Rio Piracicaba

Rio Piracicaba
Rio Piracicaba cheio (foto Ivana Negri)

Patrimônio da cidade, a Sapucaia florida (foto Ivana Negri)

Balão atravessando a ponte estaiada (foto Ivana Negri)

Diretoria 2022/2025

Presidente: Vitor Pires Vencovsky Vice-presidente: Carmen Maria da Silva Fernandes Pilotto Diretora de Acervo: Raquel Delvaje 1a secretária: Ivana Maria França de Negri 2a secretária: Valdiza Maria Capranico 1o tesoureiro: Edson Rontani Júnior 2o tesoureiro: Alexandre Sarkis Neder Conselho fiscal: Waldemar Romano Cássio Camilo Almeida de Negri Aracy Duarte Ferrari Responsável pela edição da Revista:Ivana Maria França de Negri

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segunda-feira, 29 de março de 2021

PÁSCOA



Cássio Camilo Almeida de Negri

 

A Páscoa para os judeus é a comemoração da fuga do Egito, isto é, a transformação do modo de vida escravo, sob o jugo do faraó, para sua libertação, que seria a ressurreição desse povo.

Quando fogem enfrentam vários obstáculos, como o mar vermelho, que se abre para a passagem, fechando a seguir e matando seus perseg uidores.

Após, o povo judeu se vê no deserto, desesperado, mas mantendo sua meta de encontrar a terra prometida.

É como se essa multidão estivesse escravizada à matéria, representada pelos egípcios (os judeus tinham uma vida relativamente boa lá, Moisés era conselheiro do Faraó) mas algo os fazia querer renascer como povo liberto, na Canaã, apesar  de terem que sofrer ainda por quarenta anos no deserto.

A Páscoa para os cristãos é a ressurreição de Jesus, isto é, ele morre como Jesus e ressurge como Cristo, pois Cristo em grego significa iluminado.

Isso explica o porquê de Jesus na cruz, em seus últimos momentos, ainda ter dúvidas e perguntar: “- Pai, porque me abandonaste?”

Nesse instante ele ainda não vivenciava ser um Cristo (um iluminado), apesar de toda sua sabedoria.

O significado de ressuscitar é que Ele deixou a consciência de que era um corpo e passou a vivenciar a consciência de que era uma alma, um espírito, uma emanação divina.

Como dizia São Francisco:“-...é morrendo que se vive para a vida eterna”.

Tem que morrer a consciência de que somos o corpo e renascer a consciência vívida de que somos a alma.

Também dizia São Paulo: “- Já não sou eu quem fala, mas o Cristo (o eu iluminado) que vive em mim.

Daí também o significado do ovo de páscoa , o ser que vive dentro preso pela casca (que seriam os desejos, a consciência de que somos o corpo), e consegue com muito sacrifício e com o seu próprio esforço, rompê-la e se libertar dessa prisão.

Por isso, talvez, as crianças não gostam de ganhar ovo de chocolate sem nada dentro, elas preferem o ovo que tem algo no seu interior, pois seu conteúdo, que representa o ser verdadeiro,  está no inconsciente coletivo.

Nós pensamos que temos alma, mas alma nos não temos. Temos casa, carro, emprego, filhos, pais, esposa, mas alma nós não temos, nós somos!

As religiões normalmente ensinam que temos alma, o que é errado, pois isso nos faz sentir, inconscientemente, que somos o corpo e que temos um espírito que é outra coisa e não nós mesmos.

Portanto, a Páscoa é um grande momento para meditarmos que nossa consciência de corpo deve morrer e daí ressurgirmos na consciência de que somos a alma e então vivenciarmos isso.

Esse conhecimento é tão simples, está dentro de cada um, mas para vivenciarmos essa verdade devemos enfrentar o mar vermelho, anos de deserto, o sofrimento na cruz da matéria e então, ressuscitarmos como Cristo, um ser iluminado, que não tem alma , pois é a própria alma.

sábado, 27 de março de 2021

A HISTÓRIA



Carmelina de Toledo Piza 

Apareceu por aqui. Qual seu nome? Onde mora? O que faz? Veio de onde?

