Lino Vitti Cadeira n° 37 - Patrono: Sebastião Ferraz
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Estabilizadas as
andanças do destino à cata de um oásis onde repousar das preocupações da vida,
depois da busca do meu lugar ao sol, passei a sonhar em termos de jornalismo,
dentro da qual esperava dar vazão aos pruridos escrevinhantes cultivados dentro
de mim como coisa inata e apenas dependentes para vir a lume, desse formidável
meio de comunicação humana como são os jornais diários.
À época floresciam o “Jornal de Piracicaba” e “O
Diário de Piracicaba”, um e outro trazendo em seu âmago as explosões
articulísticas, editorialísticas, poéticas, cronísticas, literárias, de
pináculos redatoriais da nata intelectual da terra, o que despertava em mim
doses compactas de santa inveja. Inveja santa que me levou a procurar um
cantinho, uma brechinha, para poder integrar tão magnífica legião de tão
ilustres penas jornalísticas.
Abriu-me a brecha desejada o saudoso amigo Acari de
Oliveira Mendes, encaminhando-me ao Diretor Losso Neto que, não só aprovou a
idéia do Secretário do Jornal , mas festejou o acontecimento com alegria e
feliz por poder escancarar-me as portas do Jornal, para lá dentro escrever em
prosa e verso tudo quanto à cuca me viesse. E aí, no horário noturno que às vezes
alcançava meia-noite prá mais, redigi, poetei, croniquei, invadindo não raro o
campo dos artigos e editoriais, aliás reservado para Losso a Acari, e para
muitos cobras que manejavam com maestria a lança da imprensa.
E lá se foram 25 ou 30 anos, martelando as velhas
máquinas da redação (algumas tipo martelinho mesmo: lembra, Zé ABC?) escrevendo
de tudo. Ficou-me na lembrança mais profundamente foi mesmo a crônica “O Prato
do Dia”, criada e mantida pelo Tuca e por mim continuada, depois dele, por
cerca de seis a oito anos.
Crônica é um pedacinho do jornal onde algum afoito
redator escreve sobre tudo, sobre a gente e os fatos da cidade, sobre coisas da
roça, sobre as mutações das horas da natureza, sobre os sonhos que superlotam
as cabeças humanas, sobre as realidades e irrealidades da vida, sobre
intimidades, preocupações, opiniões, críticas e louvores que sempre andam a
povoar a imaginação dos cronistas.
Crônica é o que estou escrevendo (assunto que nada tem
a ver com inflação, governo, poderes públicos, etc.) de maneira
irresponsávelmente poética, pois tem a crônica, como especial finalidade,
agradar aos cérebros leitores, sem forçar, sem exigir, sem falar mal do que e
de quem quer que seja. Crônica é o que escreve aí na segunda página o Cecílio,
como eu tentando colocar para fora, de uma forma sublimada, idéias estranhas e
discordantes, pensamentos gostosos, com sabor de uva, para que o leitor, se for
bom mesmo, vá tirando da sua leitura o delicioso vinho dos tropos literários,
das metáforas, das antíteses, dos contrastes, das comparações, das sínteses,
dos pleonasmos, da invocação, etc., chegando ao final da tirada cronística de
cabeça aliviada, alegria e aprovação por haver o cronista conseguido
arrebatá-lo, por um pouquinho, do chão da vida, para o céu do sonho e da
fantasia.
Vocês repararam como os cronistas escrevem muito de
si? Por que será? Que coisas têm eles tanto no seu íntimo forçando uma saída,
através dessa maneira de arte, para ir
provocar sentimentos, de aprovação às vezes, de discordância, outras, num ou em
muitos leitores em geral desconhecidos, de cultura desconhecida, de idade
desconhecida? Quem lhes deu esse direito de mexer com a alma dos outros,
provocar reações diferentes, gostar ou não gostar, aprovar ou rejeitar o que as
linhas da crônica vão desfilando aos milhares de olhos leitores, para que
saibam, por exemplo, que Lino Vitti é um eterno roceiro, que Cecílio é um
perpétuo ponto de interrogação?
Isto são as crônicas, isto são os cronistas.
Obrigado, leitor, por tudo quanto supuseres ou lá no
teu íntimo engendrares, sobre crônicas e sobre cronistas.
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