Ivana Maria França de Negri
De quando em quando aparecem
palavras não usuais que caem no gosto popular
e viram modismo. E são pronunciadas em todas as bocas, nas rodas de
conversas, grupos, mídias e redes sociais, que acham o máximo usar esses
neologismos.
Algumas dessas palavras até constam nos
dicionários, mas outras, sequer figuram neles. Muitas, já quase mortas,
renascem com sentido diferente de seu significado original.
Pois bem, a bola da vez agora é a
palavra “desconstruir”. No Aurélio: causar destruição, desfazer, destruir,
desfazer para voltar a construir.
Eu, particularmente, acho horrível desconstruir alguma coisa.
Construir sempre! A não ser que seja algo muito maléfico que deva ser extirpado
pela raiz.
Assisti a uma entrevista na TV apresentando uma pseudo poeta
que dizia que era preciso desconstruir a poesia clássica e todo seu aparato de
regras, composições, rimas e formas fixas para dar espaço à poesia de rua, do
povo, de versos sem compromisso algum com métricas e rimas. E a apresentadora aplaudia
e vibrava!
Talvez elas não saibam, mas a poesia de versos livres, que
não precisa seguir padrões, sempre existiu, assim como os poemas de forma fixa,
com todas as suas rígidas normas. Não é preciso desconstruir um para exaltar o
outro.
E eu fiquei pensando
com meus botões... Como “desconstruir” a maravilha que é um soneto? Ou uma
trova bem feita, um rondó, uma balada de métrica perfeita? E as rimas ricas?
Que orgulho quando conseguimos encaixar várias delas num mesmo poema! Se essa
“desconstrução” ocorresse, como sugeriu a moça, seria uma tragédia, mais uma
chacina nas artes.
Outra palavra pouco simpática que vemos
em todas as mídias e utilizada erroneamente é “empoderamento”. Em certos
contextos deveria ser substituída por emancipação, autonomia, pois poder, nos
dicionários, é literalmente a faculdade de exercer a autoridade ou a posse de
domínio, influência, através da força ou dinheiro. A sociologia define poder
como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo que eles resistam.
Estão vendendo a ilusão de que todos devem “empoderar-se”, ganhar poder, e subentendido,
subjugar outras pessoas.
O termo “feminicídio” também está sendo largamente empregado
quando uma mulher é assassinada. Homicídio significa matar um ser humano, o
Homo Sapiens. Mas desde que a presidenta (?) não querendo usar um termo
que achou machista, inventou a pérola “Mulher Sapiens”, esses
neologismos começaram a ser disseminados.
Nos discursos em solenidades de eventos culturais e sociais, a
redundância “boa noite a todos e a
todas”, virou febre. Estão confundindo gênero gramatical com gênero sexual! Todos
é um pronome indefinido genérico.
Concluímos que o que está ocorrendo, não é apenas o mau emprego
de neologismos e sim o gramaticídio, que
nada mais é do que o assassinato da gramática da nossa última flor do
Lácio, inculta e bela...
*Texto publicado na Gazeta de Piracicaba
Comentário da escritora Myria Botelho na Gazeta de Piracicaba