Nada sei sobre a mulher roliça, alegre, de sorriso solto e olhos verdes rasgados. Ri gostosamente e cantarola uma canção que ninguém entende.

Sempre no mesmo horário desce todas as manhãs a rua onde moro. Pode acertar um relógio ou esperar pelo ônibus com sua pontualidade.  Aprendi a hora com o sol e com a lua, diz ela.

Desenho, recorto e visto você em cores, mulher. Estou perdida nas minhas divagações.

As velhas carolas e beatas sentem medo dela. Dizem que ela tem parte com “o coisa ruim”. As crianças a adoram. Correm ao seu lado e tentam aprender a canção. É difícil. Não entendem. Mas acompanham nas palmas das mãos e no sapatear dos pés. 

Chamam-na de – A HISTÓRIA.

Olho para você

... sei que estará ao meu lado nos momentos difíceis.

Mesmo quando ouço os ribombos fortes dos trovões assustadores.

Ela vive em um mundo de mistérios. Sem mestres, sem perguntas ou respostas. É uma incógnita, uma surpresa, o mundo é dela. A vida, vivida e atrevida de uma mulher, que talvez tenha nascido sob a pressão de um destino monótono e estéril que ela não quer ver e sentir. De momentos ridículos cheios de vulgaridades que ela esnoba e desaprova no seu mundo de ilusões e delicias.

Sinto você

... ao meu lado nos melhores e piores momentos.

Com seu jeito de andar, sua elegância, suas pausas e seus movimentos. Talvez pelos seus olhos rasgados e verdes observando tudo. As mãos ágeis balançam e gesticulam como folhas das árvores ao vento. Unhas de gavião, sempre pintadas de vermelho. As roupas são coloridas, justas, marcam as formas roliças. Cores berrantes: amarelo e roxo; preto, vermelho e verde; azul e laranja.

Você faz parte da minha vida, da menina que fui um dia.

Você tem história. Aprendeu em algum lugar, em algum ponto qualquer do universo que guardou na lembrança.

Busco você

... para permanecer ao meu lado na labuta da vida,

... preciso da sua companhia,

... aguardo ansiosa as suas falas, suas risadas, seu olhar e o cantarolar das canções que nunca entendi e jamais esqueci.

Você continua descendo a rua todos os dias rindo e cantarolando, mas à tarde já não sobe a rua tão só. Alguém segura a sua mão.

Descobri o quanto você é importante para mim. Deito-me à sombra da árvore frondosa da mesma floresta da infância que nos uniu nas memórias das velhas histórias.

terça-feira, 23 de março de 2021

O AMOR É A NOSSA MARCA



Lídia Sendin

 

Foi na cruz, sim, numa cruz,

Que por nós foi imolado

O cordeiro, que é Jesus,

Que venceu morte e pecado.

 

É preciso ser marcado

Com o sangue do cordeiro,

Ele foi crucificado,

Deu sua vida por inteiro.

 

Uma casa protegida

Leva a marca do Senhor,

Ser marcado é ter na vida

Toda a fé, obra e amor.

 

E, no sangue derramado,

Que mostrou o amor perfeito

E livrou-nos do pecado,

Cristo disse: Está feito!

 

Mas, não estava terminado,

Nada acabou na cruz,

Ressurgiu o imolado,

Para nós voltou Jesus.

 

