Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Quantas vezes, durante o dia, dirijo meu olhar para o céu! Paro tudo que estou fazendo e contemplo o azul infinito. Na vigência de todas as coisas, vislumbro um lugar, um plácido riacho correndo por entre o arvoredo da paz. Haverá a campina verdejante e as fontes de águas puras.
Posso ver o cajado que me sustenta se eu passar pelo vale tenebroso. Também a mesa posta diante do meu inimigo, a unção com óleo sobre minha cabeça e a taça transbordando. Não sei se sou digna da bondade e da misericórdia que hão de me acompanhar em todos os dias da minha vida. E se habitarei os átrios do Senhor para sempre.
Repito que o mundo carece de gentilezas e de delicadezas, de pequenos gestos como “bom dia”, “com licença”, “por favor” e “muito obrigado”. Ah, a doçura de certas palavras. Ah, a doçura de certas pessoas, incapazes de uma grosseria.
Sempre me aproximo dos doces. Estas pessoas me atraem como abelhas no mel. É como se pudesse adivinhar a ternura angelical de suas almas. Abrem os braços de tal forma para nos acolher que levitamos de tanto amor.
Encontro tanta felicidade em certos momentos e o mais intenso deles é como a comunhão de almas. O mesmo sentimento de entrega, de solicitude, de afeto. Abraçar certas pessoas nos eleva espiritualmente. Subimos muito alto, até este céu que contemplo várias vezes ao dia, rezando sem cessar.
Em meio à aridez destes tempos funéreos, ouso cantar esta alegria de encontrar amizades. “A alegria não pode ser tamanha que encontrar gente vizinha em terra estranha”. O dito é benfazejo, é verdadeiro e milagroso. Em situações de dificuldade, se vemos vir ao nosso encontro um rosto amigo, é festa no coração.
Bendito céu azul do qual me farto! Bendito vento da manhã em que aproveito para secar os cabelos, tomar sol e rezar o terço. Nas contas do rosário, toda a minha devoção, fé e esperança.
O que esperar? Deixa a vida nos levar, ou tomamos as rédeas, pegamos nos remos e decidimos por nós mesmos? Fico onde estou ou mudo de casa? Troco de carro ou espero um pouco mais? Seu Marcos da Alfia diz que ainda está novo e bom, dá para mais alguns anos. Foi do meu lindo, tenho dó de trocar. Sou adepta de consumir com consciência, compro o necessário. Se algo tem vida útil, vou usando até acabar. Também isso foi ensinado por minha mãe.
A vida precisa desta dignidade, deste apreço. A vida merece este respeito de nossa parte, a valorização do que temos e do que nos servimos tão bem. Não jogar fora algo que ainda tem sua utilidade e tomar de tudo a parte que nos cabe, sem grandes excessos ou extravagâncias.
Há tanta beatitude em cada momento do dia. Feliz de quem deles tira proveito, conseguindo penetrar no âmago de toda imagem ou pensamento. Que nada passe despercebido por nós, nem mesmo a beleza invisível aos olhos, dona de nossos mais íntimos sentimentos.
O céu que nos protege me fascina. Tão banal, está ali sobre nossas cabeças, simples e natural. Não para os que sonham, esperam e conhecem profecias. Não para a visão das nuvens chovendo justiça. Mística é a hora do amor.