Deserto Urbano
Desterro
cotidiano
Carmen Pilotto
“Refugiado:
pessoa que foge em função
de um bem
embasado medo de perseguição
devido à raça, religião,
nacionalidade,
pertencimento a
um determinado
grupo social, ou
opinião política”
Convenção
de Genebra de 1951
O mundo perde vorazmente sua geografia
Prenunciando a altos brados o final dos tempos
Nas bombas que explodem em cada esquina...
Eu, refugiado, expatriado em meu próprio exílio
Ser ignóbil, sorrateiro viandante, caminhante a esmo
Na história sem espaço ou demarcação que me acolha
E na pele o sinal cabal da sentença que não oferece
opções.
Depauperados e trôpegos passos fugindo da cidade
sitiada
Puxo pelo surrado véu que define minhas convicções
religiosas
E num rosto talhado e retalhado ausência de nuances
de ternura
Escondido com minha sombra entre os idos escombros
Eu, ser não pertencente aos jardins que amorosamente
cultivei
A busca de lugares que já não me trarão Paz
Na chegada a destinos de incertas e precárias
biografias
Em companhia de povos que não me desejam como par
Barcos, cercas, abrigos, valas comuns e frias
coberturas
São meu lar até que líderes se equacionem
E definam como ajustar seres não mais humanos
Resgatando suas almas da ruína da podridão humana
Eu, de coração carregado de uma melancolia inóspita
Vazando em duas salgadas lágrimas derradeiras
De um olhar que não terá mais visão de mundo....
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