terça-feira, 16 de março de 2021

Páginas Viradas


           
                                                           Leda Coletti

                 Quantas páginas da história do povo brasileiro já foram viradas!  Nelas vemos estampadas as trajetórias, que na maioria das vezes foram marcadas por episódios tristes. Vejamos a dos nossos nativos, os índios, os quais por ordem natural são cem por cento brasileiros. Desde quando os portugueses aqui chegaram e mais tarde também outros estrangeiros, foram dominados por estes, com repercussão em suas manifestações culturais, religiosas.                                                    
Com a escravidão, a história foi enegrecida pela dura lida a que foram submetidos os escravos africanos por grande número de patrões ambiciosos, geralmente beneficiados pela coroa portuguesa, que  os  tratavam como  mercadorias suas e não como seres humanos. Quanto sofrimento e tristeza vividos nas senzalas e açoites nos pelourinhos!                              
            Pela imigração europeia, depois a oriental, o Brasil poderia ser como esperavam os imigrantes: “terra onde corre o ouro e tudo dá”. Mas, no início dessas colonizações, nossos antepassados passaram muitas privações e necessidades. Se não fosse a garra desses povos, que buscavam melhores condições para a família, a história brasileira não conheceria o valor da aculturação, que o faz tão diferente e tão rico na diversidade da sua herança social e cultural.                                                                                              Graças a essa criatividade e experiência do povo brasileiro com tanta coragem e vontade de acertar, surgiram as indústrias nas cidades em formação e com elas o êxodo rural, que ocasionou a migração do homem do campo  para centros urbanos, bem como de estados mais  pobres economicamente, para os mais desenvolvidos. Os acertos e erros se sucederam quer na forma de governo imperial, quer mais tarde, pelo republicano e persistem na época atual. As páginas da história de nossa gente, com raras exceções são repletas de acontecimentos negativos. E o vilão maior só tem um nome: Poder.                                           
            Apesar dos desmandos políticos, a maioria do povo brasileiro é otimista. Analisa o gigante que é nosso país com tanta riqueza natural. Só para usar um exemplo dentre muitos: nossa Floresta Amazônica, considerado o pulmão do mundo. Também nosso solo com riqueza mineral abundante e tão propício para a agricultura polivalente! Isso sem contar as belezas naturais, que o fazem um dos mais belos do mundo!
            Na nova página a ser escrita, nós que temos esperança em dias melhores, sonhamos mudanças acalentadoras. Ainda  acreditamos em milagres e esperamos antes de partirmos para outras dimensões, o “sol da liberdade, a brilhar no céu da nossa Pátria” e podermos ainda escrever: “ Vimos um final feliz”


domingo, 14 de março de 2021

POETISA


Ésio Antonio Pezzato

A mulher quando canta ao som da brisa
E em delírios de amor cria seus versos,
Ruge em revolução os universos,
E a Beleza é sublime e suaviza.

Quando com o coração e olhos imersos
A alma que é pura em lágrimas desliza,
Ela é mais que Mulher – é Poetisa,
Na amplitude dos sonhos mais diversos.

Da Mulher a arma pura e sacrossanta,
É posta num altar – torna-se santa
E com sonoridade nos avisa:

Eu sou Mulher – é esse o meu destino:
De cantar o meu verso cristalino
Não sou Poeta, não, sou Poetisa.

terça-feira, 9 de março de 2021

Projeto Poema na Caixa

 

Concepção gráfica: Fernanda Napoleao Gilioli Oliveira  

 

Todo ano, o Centro Literário de Piracicaba distribui de centenas de poesias nas praças, shoppings, bibliotecas, hospitais, lares de idosos e outros logradouros, em comemoração ao Dia da Poesia.

Neste ano, por conta da Pandemia, não dá para organizar eventos presenciais.

A escritora Silvia Oliveira, através de um contato de Santa Catarina, o poeta  Dino Gilioli, recebeu o convite para que os grupos literários de Piracicaba - Centro Literário de Piracicaba, Academia Piracicabana de Letras e Grupo Oficina Literária de Piracicaba, aderissem ao projeto Poema na Caixa, que consiste em deixar pequenos poemas nas caixas postais das casas com uma breve explicação do que se trata.

Se quem receber um poema em sua caixa postal quiser participar também, pode fazer cópias das poesias que recebeu, ou imprimir suas próprias e deixar em outras caixinhas de correio.

Vale poesia ilustrada, com gravuras, desenho, colagem, digitadas, escritas à mão, tudo o que a imaginação criar.

Mãos à obra!


 

 

segunda-feira, 8 de março de 2021

Dia Internacional da Mulher


 

A HISTÓRIA

Carmelina de Toledo Piza

Apareceu por aqui. Qual seu nome? Onde mora? O que faz? Veio de onde?

