ou constrangimento.
Tive a oportunidade e grande satisfação de me inscrever para um curso de SoulCollage aqui em Piracicaba com a especialista  Professora Maria Estela Monteiro, Pedagoga, Psicóloga, mestra em Filosofia, Analista Junguiana,  Facilitadora qualificada para ministrar e orientar os participantes. O ambiente sonoro, preparado com esmero e criatividade, a arte da imaginação solta e feliz,   presente na decoração de cada recanto do harmonioso e cativante espaço  da aconchegante sala,   permitiram aos presentes uma sensação plena de  paz e bem estar, levando a todos ao relaxamento natural, espontâneo e propiciando  indescritível encantamento.  Pura sensação de transcendência, decorrente da entrega consciente e desejada para a   meditação sedutora e prazerosa, sob a orientação da referida mestra
Todos prontos e ...enlevados após o ritual  meditativo que nos preparou para a absorção do rico conteúdo a ser estudado, compreendido e interiorizado.  Após a explanação introdutória, o estudo e a discussão dos temas propostos através de leituras programadas de  textos ilustrados e   alusivos ao  curso  em questão, fomos preparados para a parte prática e a feitura das Cartas do “Baralho da Alma”.                                        
 Por sorteio,  entrega aleatória, o tal envelope grande e vermelho oferecido entre tantos outros (num enorme e belo tacho de cobre!), foi escolhido por mim,  ao acaso... Ao abrir o envelope deparei com “um pé “!                    Explico: a gravura de um pé, o esquerdo, sendo massageado por sedosas e bem torneadas mãos.     Surpreendi-me! Entre tantos envelopes, porque justamente aquele   veio ao meu encontro?
Indaguei-me pensativa e curiosa...Que relação aquela  gravura teria comigo naquele momento?
Lembrei-me, emocionada!  Na noite anterior, ao orar com meus netos recostados ao meu lado, enquanto meditávamos, segurei o pé esquerdo do Gabriel.  Comecei  a acariciá-lo pensando: ( o que repeti para ele, em seguida)
----Como seus pés se parecem com os do seu avô Paulinho!  Que semelhança incrível! Parece-me que ainda estou a  acarinhá-los!...
Senti doída saudade de tantos momentos!... Dos Pés?!    Sim!  Daqueles pés que sabiam dar afetuosos e inesperados beliscões.  Dedos mágicos, atrevidos e silenciosos que seduziam deliciosa e suavemente!   Herança materna! ( sua mãe conseguia surpreender aos filhos dando-lhes afetuosos/severos beliscões!)
Ah, os genes que trazemos e não sabemos de quem...  Ou sabemos?!  Não importa!  Alguns são dominantes,  persistentes!
Voltando aos pés... do meu neto e ...do meu amado...  Pés bonitos, bem torneados, ágeis, de bela postura!  Ah, as tocantes  reminiscências!
 Bem, terminadas as orações e os beijos de  boa noite, carreguei noite adentro, aquela imagem auspiciosa;   outrora, bem vivida, dessa vez , afetuosamente revivida  na figura de um descendente...
Como poderia imaginar que, após aquela lembrança  noturna receberia exatamente, no dia seguinte,  ao primeiro encontro do curso em questão, ou seja, SOULCOLLAGE, a gravura de um pé para ser “estudado” e recortado para compor a primeira carta do meu “ Baralho da Alma”?
Heranças genéticas, afetos e amores vividos, fatos inesperados a nos envolver no cotidiano,  certos possíveis “distúrbios” a driblarem nossa emoção, por outro lado, felizes conquistas sonhadas, inesperadas a propiciar o sabor  da vitória;  tudo isso nos leva a um enigmático pensar:  a complexidade da vida e a inigualável beleza da sua existência indefinida, seu estágio terrestre e o deslumbrar contagiante dos efeitos espirituais em cada criatura!
Enfim, nosso Ego a exercitar cada instante vivido a cada pulsar do nosso corpo transitório desejoso de resultados satisfatórios, “premiados” e benéficos.  Felizes os providos de fé, encorajados pela confiança em uma  força maior, gratos  pelas heranças afetivas e genéticas.
Assim caminha a Humanidade!

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Simbiose



Ivana Maria França de Negri

Era ela e o gato. Ninguém mais. Os dois se entendiam numa simbiose perfeita.
Pela manhã, enquanto fervia a água para o café, a moça colocava o leite no pires do gato. E ambos sorviam com gosto suas bebidas prediletas. Ela, o café fumegante e amargo, e ele, o leite morno e adocicado.
A mulher era escritora. Nos dias em que vinha alguma inspiração, não parava de digitar e seus dedos dedilhavam freneticamente as teclas do computador. Ficava por horas, às vezes dias, ali, como que hipnotizada, presa ao texto, entranhada nele. E o gato sabia, por pura intuição, que nesses momentos era melhor silenciar. Ficava num estado de semi-dormência na almofada da poltrona azul, ao lado da sua dona. Nada de pedir que ela suprisse suas carências e dengos.
 A sintonia entre os dois seres diferentes era tanta que um sabia o que o outro necessitava, se silêncio e sossego, ou algazarra e explosão de alegrias.
Ao longo de vários anos de convivência, ele aprendeu a compreendê-la e respeitava seus surtos de inspiração. Nesses momentos nem solicitava sua atenção. Sabia que quando a obra estivesse terminada, ela voltaria à normalidade, brincaria, faria afagos em sua barriga e conversariam como sempre faziam. Falaria palavras carinhosas e ele responderia com miados breves ou longos, conforme pedisse a situação.
Naquele relacionamento único, não cabiam mais pessoas ou bichos. Os dois se bastavam.
Bicho/gente, gente/bicho, em sintonia perfeita, dois seres diferentes, mas de um mesmo Criador.


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

SONHO





  CarmeLina de Toledo Piza

 

Busco o eu e sinto o renascer

Do velho álamo em mim.

Nasce o broto para satisfazer a alegria

De acontecimentos mágicos.

 

Colher com esperança o cuidar,

E o doar de cada broto que nasce

Na ânsia de esperar

Cada dia e cada noite adentro.

 

Sonho e uivo com lobos

Sou eu a loba a uivar

Nas imagens que desenho

De cada mulher a uivar.

 

Na suavidade da vida de cada ser

Quero externar a minha sabedoria

Nos símbolos e mitos do meu aprender

E nas viagens de regresso aos lugares que um dia passei.

 

Quero encontrar as velhas mulheres

Que um dia uivaram com as próprias histórias a contar

E correram com lobos no deserto da vida,

Mas aprenderam o que é amar.