Nada sei sobre a mulher roliça, alegre, de sorriso solto e olhos verdes rasgados. Ri gostosamente e cantarola uma canção que ninguém entende.

Sempre no mesmo horário desce todas as manhãs a rua onde moro. Pode acertar um relógio ou esperar pelo ônibus com sua pontualidade.  Aprendi a hora com o sol e com a lua, diz ela.

Desenho, recorto e visto você em cores, mulher. Estou perdida nas minhas divagações.

As velhas carolas e beatas sentem medo dela. Dizem que ela tem parte com “o coisa ruim”. As crianças a adoram. Correm ao seu lado e tentam aprender a canção. É difícil. Não entendem. Mas acompanham nas palmas das mãos e no sapatear dos pés. 

Chamam-na de – A HISTÓRIA.

Olho para você... sei que estará ao meu lado nos momentos difíceis.

Mesmo quando ouço os ribombos fortes dos trovões assustadores.

Ela vive em um mundo de mistérios. Sem mestres, sem perguntas ou respostas. É uma incógnita, uma surpresa, o mundo é dela. A vida, vivida e atrevida de uma mulher, que talvez tenha nascido sob a pressão de um destino monótono e estéril que ela não quer ver e sentir. De momentos ridículos cheios de vulgaridades que ela esnoba e desaprova no seu mundo de ilusões e delicias.

Sinto você

... ao meu lado nos melhores e piores momentos.

Com seu jeito de andar, sua elegância, suas pausas e seus movimentos. Talvez pelos seus olhos rasgados e verdes observando tudo. As mãos ágeis balançam e gesticulam como folhas das árvores ao vento. Unhas de gavião, sempre pintadas de vermelho. As roupas são coloridas, justas, marcam as formas roliças. Cores berrantes: amarelo e roxo; preto, vermelho e verde; azul e laranja.

Você faz parte da minha vida, da menina que fui um dia.

Você tem história. Aprendeu em algum lugar, em algum ponto qualquer do universo que guardou na lembrança.

Busco você

... para permanecer ao meu lado na labuta da vida,

... preciso da sua companhia,

... aguardo ansiosa as suas falas, suas risadas, seu olhar e o cantarolar das canções que nunca entendi e jamais esqueci.

Você continua descendo a rua todos os dias rindo e cantarolando, mas à tarde já não sobe a rua tão só. Alguém segura a sua mão.

Descobri o quanto você é importante para mim. Deito-me à sombra da árvore frondosa da mesma floresta da infância que nos uniu nas memórias das velhas histórias.

 


HÁ UMA MULHER EM MIM

Sady Carnot

            Claro que há uma mulher em mim, que me faz ser o homem que sou.

            Dentro de mim, existe a ancestralidade de minhas tataravós, bisavós, avós, tias, madrinha, minha mãe, minha esposa, minha Anima. Erros e acertos me foram ensinados, risos e lagrimas me foram mostrados.

            Há em mim a Mãe Terra e todas as deusas do panteão grego, romano, africano, além de Maria e Madalena. Como não ter o feminino dentro de mim?

            Como poderia ser um homem, seu meu oposto, neste planeta em que tudo é dual, como poderia ser individual?

            Celebro essas mulheres, não só no Dia Internacional delas, mas todos dias enquanto respiro, pois foi graças a ela, que posso estar escrevendo isto.

            Ah! Minha mãe, que saudade me dá, de cada carinho, cada encostar minha cabeça em seu peito, de cada bronca, de cada sorriso terno.

            Quando chorei de fome pela primeira vez, você me saciou e neste momento me ensinou a ter fé de que poderia esperar pelo próximo saciar, vindo de você e de Deus.       Como entender o Filho, sem Maria, a Grande Mãe Divina. Gratidão às mulheres que existem em mim.

 


Joia dos meus sonhos

Leda Coletti

Joia dos meus sonhos !... Deixo escapar em voz alta minha admiração e a musa me sorri tão bonita!! Como que embalada pelas palavras acariciantes, desliza nas águas de um caudaloso rio suavemente. Parece mesmo sumir numa densa névoa de esplendor. Vou ao seu encalço mas, ela num rodopio gostoso, desaparece nas águas claras e profundas.

Fico estático, olhando fixamente para o ponto onde sumiu. Sua impressão deveras forte continua a ocupar o espaço a minha frente. Acompanho sua trajetória até o fundo do rio, e consigo enxergá-la na paisagem embaçada, recostada ás outras companheiras. Seu colorido se sobressai sobre as de diferentes matizes, lembrando ouro, esmeraldas. Nelas se recosta tranquila  e soberana.  No silêncio  se impõe

Sou mesmo um felizardo, pois  vou ao seu encontro e candidato-me a embalar seu sono repousante e velar pela sua proteção. Construo para ela um nicho incrustado de diamantes, safiras, ouro. Nada quero em troca. Só o puro prazer do êxtase.

E, nessa magia de deslumbramento, acordo sobressaltado, com o tilintar de algo próximo a  mim. O despertador era, pois eu conhecia muito bem o  seu som estridente e mais demorado.

Procurei o objeto do barulho, causador da interrupção do sonho inesquecível.

Qual não foi minha surpresa ao constatar que se tratava da aliança de ouro de minha mulher, que a deixara no criado-mudo. Acredito que devo tê-la derrubado ao solo com o meu braço direito, ávido em tocar a musa dos meus sonhos. Apanhando-a, observei sua parte interna, onde estava meu nome gravado. Olhei enternecido para  a mãe dos meus dois filhos que dormia sossegada, e sussurrei-lhe ao ouvido: -“mulher, você é joia mais linda que possuo na vida ! “.

 


MULHER

Ludovico da Silva

            Alguém já deve ter visto uma caricatura em que uma mulher é arrastada pelos cabelos por um brutamontes, em direção a uma caverna.

Era assim que a mulher era tratada. Como uma verdadeira escrava.

            O homem era o seu dono e  podia dispor dela como que quisesse e bem entendesse.

            Esse tempo já passou.

            Hoje, a mulher se situa, merecidamente, em igualdade de condições com o homem.

            Essa posição não foi alcançada ao sabor da luz do sol ou da mudança da lua.

             É preciso um recuo até a década de 50 do século XIX, quando mais de uma centena de mulheres de uma indústria têxtil, da cidade norte-americana de Nova Iorque, entrou em greve, por melhores condições de vida. Pagaram com suas próprias vidas, mas seus gritos ecoaram pelos anos futuros e pelo mundo afora.

            Essas mulheres fizeram história e hoje merecem ser reverenciadas pelo que conquistaram.

            Aos poucos, foram alcançando vitórias, quebraram tabus, garantiram direitos e continuam desafiando e reivindicando sempre posições legítimas, na sociedade como um todo.

            E tem mais. Tudo isso, sem se afastar da sagrada missão materna.



NEGRA VELHA

Cássio Camilo Almeida de Negri

 

Lá estava ela, sentada na cadeira de balanço. A cada ranger, se encadeava um pensamento.

A velha era magra, com parcos cabelos brancos que tentavam cobrir o couro cabeludo brilhante.

Quando ainda saía às ruas, sempre cobria a cabeça com um pano florido, não se sabe se inconscientemente, relembrando o costume africano, ou se era mesmo para cobrir a careca já iniciada.

Agora, naquela cadeira, com a bengala ao lado, somente recordava. Há setenta e cinco anos, lembrava da menina magrinha, cheia de trancinhas, perambulando pelas ruas a lutar espertamente a fim de ganhar um doce ou um sorvete na venda.

Na época de frutas, lá ia ela com uma cesta de vime a vender limões, mangas e até tamarindos. Lembrava-se sempre do conselho de sua mãe, pois não conhecera o pai.

- “Nunca roube, peça, pois pedir não é feio. Feio é roubar!”.

Seguiu aquele conselho por toda a vida, ensinava-o a todos os que cruzavam o seu caminho. Agora, ali na cadeira, lembrando isso, sorria feliz.

Quantas vezes seus pés descalços não se queimaram nos paralelepípedos quentes, ao sol do meio dia, nos dias de verão, quando na porta do mercado se oferecia para levar as sacolas das madames, cheias de quitutes que ela nunca iria comer, e lembrava o conselho de sua mãe. Das sacolas que levava nunca sumira nada!

Então, seu rosto, que ostentava um buço branco, fazia com que as extremidades se levantassem num sorriso feliz.

Quando um caco de vidro, ou espinho, penetrava na grossa sola dos pés curtidos na terra batida ou no cimento vermelhão, lá ia ela, com uma agulha de costura, bancar o cirurgião para retirá-lo.

Lembrava o prazer que sentia quando conseguia fisgá-lo e trazê-lo para fora. Então, sua face, mais uma vez se iluminava com um sorriso naquela boca murcha e desdentada.

Sempre fora feliz, nunca reclamara da vida, vida esta, que foi um eterno servir. Servir, doar, ter compaixão, esta era a sua sina.

No entanto, nunca interpretara isso como sina ou missão. Servia apenas porque servia, doava apenas porque doava.

Diferente da oração de São Francisco “é doando que se recebe”, nunca esperou receber nada de volta. Apenas doava.

Seu bisneto, hoje com 18 anos, dizia que ela era ignorante, ao que a velha negra repetia:

- “É mesmo, sou ‘inguinorante’!”

E naquele dia, seus olhos semi-cerrados , um sorriso no rosto, lágrimas nos cantos dos olhos, já quase 6 horas da tarde. Os estalos do balançar foram diminuindo a frequência, até que pararam.

Dias após, no Centro Espírita, em meio à luz de felicidade que fez todos ao redor da mesa mediúnica chorarem, ela mandou uma mensagem dizendo que o próprio Zumbi dos Palmares, junto com São Francisco de Assis, vieram recebê-la quando saiu do velho corpo negro.

 


Os dedos de Rosa Carmen

        Luciano Martins Verdade


Sei que vou morrer

não sei o dia

e o remorso talvez seja a causa do meu desespero.

Mas sem desespero

levarei saudades de Rosa Carmen

o que, não sendo uma rima

é tampouco uma solução.

Sei que vou morrer não sei a hora

e serei sempre teu

catito, catito catito, mio

numa batucada de bamba

gravada em estéreo em compact-disc

na cadência bonita do samba

dos teus dedos serenos de mãe

em meus cabelos revoltos de filho

em tantas noites sem fim

em que se iam os dedos

mas ficavam os cafunés.

Porque os filhos são todos iguais

por mais iguais que não sejam.

Porque busco em minhas entranhas tuas ideias

e não as encontro

mas encontro a música dos teus dedos,

fazendo caminhos de rato em meus cabelos

até que eu durma

sem saber o dia

sem saber a hora

sem remorso

nem desespero.

AVE MULHERES

Ivana Maria França de Negri

Ave mulheres

     Cheias de graça

           Benditas sois                                 

              Entre todas as criaturas

                  Abençoados os frutos

                      De vossos ventres

 

                     Santas Marias, Anas

                 Beneditas, Joanas

             Martas, Madalenas

          Sofias, Helenas

       Bem-aventuradas as sementes

  Gestadas em vossos úteros

                   Amém 

 

Mulher-flor

Tecelã do cotidiano

      Dulce Fernandez

 

Ajeita pensamentos

Nas gavetas da cômoda;

Despenteia recordações

Com ramos de luar;

Mistura mistérios e fantasias

No liquidificador dos sonhos;

Joga tristezas e amarguras

Pela janela da sala;

Digita versos de amor

No teclado das ilusões;

No piano da sedução

Toca música de magia;

Com o eco das sombras

Acende achas de desejo;

Como cores do arco-íris

Cobre o corpo em febre intensa;

Na água fria do chuveiro

Desperta a alma;

Pendura nos varais

Retalhos de vivência;

Com suspiros do vento

Golpeia teias de saudades;

Esconde lágrimas doloridas

No relicário do silêncio...

MULHERES

Andre Bueno Oliveira

 

  Brilho nos olhos, doce encanto,

  rosto molhado pelo pranto,

  sorriso alegre no semblante,

  amiga, mãe, esposa, amante!

 

  Do lar, da vida, secretária,

  remunerada  ou voluntária,

  juíza , médica, estudante,

  estéril, fértil ou gestante!

 

  Laboriosa, toda suada,

  toda elegante e perfumada,

  de coração nobre e profundo,

  reverenciada em todo o mundo!

 

  Diz “Não” quando a vontade é “Sim”...

  É complicada... mas enfim,

  tente entendê-la quem puder!

  Mulher! Mulher! Mulher! Mulher! 




A FORÇA DA MULHER

Aracy Duarte Ferrari

 

Palavra fortemente

Enunciada,

Sonhos acalentados

Personificados

Em sentimentos…

 

Essência do belo

A suprir desejos

E expectativas!

 

Mulher! Na alma e no espírito

O instinto materno,

Familiar e harmonioso...

 

Prudência, equilíbrio terno,

Para conquistar espaços.

E bom senso no desenrolar das

Sequências e consequências!

 

 

Mulheres

Paulo Ricardo Sgarbiero

 

Ah! Estas mulheres

Não há como delas falar,

Sem eventualmente alguém plagiar,

Pois estamos sempre a contar

O quanto é bom a elas amar.

 

O amor do pai,

Que não importa o tempo que passar,

Dela sempre vai querer cuidar,

De tudo e de todos proteger,

Até o dia em que perecer.

 

O amor do filho,

Que dela tanto depende,

Que lhe entrega o alimento e o defende

De todo tipo de inconveniente

Que ponha em risco seu eterno carente.

 

Do marido,

Que de todo o coração,

Busca lhe dar atenção,

Atendendo suas necessidades,

E sempre lhe trazer felicidade.

 

Não importa quem seja,

E também o que deseja,

Pois sem uma mulher presente,

Será sempre um padecente.

 

 

Mulher Empoderada

Ésio A. Pezzato

 

A força da mulher empoderada,

Deixa-a mais bela, rígida e mais forte,

Altiva – sem jamais perder o porte,

Essa mulher é luz na madrugada.

 

Vence e se vangloria na jornada,

Seus olhos brilham sempre para o norte,

Jamais se queda junto à crua morte,

Essa mulher contém alma encantada.

 

Sorri – e a força e graça do sorriso,

Ensinando caminho do paraíso,

E segue sempre em seus ardentes passos

 

A jornada da vida mais completa.

Sendo mulher – tem alma de poeta,

E sendo musa em si tem os espaços.



A você, Mulher!

Ana Lucia Stipp Paterniani

 

Que traz encantamento

a esta feliz cidade.

Que tem a graça de contar,

entre outras delícias,

com essa sua dança...

 

Que traz o ritmo de quem menstrua

amamenta, sua

inventa mil maneiras criativas

de exercer o seu ofício,

sem deixar de ser mulher...

 

Pra cuidar de tanta gente:

família, colegas, amigos

e toda a população...

Só mesmo sendo um pouco feiticeira

e tendo um enorme coração

 

Que possa então ter sempre

seus direitos respeitados,

seu valor reconhecido

E assim viver sua vida

com muita dignidade.

 

E para aquelas que já partiram

para outras vidas,

que recebam, numa prece,


Galeria Acadêmica

1-Alexandre Sarkis Neder - Cadeira n° 13 - Patrono: Dario Brasil
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
7-Barjas Negri - Cadeira no 5 - Patrono: Leandro Guerrini
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
9-Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto - Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
12-Edson Rontani Júnior - Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
14-Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal - cadeira no 31 - Patrono Victorio Angelo Cobra
15-Evaldo Vicente - Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz
16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Gregorio Marchiori Netto - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
25-Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins - cadeira no 26 Patrono Nelson Camponês do Brasil
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Sílvia Regina de OLiveira - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz