Rio Piracicaba
Diretoria 2022/2025
Presidente: Vitor Pires Vencovsky
Vice-presidente: Carmen Maria da Silva Fernandes Pilotto
Diretora de Acervo: Raquel Delvaje
1a secretária: Ivana Maria França de Negri
2a secretária: Valdiza Maria Capranico
1o tesoureiro: Edson Rontani Júnior
2o tesoureiro: Alexandre Sarkis Neder
Conselho fiscal: Waldemar Romano
Cássio Camilo Almeida de Negri
Aracy Duarte Ferrari
Responsável pela edição da Revista:Ivana Maria França de Negri
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terça-feira, 30 de agosto de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
O BENZEDOR
Causos de Ariranha
Pedro Altino tinha um cavalo que só faltava falar, diziam que ele estimava mais o cavalo do que a Dona Lourdes, sua legitima esposa! Tudo do bom e melhor era para o Imperador, esse era o nome do cavalo. Lavava, escovava, deixava o baio nas pontas dos cascos, colocava sua melhor roupa, botas de cano alto, algibeira, chapéu de aba larga, chicote e esporas só para completar o figurino, o arreio com argolas de prata, assim como estribo. Tudo brilhando, dava gosto de ver! Os gaiatos costumavam dizer que Dom.Pedro estava passando a cavalo, tal a empáfia de Pedro Altino. Um dia Imperador adoeceu, Pedro chamou veterinário da cidade vizinha, pediu ao Padre Bento que rezasse, fez promessa, e nada de o Imperador reagir. O desespero o fez procurar Nhô Belo, o benzedor do local, caboclo alto, mulato com sangue indígena, usava um olho de vidro, tinha perdido uma das vistas ainda menino, tinha fama de arrumar o que tinha que ser arrumado e separar o que tinha de ser separado. Era tiro e queda. Tratava até de neurastenia! Pedro Altino, após expor a situação, saiu com algumas cédulas a menos na carteira e a recomendação de realizar alguns procedimentos altamente sigilosos e que durante o processo para a simpatia funcionar ele deveria pensar no nome dos três homens mais avarentos de Ariranha da Serra. Dois dias depois o majestoso Imperador deu seu ultimo suspiro. Furioso, Pedro Altino foi procurar Nhô Belo, afinal aquilo lhe custara um bom dinheiro! Pacientemente com ouvido de oráculo, o caboclo escutou a torrente de impropérios. Pedro disse-lhe que tinha feito a mandinga conforme a recomendação. Questionado sobre os nomes de avarentos que havia pensado durante a realização do ato ele citou os três: Natan, Salim e Bepe. Com toda a placidez o curandeiro disse-lhe: “− Mas isso é dose para elefante, não há cavalo que resista!”. Coisas de Ariranha!
João Umberto Nassif Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros |
Causos de Ariranha
Pedro Altino tinha um cavalo que só faltava falar, diziam que ele estimava mais o cavalo do que a Dona Lourdes, sua legitima esposa! Tudo do bom e melhor era para o Imperador, esse era o nome do cavalo. Lavava, escovava, deixava o baio nas pontas dos cascos, colocava sua melhor roupa, botas de cano alto, algibeira, chapéu de aba larga, chicote e esporas só para completar o figurino, o arreio com argolas de prata, assim como estribo. Tudo brilhando, dava gosto de ver! Os gaiatos costumavam dizer que Dom.Pedro estava passando a cavalo, tal a empáfia de Pedro Altino. Um dia Imperador adoeceu, Pedro chamou veterinário da cidade vizinha, pediu ao Padre Bento que rezasse, fez promessa, e nada de o Imperador reagir. O desespero o fez procurar Nhô Belo, o benzedor do local, caboclo alto, mulato com sangue indígena, usava um olho de vidro, tinha perdido uma das vistas ainda menino, tinha fama de arrumar o que tinha que ser arrumado e separar o que tinha de ser separado. Era tiro e queda. Tratava até de neurastenia! Pedro Altino, após expor a situação, saiu com algumas cédulas a menos na carteira e a recomendação de realizar alguns procedimentos altamente sigilosos e que durante o processo para a simpatia funcionar ele deveria pensar no nome dos três homens mais avarentos de Ariranha da Serra. Dois dias depois o majestoso Imperador deu seu ultimo suspiro. Furioso, Pedro Altino foi procurar Nhô Belo, afinal aquilo lhe custara um bom dinheiro! Pacientemente com ouvido de oráculo, o caboclo escutou a torrente de impropérios. Pedro disse-lhe que tinha feito a mandinga conforme a recomendação. Questionado sobre os nomes de avarentos que havia pensado durante a realização do ato ele citou os três: Natan, Salim e Bepe. Com toda a placidez o curandeiro disse-lhe: “− Mas isso é dose para elefante, não há cavalo que resista!”. Coisas de Ariranha!
domingo, 28 de agosto de 2011
Castelos da Escócia
Ivana Maria França de Negri Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda |
Viajar a bordo de um trem, da Inglaterra até a Escócia, é uma experiência única e fascinante.
Nos vales pastam fofos carneiros, que no inverno confundem-se com a pastagem esbranquiçada pela geada, entre rios e lagos congelados. As paisagens são de tirar o fôlego.
Edimburgo, a capital, é de uma beleza indescritível, cercada por castelos medievais, construídos sobre as montanhas, por isso a denominação Highlands, terras altas. Caminhar por suas ruas de pedra, é como se estivéssemos gravando cenas do filme “Coração Valente”, rodado naquelas charmosas paragens. Reportamo-nos à época das cruzadas e dos cavaleiros.
Por mais que se tente, é impossível não entrar no clima de magia e mistério. Quem não acredita em contos de fadas, visitando Edimburgo e seus inúmeros castelos no alto das colinas, certamente vai começar a crer.
Nos museus, fragmentos de histórias de reis, rainhas, condes, lordes, que viveram suas sagas naqueles pomposos solares e castelos. Tantos dramas, romances, traições, batalhas campais e festas, e aquelas paredes cobertas de musgos, são testemunhas mudas desses acontecimentos. Turistas são praticamente arrebatados para eras remotas.
Em cada esquina, um escocês vestindo a tradicional saia kilt, extrai sons melodiosos e suaves de uma gaita de fole.
O chão rústico é formado de pedras arredondadas e lisas, polidas pelo caminhar ininterrupto dos habitantes em centenas de anos.
Castelos rodeados de canhões e ruínas atestam a veracidade de muitas batalhas. Casas, tavernas, mausoléus, abadias, imagina-se que a qualquer momento personagens de contos de fadas irão surgir dos escuros e estreitos becos. Não é à toa que a escritora J.K. Rowling, autora da famosa série Harry Poter, teve tantas inspirações, morando na Escócia.
Um vento frio e cortante faz a temperatura parecer mais baixa ainda. Às três da tarde já começa a escurecer e às 4 horas já é noite fechada. O alvorecer também demora. O sol é bem preguiçoso no inverno escocês. Quase nunca dá as caras e as tardes são cinzentas e frias. Acostumados que estamos com nosso verão escaldante e colorido, a mudança de clima, para quem viaja no final do ano, é radical.
A arquitetura é harmônica e não existe trânsito caótico como aqui.
Muralhas, monumentos preservados, igrejas, como a catedral de St. Gilles, ruas limpas, canteiros bem cuidados, a parte nova e a antiga convivem em perfeita harmonia.
Histórias não faltam para povoar o imaginário dos visitantes. Reza a lenda que no lago Ness existe um ser remanescente da pré-história, o Monstro de Loch Ness, mistura de tartaruga e serpente com pescoço alongado. Muita gente jura que viu...
Constam das lendas que doze castelos escoceses são mal assombrados. Reis assassinados, rainhas decapitadas, generais montados em seus cavalos, praticantes de magia negra, mulheres rejeitadas, gaiteiros de fole, crianças perdidas, conspiradores, executores, todos se transformaram em fantasmas que vira e mexe vêm assombrar os corredores dos castelos procurando reaver suas vidas.
Lendas à parte, vale a pena conhecer esse lugar cheio de encanto e magia.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
GÊNESE DOLOROSA
João Baptista de Souza Negreiros Athayde Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira |
(mini-conto)
Tentava condensar a quadra mais amarga da história da sua vida nas linhas apertadas de um conto; sabia que era preciso escolher as palavras, desprezar os floreios que deixam a frase obesa, enxugar as metáforas que esticam o fio condutor da narrativa, suprimir ecos e aliterações que lembram rimas poéticas; era preciso usar pontuações adequadas que dão fluência e amálgama ao personagem e às suas peripécias, enquadrar a ação do personagem e o movimento narrativo no binômio espaço/tempo para estabelecer empatia com o leitor; era preciso fazer que o tema se insinuasse aos poucos, sem sobressaltos, para evidenciar-se somente no epílogo, ou depois dele; era preciso trabalhar a concisão da história, nem tão pouco que a transformasse num romance, nem muito para que se fizesse mera crônica.
Ao final, percebeu que condensara tanto o amargo de sua história, que a essência de sua dor acabou por transbordar das entrelinhas, gotejando lamentos e os restos de seus sonhos mortos.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Meu tio Nenezinho
O tio Nenezinho foi uma figura ímpar e inesquecível. Chamava-se Docler, mas detestava o seu nome. De vez em quando, para externar seu desagrado, perguntava:
−“Você conheceu outro Docler? Creio que eu seja o primeiro e único!”
Realmente, nunca eu soube de outra pessoa assim chamada. Nem o Google, nos dias de hoje sabe. Já o consultei.
Minha aproximação, com esse querido tio, deu-se a partir dos meus doze anos, quando me mudei para Piracicaba − cidade em que ele morava no final da década dos anos 80. Nessa época as famílias se visitavam mais, independentemente de datas especiais, como as de aniversário ou casamento; se viam mais, e não somente em ocasiões obrigatórias de encontros por causa de doença ou morte de algum familiar. A gente fazia visitas para amigos e parentes, sem hora marcada. Podia-se chegar a qualquer momento, batendo palmas e gritando “oi de casa!”, para simplesmente bater papo, “filar bóia”, tomar cafezinho ou jogar cartas etc.
Esses encontros se davam ora na residência de um, ora na de outro, contudo a casa do tio Nenezinho tinha uma atração especialíssima: a piscina. Pelo que sei, foi a primeira a ser construída numa casa particular em Piracicaba. Era novidade e fazia enorme sucesso. Aliás, a sua residência também chamava a atenção pelo estilo normando, então, muito raro na arquitetura domiciliar. Essa casa, na esquina das ruas XV de Novembro e José Pinto de Almeida, em Piracicaba, ainda existe, mas, há muito tempo, é propriedade de terceiros. Atualmente, essa inusitada construção já não mais chama a atenção, pois está escondida atrás de muros levantados em função da crescente violência urbana.
Foi nessa piscina que aprendi a nadar, com instruções de minha tia, exímia nadadora, e que praticava esse esporte para manter a forma física. Por sua vez, não guardo lembrança do tio Nenezinho nadando nesse local. Para cuidar de sua performance fazia suas caminhadas, deixando o seu carro somente para momentos e trajetos especiais. Aliás, eu admirava o seu automóvel: um belo Oldsmobile-88, hidramático (como era então chamado o câmbio automático), quatro portas, lindo “bel-air”, de cores suaves, produzido nos anos cinqüenta. Meu sonho era, um dia, dirigi-lo. Como tudo dele, o carro era bem cuidado; estava sempre limpo, brilhante e impecável.
O tio Nenezinho tinha um belo físico, creio que resultado do remo que praticara. na juventude. no caudaloso rio Piracicaba. Seus cabelos, totalmente brancos desde os seus 25 ou 30 anos, com o que não se conformava, chamavam a atenção. Semblante alegre, bem apessoado, vestia-se com muito gosto. Seus ternos eram feitos na capital paulista, em alfaiate de renome ou de “grife”, como se diz hoje, e todo o restante, em matéria de indumentária, era do bom e do melhor, o que garantia a sua notória elegância. Parecia um verdadeiro lorde!
O Hotel Central, o melhor da cidade até a década dos anos 60 ou pouco mais, pertencia à família do tio Nenezinho. Ficava no chamado Largo da Matriz (depois Praça da Catedral), na esquina da Moraes Barros, onde hoje há um edifício-garage. Era um prédio imponente, demolido, pelo que se dizia, para evitar o provável tombamento (antes o hotel fora residência do senador Vergueiro, daí seu valor histórico), quando já não mais pertencia aos sucessores de Janjão de Castro, pai do meu tio. Não sei muito dessa história, nem de sua veracidade, porém “se non è vero, è bene trovato”.
Os “sinais exteriores” indicavam que sua família tinha recursos e rendas que lhe propiciaram uma vida tranquila. Presumo que, mais tarde, com a morte de seus pais, tenha herdado parte do hotel, que estava sob a direção de seu irmão. A exploração da atividade hoteleira, e, quiçá, algo mais aplicado em negócios, na condição de sócio capitalista, lhe permitiram continuar levando vida folgada e de bom nível. Ademais, sua esposa, minha tia por parte de mãe, foi professora em escolas estaduais (a Escola Normal, depois Instituto de Educação Sud Mennucci foi uma delas), quando os mestres ganhavam muito bem. Quando a gente perguntava ao tio Nenezinho o que ele fazia, respondia jocosamente:
− Sou jurista.
− Ah! o senhor é advogado?
− Não, eu vivo de juros! E dava aquela risada gostosa.
Sei que, durante algum tempo, ele foi sócio de outros tios meus, seus cunhados, inicialmente numa livraria e depois numa casa de material elétrico, locais onde ele passava parte de suas horas, porém sem se envolver no negócio. Era realmente o tal sócio capitalista, nada de trabalho. Para matar o tempo, sempre encontrava sempre alguém disponível, tal como ele, com quem entabulava uma boa conversa fiada. Outras vezes, estava entre os que formavam uma roda, na praça, para ouvir as piadas contadas por Bráulio de Azevedo, ou admirar as imitações que este fazia com perfeição.
Brincalhão, meu tio gostava de dizer: “Se tiver de me faltar algo na vida, que me falte o trabalho”. Muito espirituoso e bem humorado, tinha frases clássicas e peculiares, verdadeiras marcas registradas de sua alegria, bem como anedotas inocentes, mas muito gozadas, que facilmente provocavam o riso, quando não verdadeiras gargalhadas. Mesmo que repetisse o repertório, o que era costumeiro, a gente sempre as achava engraçadas, como se fosse a primeira vez que a gente estivesse ouvindo.
Até hoje, guardo muitas das suas famosas frases, que, emprego em momentos apropriados, lembrando-me dele, com grande saudade. Uma delas era: "Calma, cavalos, calma...”, imitando os locutores de corridas de cavalos no Jockey Clube de São Paulo, que ele proferia quando alguém se exaltava. Ou então, a rima que fazia, com o tempo de verbo terminado em “emos”, ao qual, por exemplo, acrescentava a expressão: “como dizia Honório de Lemos”. Por exemplo: “Cantemos como dizia Honório de Lemos”. Tola brincadeira, mas que saída da boca dele despertava o riso.
Uma ocasião, ele decidiu que iria fazer alguma coisa, pois estava se sentido inútil. Pediu ao meu tio Jacques, do qual era sócio numa casa comercial de material elétrico, que o ensinasse a consertar ferro de passar roupa. Prontamente foi atendido e um funcionário passou a dar-lhe aulas práticas até ele aprender a fazer o conserto. Depois de duas semanas, chegou o grande dia. Atendeu uma senhora que levou o ferro elétrico de passar roupa para a troca da resistência. Depois de um rápido exame, constatou que realmente estava queimada. Disse-lhe à mulher que iria fazer o serviço, pedindo-lhe que voltasse no final da tarde. Na hora aprazada, lá estava ele todo vitorioso e exultante, aguardando a chegada da freguesa. Ao vê-la, explicou o que fizera, embrulhou o ferro, cobrou o preço e entregou-o a ela. Quando esta pegou o ferro, estranhando o peso, reclamou:
− O ferro ficou muito leve. O que aconteceu?
Vermelho de vergonha, a “ficha” caíra. Havia se esquecido de colocar a peça de ferro, sobre a resistência, que dava ao ferro o peso necessário para alisar os tecidos. Nunca mais consertou coisa alguma. Foi a primeira e única vez. Desistiu do ofício.
Na verdade, eletricidade não era coisa de que gostasse. Choque então lhe metia medo. Basta dizer que para trocar uma lâmpada queimada em sua casa, ele desligava o “relógio de força”. Certa vez, ao terminar uma operação dessas foi ligar a força e, coincidentemente, no momento que empurrou a chave do relógio, estava uma pessoa com o dedo na campainha da porta rua, que ao emitir o forte sinal sonoro quase o derrubou, dado o susto que levou. E minha tia dizia, é realmente um nenezinho!
Ele gostava de bons relógios e os tinha; nada menos que o Patek Philippe e Vacheron Costantin, até hoje entre os considerados melhores e mais caros do mundo. Um paradoxo, pois não tinha compromissos com hora marcada. Aliás, não tinha horário para nada, a não ser para as refeições. Ele não se levantava muito cedo. Com a calma que Deus lhe deu, depois de fazer a barba e tomar seu banho matutino, ainda de pijama, porém com um vistoso chambre e de chinelos, se deliciava com seu demorado café. A seguir, ia para a sala de estar, onde num confortável sofá, fazia a leitura do Estadão, seu jornal preferido, cuja linha editorial combinava, política e ideologicamente, com suas idéias, bastante conservadoras. Depois, vestia-se como se fosse para uma cerimônia importante: terno, ou seja, paletó e gravata, sempre combinando os tons, para dar uma simples saída nos arredores. Seu pretexto era fazer compras no supermercado, levando a lista que a empregada preparava. Ia a pé, andando coisa de uns oito ou dez quarteirões, sem pressa. Nunca comprava tudo. Sabem por quê? Dizia ele:
− Se eu trouxer tudo, o que farei à tarde?
Pois bem, chegava, tirava a indumentária, colocando-se mais a vontade, para terminar a leitura do jornal. Ficava por ali, com o rádio ligado, pois tinha algo importante para conferir. Ele ouvia a Rádio Gazeta que, faltando segundos para o meio-dia, tocava uma sirene num determinado tom e volume, que eram aumentados ao marcar exatamente 12 horas. Então ele olhava o seu relógio para conferir e declarar-se vitorioso:
− O relógio da Rádio Gazeta está certo!
Interessante: ele era tímido e não gostava de ambientes estranhos. Quando era convidado para uma festa, que não fosse na família ou em casa de amigo mais íntimo, dificilmente ele ia. Costumava usar uma das suas frases lapidares: “Não gosto de festa que tem bugio de outro mato”. Preferia uma partida inocente de baralho, caixeta ou buraco, com apostas bem fraquinhas, com os familiares, aliás, o que era comum.
Nessa linha, certo dia, andando com ele pela Avenida São Luiz, em São Paulo, dei por falta dele. No meio do movimento de pedestres, ele desapareceu. Olhei para um lado, para outro e nada de encontrá-lo. Passados pouquíssimos minutos, eu já preocupado, o vejo sair de uma loja.
Indaguei-lhe:
− Vendo vitrines? Comprando algo?
− Não. Nada disso. Ocorre que eu vi vindo pela mesma calçada, em direção contrária, uma família conhecida lá de Piracicaba. Com certeza, o pessoal iria parar, pois há tempos não via aquela gente, e, mecanicamente ou protocolarmente, perguntar como estou indo. E eu a eles, teria de fazer educadamente a mesma indagação. Todos diríamos que estava tudo bem, mesmo que não estivesse, para então cada qual seguir seu caminho. Para mim, isso não acrescenta nada, é pura perda de tempo, razão pela qual, quando posso, evito esses encontros. Seguramente, para ele, aqueles eram “bugios de outro mato”.
Mais uma apenas, para terminar. Meu tio Nenezinho não gostava de viajar, ao contrário da minha tia, que não perdia oportunidade de fazê-lo. Ela combinava com alguém, uma amiga, uma cunhada e saía pelo Brasil e pelo mundo: de ônibus ou navio. Ela morria de medo de avião. Pois bem, meu tio renegava ter de ir levá-la ou buscá-la, por exemplo, em Santos, quando a viagem era por mar. Contudo, uma vez ele surpreendeu a todos. Minha tia planejava uma viagem à Europa, com minha avó e uma tia, e ele decidiu ir também. Foi, mas renegando tudo, não achando graça em nada, dizendo que o rio Piracicaba era mais bonito do que o Reno e coisas que tais. Houve um lugar em que ele se transformou. Estava alegre, quis sair para fazer compras, logo que chegou. Sabem onde? Na Suíça. Por quê? Era o lugar para comprar um daqueles famosos relógios, os melhores relógios do mundo daqueles dias. Também, depois de adquirir o que pretendia, disse:
− Agora, já posso ir embora. Era tudo o que eu queria dessa viagem.
O curioso é que quando o navio atracou de volta, o seu passaporte, que, conforme normas internacionais, ficara, durante a viagem, tal como o dos outros passageiros, com o comandante do navio, havia sumido. Enquanto não achassem, ele não poderia desembarcar. E ele, louco para desembarcar, falava para o encarregado do controle: durante a viagem
− Podem ficar com o meu passaporte. Façam dele o que quiserem, pois não pretendo viajar nunca mais!
Que saudade do tio Nenezinho! Ele gostava da vida. Amava-a tanto que costumava dizer:
− Quando eu morrer, quero que coloquem no meu túmulo o seguinte epitáfio: “Aqui jaz, muito contra sua vontade, Docler de Castro”. E com todo o seu apego à vida, morreu, quatro meses depois do falecimento da sua esposa, sem ter absolutamente nada, a não ser saudade dela.
O autor é membro da Academia Piracicabana de Letras e tem como patronesse a Profa. Laudelina Cotrim de Castro, esposa de Docler de Castro, o seu tio retratado nesta crônica.
Gustavo Jacques Dias Alvim Cadeira n° 29 - Patrona: Laudelina Cotrim de Castro |
−“Você conheceu outro Docler? Creio que eu seja o primeiro e único!”
Realmente, nunca eu soube de outra pessoa assim chamada. Nem o Google, nos dias de hoje sabe. Já o consultei.
Minha aproximação, com esse querido tio, deu-se a partir dos meus doze anos, quando me mudei para Piracicaba − cidade em que ele morava no final da década dos anos 80. Nessa época as famílias se visitavam mais, independentemente de datas especiais, como as de aniversário ou casamento; se viam mais, e não somente em ocasiões obrigatórias de encontros por causa de doença ou morte de algum familiar. A gente fazia visitas para amigos e parentes, sem hora marcada. Podia-se chegar a qualquer momento, batendo palmas e gritando “oi de casa!”, para simplesmente bater papo, “filar bóia”, tomar cafezinho ou jogar cartas etc.
Esses encontros se davam ora na residência de um, ora na de outro, contudo a casa do tio Nenezinho tinha uma atração especialíssima: a piscina. Pelo que sei, foi a primeira a ser construída numa casa particular em Piracicaba. Era novidade e fazia enorme sucesso. Aliás, a sua residência também chamava a atenção pelo estilo normando, então, muito raro na arquitetura domiciliar. Essa casa, na esquina das ruas XV de Novembro e José Pinto de Almeida, em Piracicaba, ainda existe, mas, há muito tempo, é propriedade de terceiros. Atualmente, essa inusitada construção já não mais chama a atenção, pois está escondida atrás de muros levantados em função da crescente violência urbana.
Foi nessa piscina que aprendi a nadar, com instruções de minha tia, exímia nadadora, e que praticava esse esporte para manter a forma física. Por sua vez, não guardo lembrança do tio Nenezinho nadando nesse local. Para cuidar de sua performance fazia suas caminhadas, deixando o seu carro somente para momentos e trajetos especiais. Aliás, eu admirava o seu automóvel: um belo Oldsmobile-88, hidramático (como era então chamado o câmbio automático), quatro portas, lindo “bel-air”, de cores suaves, produzido nos anos cinqüenta. Meu sonho era, um dia, dirigi-lo. Como tudo dele, o carro era bem cuidado; estava sempre limpo, brilhante e impecável.
O tio Nenezinho tinha um belo físico, creio que resultado do remo que praticara. na juventude. no caudaloso rio Piracicaba. Seus cabelos, totalmente brancos desde os seus 25 ou 30 anos, com o que não se conformava, chamavam a atenção. Semblante alegre, bem apessoado, vestia-se com muito gosto. Seus ternos eram feitos na capital paulista, em alfaiate de renome ou de “grife”, como se diz hoje, e todo o restante, em matéria de indumentária, era do bom e do melhor, o que garantia a sua notória elegância. Parecia um verdadeiro lorde!
O Hotel Central, o melhor da cidade até a década dos anos 60 ou pouco mais, pertencia à família do tio Nenezinho. Ficava no chamado Largo da Matriz (depois Praça da Catedral), na esquina da Moraes Barros, onde hoje há um edifício-garage. Era um prédio imponente, demolido, pelo que se dizia, para evitar o provável tombamento (antes o hotel fora residência do senador Vergueiro, daí seu valor histórico), quando já não mais pertencia aos sucessores de Janjão de Castro, pai do meu tio. Não sei muito dessa história, nem de sua veracidade, porém “se non è vero, è bene trovato”.
Os “sinais exteriores” indicavam que sua família tinha recursos e rendas que lhe propiciaram uma vida tranquila. Presumo que, mais tarde, com a morte de seus pais, tenha herdado parte do hotel, que estava sob a direção de seu irmão. A exploração da atividade hoteleira, e, quiçá, algo mais aplicado em negócios, na condição de sócio capitalista, lhe permitiram continuar levando vida folgada e de bom nível. Ademais, sua esposa, minha tia por parte de mãe, foi professora em escolas estaduais (a Escola Normal, depois Instituto de Educação Sud Mennucci foi uma delas), quando os mestres ganhavam muito bem. Quando a gente perguntava ao tio Nenezinho o que ele fazia, respondia jocosamente:
− Sou jurista.
− Ah! o senhor é advogado?
− Não, eu vivo de juros! E dava aquela risada gostosa.
Sei que, durante algum tempo, ele foi sócio de outros tios meus, seus cunhados, inicialmente numa livraria e depois numa casa de material elétrico, locais onde ele passava parte de suas horas, porém sem se envolver no negócio. Era realmente o tal sócio capitalista, nada de trabalho. Para matar o tempo, sempre encontrava sempre alguém disponível, tal como ele, com quem entabulava uma boa conversa fiada. Outras vezes, estava entre os que formavam uma roda, na praça, para ouvir as piadas contadas por Bráulio de Azevedo, ou admirar as imitações que este fazia com perfeição.
Brincalhão, meu tio gostava de dizer: “Se tiver de me faltar algo na vida, que me falte o trabalho”. Muito espirituoso e bem humorado, tinha frases clássicas e peculiares, verdadeiras marcas registradas de sua alegria, bem como anedotas inocentes, mas muito gozadas, que facilmente provocavam o riso, quando não verdadeiras gargalhadas. Mesmo que repetisse o repertório, o que era costumeiro, a gente sempre as achava engraçadas, como se fosse a primeira vez que a gente estivesse ouvindo.
Até hoje, guardo muitas das suas famosas frases, que, emprego em momentos apropriados, lembrando-me dele, com grande saudade. Uma delas era: "Calma, cavalos, calma...”, imitando os locutores de corridas de cavalos no Jockey Clube de São Paulo, que ele proferia quando alguém se exaltava. Ou então, a rima que fazia, com o tempo de verbo terminado em “emos”, ao qual, por exemplo, acrescentava a expressão: “como dizia Honório de Lemos”. Por exemplo: “Cantemos como dizia Honório de Lemos”. Tola brincadeira, mas que saída da boca dele despertava o riso.
Uma ocasião, ele decidiu que iria fazer alguma coisa, pois estava se sentido inútil. Pediu ao meu tio Jacques, do qual era sócio numa casa comercial de material elétrico, que o ensinasse a consertar ferro de passar roupa. Prontamente foi atendido e um funcionário passou a dar-lhe aulas práticas até ele aprender a fazer o conserto. Depois de duas semanas, chegou o grande dia. Atendeu uma senhora que levou o ferro elétrico de passar roupa para a troca da resistência. Depois de um rápido exame, constatou que realmente estava queimada. Disse-lhe à mulher que iria fazer o serviço, pedindo-lhe que voltasse no final da tarde. Na hora aprazada, lá estava ele todo vitorioso e exultante, aguardando a chegada da freguesa. Ao vê-la, explicou o que fizera, embrulhou o ferro, cobrou o preço e entregou-o a ela. Quando esta pegou o ferro, estranhando o peso, reclamou:
− O ferro ficou muito leve. O que aconteceu?
Vermelho de vergonha, a “ficha” caíra. Havia se esquecido de colocar a peça de ferro, sobre a resistência, que dava ao ferro o peso necessário para alisar os tecidos. Nunca mais consertou coisa alguma. Foi a primeira e única vez. Desistiu do ofício.
Na verdade, eletricidade não era coisa de que gostasse. Choque então lhe metia medo. Basta dizer que para trocar uma lâmpada queimada em sua casa, ele desligava o “relógio de força”. Certa vez, ao terminar uma operação dessas foi ligar a força e, coincidentemente, no momento que empurrou a chave do relógio, estava uma pessoa com o dedo na campainha da porta rua, que ao emitir o forte sinal sonoro quase o derrubou, dado o susto que levou. E minha tia dizia, é realmente um nenezinho!
Ele gostava de bons relógios e os tinha; nada menos que o Patek Philippe e Vacheron Costantin, até hoje entre os considerados melhores e mais caros do mundo. Um paradoxo, pois não tinha compromissos com hora marcada. Aliás, não tinha horário para nada, a não ser para as refeições. Ele não se levantava muito cedo. Com a calma que Deus lhe deu, depois de fazer a barba e tomar seu banho matutino, ainda de pijama, porém com um vistoso chambre e de chinelos, se deliciava com seu demorado café. A seguir, ia para a sala de estar, onde num confortável sofá, fazia a leitura do Estadão, seu jornal preferido, cuja linha editorial combinava, política e ideologicamente, com suas idéias, bastante conservadoras. Depois, vestia-se como se fosse para uma cerimônia importante: terno, ou seja, paletó e gravata, sempre combinando os tons, para dar uma simples saída nos arredores. Seu pretexto era fazer compras no supermercado, levando a lista que a empregada preparava. Ia a pé, andando coisa de uns oito ou dez quarteirões, sem pressa. Nunca comprava tudo. Sabem por quê? Dizia ele:
− Se eu trouxer tudo, o que farei à tarde?
Pois bem, chegava, tirava a indumentária, colocando-se mais a vontade, para terminar a leitura do jornal. Ficava por ali, com o rádio ligado, pois tinha algo importante para conferir. Ele ouvia a Rádio Gazeta que, faltando segundos para o meio-dia, tocava uma sirene num determinado tom e volume, que eram aumentados ao marcar exatamente 12 horas. Então ele olhava o seu relógio para conferir e declarar-se vitorioso:
− O relógio da Rádio Gazeta está certo!
Interessante: ele era tímido e não gostava de ambientes estranhos. Quando era convidado para uma festa, que não fosse na família ou em casa de amigo mais íntimo, dificilmente ele ia. Costumava usar uma das suas frases lapidares: “Não gosto de festa que tem bugio de outro mato”. Preferia uma partida inocente de baralho, caixeta ou buraco, com apostas bem fraquinhas, com os familiares, aliás, o que era comum.
Nessa linha, certo dia, andando com ele pela Avenida São Luiz, em São Paulo, dei por falta dele. No meio do movimento de pedestres, ele desapareceu. Olhei para um lado, para outro e nada de encontrá-lo. Passados pouquíssimos minutos, eu já preocupado, o vejo sair de uma loja.
Indaguei-lhe:
− Vendo vitrines? Comprando algo?
− Não. Nada disso. Ocorre que eu vi vindo pela mesma calçada, em direção contrária, uma família conhecida lá de Piracicaba. Com certeza, o pessoal iria parar, pois há tempos não via aquela gente, e, mecanicamente ou protocolarmente, perguntar como estou indo. E eu a eles, teria de fazer educadamente a mesma indagação. Todos diríamos que estava tudo bem, mesmo que não estivesse, para então cada qual seguir seu caminho. Para mim, isso não acrescenta nada, é pura perda de tempo, razão pela qual, quando posso, evito esses encontros. Seguramente, para ele, aqueles eram “bugios de outro mato”.
Mais uma apenas, para terminar. Meu tio Nenezinho não gostava de viajar, ao contrário da minha tia, que não perdia oportunidade de fazê-lo. Ela combinava com alguém, uma amiga, uma cunhada e saía pelo Brasil e pelo mundo: de ônibus ou navio. Ela morria de medo de avião. Pois bem, meu tio renegava ter de ir levá-la ou buscá-la, por exemplo, em Santos, quando a viagem era por mar. Contudo, uma vez ele surpreendeu a todos. Minha tia planejava uma viagem à Europa, com minha avó e uma tia, e ele decidiu ir também. Foi, mas renegando tudo, não achando graça em nada, dizendo que o rio Piracicaba era mais bonito do que o Reno e coisas que tais. Houve um lugar em que ele se transformou. Estava alegre, quis sair para fazer compras, logo que chegou. Sabem onde? Na Suíça. Por quê? Era o lugar para comprar um daqueles famosos relógios, os melhores relógios do mundo daqueles dias. Também, depois de adquirir o que pretendia, disse:
− Agora, já posso ir embora. Era tudo o que eu queria dessa viagem.
O curioso é que quando o navio atracou de volta, o seu passaporte, que, conforme normas internacionais, ficara, durante a viagem, tal como o dos outros passageiros, com o comandante do navio, havia sumido. Enquanto não achassem, ele não poderia desembarcar. E ele, louco para desembarcar, falava para o encarregado do controle: durante a viagem
− Podem ficar com o meu passaporte. Façam dele o que quiserem, pois não pretendo viajar nunca mais!
Que saudade do tio Nenezinho! Ele gostava da vida. Amava-a tanto que costumava dizer:
− Quando eu morrer, quero que coloquem no meu túmulo o seguinte epitáfio: “Aqui jaz, muito contra sua vontade, Docler de Castro”. E com todo o seu apego à vida, morreu, quatro meses depois do falecimento da sua esposa, sem ter absolutamente nada, a não ser saudade dela.
O autor é membro da Academia Piracicabana de Letras e tem como patronesse a Profa. Laudelina Cotrim de Castro, esposa de Docler de Castro, o seu tio retratado nesta crônica.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
da série "Aprendendo com o Voinho"
Geraldo Victorino de França Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior |
Curiosidades do Reino Animal
a) O peixe-voador, que vive em mar aberto, em cardumes numerosos, possui enormes nadadeiras peitorais em forma de asas, as quais lhe permitem escapar de seus predadores saltando para fora d'água e planando no ar, às vezes numa distância de até 200 metros.
b) O bicho-da-seda é a larva de uma mariposa que se alimenta exclusivamente de folhas de amoreira. Na fase final do seu desenvolvimento (crisálida), tece um casulo. Quando se visa a produção de seda, a crisálida é morta por água quente, dentro do casulo.
c) É sabido que a baleia é um mamífero aquático. O que pouca gente sabe é como o filhote de baleia mama. As glândulas mamárias da baleia-mãe jorram o leite na água; o leite é tão gorduroso que não se mistura à água, e assim o filhote pode bebê-lo.
d) A reprodução dos peixes é ovípara, isto é, por meio de ovos. Na maioria dos casos, a fêmea põe na água grande número de ovos; o macho a acompanha e espalha o esperma sobre os ovos depositados pela fêmea. Os filhotes que nascem chamam-se alevinos.
e) O musaranho é o menor dos mamíferos. Semelhante ao camundongo, ele mede 5 a 10 centímetros e pesa apenas 15 a 20 gramas; mas ataca e devora pequenos animais que chegam a ter o dobro do seu tamanho. Ao nascer, pelado e de olhos fechados, o musaranho é menor que uma abelha e pesa cerca de 2 gramas.
Curiosidades do Reino Mineral
a) Há um tipo de erosão chamada erosão subterrânea, que se caracteriza pela ação destruidora da água que se infiltra no solo, causando boçorocas, cavernas, grutas e sumidouros. Geralmente ocorrem em terrenos calcários ou solos muito arenosos.
b) A Sociedade Brasileira de Espeleologia (ciência que estuda as cavernas) já cadastrou 3.965 cavernas existentes no país. A maior delas é a Toca da Boa Vista, em Campo Formoso, na Bahia. Ela é a décima quinta do mundo, medindo 97.300 metros de extensão.
c) O ferro é o mais usado dos metais, sendo o principal constituinte dos vários tipos de aço. Anualmente, são produzidas mais de 500 milhões de toneladas de ferro no mundo, obtidas a partir de minérios de ferro.
d) " Loess " é o nome de um sedimento eólico (depositado pelo vento), de granulação fina (silte), rico em quartzo e calcita, friável e homogêneo, sem estratificação. Ocorre em certas regiões da Europa e da Ásia (Alemanha, Rússia, China), no vale do Mississipi (Estados Unidos) e na Argentina (Pampas). Dá origem a solos de alta fertilidade, conhecidos como Chernozem.
e) Chama-se veio ou vieiro a massa mineral tabuliforme que preenche as fendas de uma rocha encaixante. No caso de preenchimento por magma, recebe a designação de dique ou "sill", conforme seja discordante ou concordante com as camadas encaixantes, respectivamente.
Curiosidades do Reino Vegetal
a) A árvore mais velha conhecida no Brasil é um jequitibá existente no Parque Estadual de Vassununga, em Santa Rita do Passa Quatro (SP), que tem 3.020 anos. O diâmetro do tronco tem 3,60 metros e o da copa, cerca de 40 metros.
b) Em relação à produção global, o milho é a planta mais cultivada, produzindo anualmente mais de 600 milhões de toneladas de grãos. O arroz e o trigo vêm em seguida, com pouco menos de 600 milhões de toneladas. Juntos, estes dois últimos constituem a base da alimentação humana.
c) A jaqueira, assim como a jabuticabeira, produz seus frutos no tronco e nos galhos. Aliás, a jaca é o maior fruto comestível, medindo até 80 cm de comprimento e chegando a pesar mais de 15 kg.
d) A barriguda, árvore típica do Nordeste Brasileiro, possui o tronco intumescido na parte mediana, onde chega a medir 1,5 m de diâmetro.
e) As lianas ou cipós são plantas trepadeiras que, por se apoiarem em outras plantas (árvores e arbustos), podem atingir grande altura, chegando a mais de 100 m. Ocorrem principalmente em florestas tropicais, sobretudo na floresta Amazônica.
Curiosidades da Língua Portuguesa
A) A palavra planta se aplica a qualquer vegetal. Acompanhada de qualificativos, assume diferentes significados. Exemplos:
a) planta do pé: sola do pé;
b) planta de construção: representação gráfica dos detalhes da construção, vistos
em projeção ortogonal sobre um plano horizontal;
c) planta topográfica: mapa ou representação gráfica do levantamento de uma cidade ou propriedade rural;
d) plantas superiores: Fanerógamas ou plantas que produzem flores, órgãos de reprodução vegetal;
e) plantas inferiores: Criptógamas ou plantas que não produzem flores, utilizando outros meios de reprodução;
f) plantas espontâneas: as que nascem naturalmente;
g) plantas cultivadas: as plantadas pelo homem;
h) plantas herbáceas: plantas não lenhosas, de pequeno porte;
i) plantas epífitas: que vivem sobre outras plantas, sem parasitá-las;
j) plantas xerófitas: de ambientes secos etc.
B) A aguardente de cana é uma bebida alcoólica que, popularmente, recebe um grande número de nomes, alguns pitorescos.
Exemplos:
a) pinga;
b) cachaça;
c) caninha;
d) abrideira;
e) água que passarinho não bebe;
f) bagaceira;
g) branquinha;
h) esquenta por dentro;
i) cobertor de pobre;
j) mata-bicho etc.
Curiosidades do Universo
a) Até o século XIX, acreditava-se que o universo se limitava à galáxia da qual o sistema solar faz parte − a Via Láctea. Hoje, com o aperfeiçoamento dos métodos de prospecção do espaço, sabe-se que o universo é formado por um grande número de galáxias que, por sua vez, agrupam bilhões de estrelas e, provavelmente, um número equivalente de sistemas planetários.
b) Com advento do telescópio, no início os astrônomos confundiam galáxias com nebulosas. A real estrutura das galáxias só foi conhecida a partir de 1.920, com o emprego do telescópio refletor do Observatório de Mont Wilson, As galáxias são constituídas por uma associação de estrelas, poeira e gás.
c) Definidas como universos-ilhas, hoje sabe-se que existem bilhões de galáxias,umas maiores e outras menores do que a nossa Via Láctea.
d) O universo tem, segundo os astrônomos, 14 bilhões de anos. Teve início com uma grande explosão, chamada " big-bang ", e até hoje continua se expandindo.
e) Nebulosas são nuvens de matéria interestelar, contendo grandes quantidades de gases e poeira, finamente dividida. Existem de todos os tamanhos, claras e escuras, principalmente nos braços das galáxias espiraladas.
Curiosidades do corpo humano
a) As unhas das mãos crescem 1 centímetro a cada 28 dias. Elas crescem aproximadamente quatro vezes mais rápido do que as unhas dos pés.
b) Considerando-se as unhas das mãos e dos pés, cada pessoa corta, no decorrer da sua vida, cerca de 58 metros de unhas. Se uma pessoa cortar a s unhas das mãos e dos pés duas vezes por mês, aos trinta anos terá acumulado 7 quilos de unhas.
c) Quando uma pessoa espirra, o ar saído seu nariz com uma velocidade média de 160 km/hora. Os homens espirram mais do que as mulheres.
d) O intestino delgado mede 6 a 9 metros de comprimento. O intestino grosso tem apenas 1,5 metro, mas é três vezes mais grosso.
e) A água constitui cerca de 70% do corpo humano. Dentro dele, a água transporta alimentos, resíduos e sais minerais; lubrifica tecidos e articulações, conduz glicose e oxigênio para o interior das células e regula a temperatura do corpo.
Curiosidades geográficas
a) A Amazônia abriga o maior arquipélago fluvial do mundo - o de Mariuá, com cerca de 700 ilhas, que fica no leito do rio Negro, afluente do rio Amazonas.
b) A Antártida é o continente que fica no pólo sul e tem o tamanho de um Brasil e meio.No inverno, por causa do congelamento do mar, o continente aumenta de tamanho, ficando quase do tamanho da África.
c) Por outro lado, no pólo norte não há terra, só o Oceano Glacial Ártico, que fica recoberto por uma camada de gelo que recebe o nome de banquisa.
d) Amazonas, Roraima, Amapá e Pará são os estados brasileiros atravessados pela linha do equador. Sergipe é o menor estado do país, enquanto Amazonas é o maior.
e) A Zona dos Cocais fica no Maranhão, entre a floresta tropical úmida e a caatinga do Nordeste semi-árido. Além de árvores típicas da floresta amazônica, nela se encontram palmeiras como a carnaúba e o babaçu.
f) A parte mais espessa da crosta terrestre, com cerca de 75 km, localiza-se na cordilheira do Himalaia ( China ).
g) A parte continental menos espessa da crosta tem cerca de 15 km e localiza-se no Vale do Great Rift, nordeste da África.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
HOMENAGENS
Francisco de Assis Ferraz de Mello Cadeira n° 26 - Patrono: Nelson Camponês do Brasil |
Façam-se estátuas aos heróis da guerra,
Aos soldados das trincheiras
Ou das brigadas ligeiras
Com espadas riscando o ar.
Elevem-se monumentos
Aos gênios da humanidade,
Aos santos da cristandade
Ou de qualquer religião.
Escrevam-se odisséias
Aos Ulisses das mil pátrias,
Pois toda nação possui
Seus heróis para cultuar.
Venerem os que quiserem,
Até os mais podres dos homens
Que rastejam pelo chão.
Mas, ai de vós se esquecerdes
Dos que, no cabo da enxada
Ou na rabiça do arado,
Retiram da terra brava
O pão que alimenta todos.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
No meu silêncio
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Escotismo: "Escola na vida, pela vida e para a vida”
Elias Salum Cadeira n° 5 - Patrono: Leandro Guerrini |
Com a renovação do Escotismo em nossa cidade, em 1969, depositamos toda nossa confiança e esperança, desde o momento em que conseguimos promover um memorável encontro, na sala de reuniões do Jornal de Piracicaba, onde estiveram presentes ilustres cidadãos piracicabanos, que outrora foram escoteiros e chefes, como: Arquimedes Dutra, Felisberto Monteiro, Francisco Godoy, Célio Bighetti, Moacyr C. do Brasil, Tufi Napty (este vindo do Líbano), chefe Passari, chefe Caldeira, Perilo Pantaleão e outros.
Em Piracicaba, tudo nasceu durante o “Jamboree do Ar”, título que se dava às reuniões que os radioamadores de nossa região e do mundo faziam, através das mensagens radiofônicas, para aproximação e confraternização dos escoteiros, participantes do encontro, que se dava em outubro de cada ano. Foi quando despertou na nossa consciência a fundação de um Grupo Escoteiro para a cidade de Piracicaba, o que se deu em 1970 com o nome: "TAMANDARÉ".
Hoje, graças ao trabalho e perseverança de muitas pessoas, Piracicaba conta com três valorosos Grupos: "TAMANDARÉ" (1970), "PIRACICABA" (1984) e "SÂO MÁRIO" (1982).
Com o objetivo de oferecer algumas informações sobre o que são e o que fazem os escoteiros, mostramos aqui alguns princípios e regras de maior importância encontradas no P.O.R. (Princípios, Organizações e Regras).
MÉTODO: Dar responsabilidade e trabalhos aos rapazes de maneira que se sintam não espectadores de um programa, mas como ATORES do mesmo e conduzi-los por meio de jogos, costumes e tradições especiais, primitivas e românticas.
ADESTRAMENTO: Adestrar os jovens por meio de programas especiais, destinados a reunir as necessidades físicas e psicológicas em suas diferentes idades; LOBINHO: de 7 a 11 anos (estes seguem uma forma simplificada da promessa e da lei). ESCOTEIROS: de 11 a 17 anos. PIONEIROS: de 18 em diante.
ARTE E CAMPISMO: A saúde, a auto-estima, a coragem, o sentimento de camaradagem‚ uma profunda apreciação da obra de Deus, são desenvolvidos pela vida ao ar livre e o estudo da Natureza. O campismo é a chave de todo adestramento escoteiro.
MILITARISMO: Como organização, o Movimento Escoteiro não é militar em sua forma, espírito ou pensamento. O uniforme, a patrulha e a tropa, a unidade, a harmonia e o rítmo de espírito não são de ordem guerreira; servem para conservar o que os jovens adquirem no Escotismo. O Movimento Escoteiro não é militarista, porém é patriótico e prepara os jovens para a boa cidadania.
ESPÍRITO INTERNACIONAL: O Escotismo tem se ocupado em incluir e destacar em seu programa aquilo que os jovens das diferentes nações da Terra têm em comum: a igualdade de ideais e finalidades, pondo em prática meios adequados ao seu alcance e fazendo abstração de raças, crenças e castas. Daí sua influência no desenvolvimento da BOA VONTADE ENTRE AS NAÇÕES.
PROMESSA DO LOBINHO
Prometo pela minha honra fazer o melhor possível;
Para cumprir meu dever para com Deus e a minha Pátria
Obedecer à Lei do Lobinho
Fazer todos os dias uma boa ação.
PROMESSA DO ESCOTEIRO
Prometo pela minha honra fazer o melhor possível:
Para cumprir meu dever para com Deus e a minha Pátria
Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião:
Obedecer à Lei do Escotismo.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Lançamento do livro do Acadêmico Felisbino de Almeida Leme
Felisbino autografando para Leda Coletti |
Ivana Negri entre Rosaly e Felisbino de Almeida Leme |
Cassio Negri, Lucila Calheiros, Carmen Pilotto e Claudio Costa |
Daniel Valim, Cornélio Carvalho , Cassio Negri, Lurdinha Sodero, Elda Nympha Silveira, Carmen Pilotto, Carla Ceres, Aracy Ferrari e Leda Coletti |
Lurdinha, Carmen, Elda, Carla, Ivana, Aracy, Leda, Isadora e Ana Clara |
Cornélio Carvalho, Moacir Nazareno Monteiro e Daniel Valim |
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Medalhas de Mérito Cultural 2011
Acadêmico André Bueno Oliveira - Medalha de Mérito Cultural em Literatura |
• ARTES PLÁSTICAS – Medalha “Umberto Silveira Consentino”
Antônio Natal Gonçalves
.MÚSICA – Medalha “ Prof. Olênio de Arruda Veiga”
Luis Carlos Justi
• ARQUITETURA – Medalha “Serafino Corso”
Estevam Vanale Otero
• LITERATURA Medalha - “Profª Branca Motta de Toledo Sachs”
André Bueno de Oliveira
• ARTES CÊNICAS – Medalha - “José Maria Carvalho Ferreira”
Raul Rozados Ribeiro
• ARTES VISUAIS E FOTOGRAFIA – Medalha “Cícero Correa dos Santos”
Antonio Trivelin
• DANÇA – Medalha “Iris Ast”
Oficina da Dança
. FOLCLORE E TRADIÇÕES POPULARES – Medalha-” João Chiarini”
Vanderlei Benedito Bastos
• TROFÉU “FABIANO RODRIGUES LOZANO”
Egildo Pereira Rizzi
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
A DEUSA DO SOL
Elda Nympha Cobra Silveira Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior |
O ar estava carregado de nuvens escuras e tudo parecia sem esperanças, sem ilusão, como se um abismo abrisse em frente de Nori, uma jovem oriental muito bonita, de gestos suaves, tez clara como lótus e uma boquinha vermelha parecida com um coraçãozinho, ou com um bico de pomba.
Sufocada, sem saída, por não ter uma vida própria, nem liberdade, almejava ser como qualquer outra moça daquela vila incrustada entre altas montanhas. Sentada à beira de um lago, onde as carpas vermelhas pareciam chamá-la para ficar com elas, sentia a cada momento com mais força um desejo que ia se transformando numa atração incontrolável. Era como se algo a chamasse de dentro daquela água translúcida e a incitasse a colocar um fim na sua vida. Sempre se sentia assim quando rememorava o dia em que se tornou uma entidade celestial. Mas o que mais a importunava e a fazia sofrer, era lembrar como seu ego se inflou de satisfação ao ser comparada a uma deusa.
Nori começou a relembrar horrorizada como se deixou levar por tanto orgulho e avidez, mancomunada com seu pai, usufruindo da ingenuidade daquele povo simples e crédulo, a tal ponto que era preciso duas pessoas para segurar seus braços, quando eles estavam abertos, pois as mangas tecidas a ouro e pérolas desciam até ao chão.
− Que falta de humildade, − pensava ela, − não considerar aquelas pessoas que se ajoelhavam aos meus pés como seres humanos. Que orgulhosa eu me tornei!
E assim, Nori foi se lembrando, detalhe por detalhe, de toda aquela situação e sabia que não dava mais para recuar. Teria de prosseguir fazendo-se passar por Deusa do Sol? Teria o feitiço se virado contra a feiticeira? Como poderia desobedecer ao pai no cumprimento dessa “missão”?
− Como enfrentarei meu pai para resolver essa situação? Vou ser desmascarada, tirarei a ilusão de um povo crédulo?
Ela sabia que sua mãe não concordava com nada daquilo e queria que a filha tivesse uma vida normal, como a de qualquer outra moça daquela vila. Por isso, vivia entristecida, deplorando das atitudes negativas. Outra coisa que a mãe de Nori deplorava eram os pretendentes, que apareciam de todas as partes, entusiasmados pela beleza e pela fortuna da moça. Mas entusiasmados também pela riqueza, pois quem viesse a se casar com ela ganharia, além do sobrenome cunhado num brasão, terras e posses. Sua taça transbordou quando, transtornada com a infelicidade da filha e com o rumo dos acontecimentos foi definhando, definhando e morreu nos braços de Nori pedindo-lhe:
− Minha filha! Tome uma atitude! Não desperdice sua vida... Enfrente seu pai, fuja aqui da vila e procure a sua felicidade com quem possa lhe dar muito amor!
Os pais daquela jovem tinham título de nobreza e terras, e sempre agradeciam em suas orações por terem uma filha tão bela, que para eles se assemelhava a uma deusa. Muito religiosos frequentavam o templo duas ou três vezes por semana, porque Masu era um dos muitos que emprestavam grande parte de seu tempo ajudando os monges em seus afazeres rituais. Certo dia Nori foi levada às pressas para o templo, pois não estava se sentindo bem. Os monges estranharam o comportamento da jovem, que, muito contrita, abriu longamente seus braços para orar, de tal maneira que as mangas do quimono, tecidas com fios de ouro e seda, pareciam asas de borboleta.
A expressão e a postura da moça deixaram os que estavam presentes extasiados, e foi nesse momento que, vindo das alturas, um raio de luz se filtrou por entre um dos vitrais do templo e Nori, toda vestida de cetim amarelo, parecia para o povo humilde a própria deusa do sol.
Seu pai ficou desconcertado com a atitude dos moradores da vila, e sinceramente acreditou que ela poderia ser mesmo uma deusa, por isso disse para a filha com voz tremida:
− Abençoe o povo, levante os braços e permaneça assim até quando você agüentar!
Masu lembrava-se muito bem da satisfação que sempre sentiu e do orgulho que tomou seu ser por inteiro, desde àquela época. O povo do lugar achava que toda vez que a moça fazia no templo, durante as cerimônias, aquele movimento de levantar, e depois abaixar vagarosamente os braços, ela estava abençoando e que tudo se transformaria, se naquele momento se fizessem os pedidos para que tudo melhorasse. Isso porque, na verdade, desde que o raio luminoso tocou o corpo da moça, a prosperidade veio morar em todos os lares, e todos os pedidos feitos sempre eram atendidos, e assim todos esses eventos maravilhosos eram atribuídos a ela.
Incentivada pelo pai, que acabou vendo Nori como um investimento, pois oferendas de valor incalculável, ornadas de pedras preciosas, ouro, prata, pérolas e madrepérola, vinham de terras distantes, para serem colocadas aos pés da moça, depois que o mundo ficou conhecendo os seus prodígios.
Nori, que estranhava e tinha muito medo de tudo que acontecia, enfim começou a gostar desse seu desempenho, pois sentiu que o pai se orgulhava dela, a fazia se vestir com muito apuro e suntuosidade para se apresentar no templo. Os quimonos que ela usava eram bordados com pérolas, ouro e pedras preciosas, ofertadas de bom-grado por alguns aldeões mais abastados, animados com a proteção que, tinham certeza, recebiam da deusa do sol. A moça usava ainda uma tiara de brilhantes considerada a jóia mais rara de todas, pois era encimada com pérolas negras, e reluzente como um halo de luz, que contrastava com seus cabelos, penteados como os de uma gueixa, negros como o charão e brilhantes, parecendo impregnados de laca.
Depois da morte da mãe, Nori ficou tão triste que não tinha mais ânimo para se apresentar no templo. Incentivada pelo pai e pelos amigos mais próximos, resolveu participar, mas sempre que abria os braços, pensava na mãe e chorava. Os seus seguidores, sem saberem a razão da tristeza da Deusa do Sol, choravam junto com ela, prestando-lhe solidariedade.
Por coincidência ou não, naqueles dias começou a chover e cada dia a chuva aumentava levando pontes, inundando o vale e as plantações de arroz e cereais. Era o caos, a pobreza! Toda prosperidade foi literalmente por água abaixo.
Os comentários que corriam pela comunidade responsabilizavam Nori por toda aquela desgraça; pois se dizia que foram as suas lágrimas, tão copiosas como a enchente, que contribuíram para que toda a vila fosse inundada. Os comentários tinham fundamento na idéia de que se a Deusa do Sol, quando alegre, trazia a fartura, a ruína dependia da sua tristeza, que poderia desencadear os piores castigos.
Nori não conseguia mais raciocinar... Olhando para aquele lago que a atraia para ele, entrou bem devagar e a água gelada foi congelando seu corpo branco como a flor de lótus, as maçãs do rosto, que de rosadas, agora eram brancas como a neve. Tiritando de frio, soltou um grito:
− Ah! Deus! Meu Deus! Aceita-me contigo, perdoa-me e perdoa o meu pai!
E foi afundando naquele lago, onde só as carpas vermelhas eram suas companheiras, só as algas verdes eram as tiaras dos seus cabelos e os caules dos juncos escoravam seus braços inanimados. Suas vestes longas, largas e muito pesadas, ajudaram a afundar aquela moça infeliz.
As algas iam tecendo como que uma rede para aprisioná-la e enrodilhando sua cabeleira negra como o charão e lustrosa como a laca. Sua beleza agora ficaria enfeitando aquele lago, onde a luz do sol um dia iria penetrar.
Nori nada mais sentia a não ser sossego, mansidão e paz! As ondas do lago embalavam seu corpo inerte, numa dança macabra. Suas vestes colavam naquele corpo escultural e sem vida, que as carpas vermelhas começavam a beijar.
O lago agora era o seu Templo de Paz.
Nisso, boiando, arrastada por um vento vindo do norte, por sobre o seu cadáver, bailou uma flor de lótus branca com bordas vermelhas e raízes negras como os maravilhosos cabelos da Deusa do Sol...
domingo, 7 de agosto de 2011
Os olhos do Menino
Cássio Camilo Almeida de Negri Cadeira n° 20 - Patrono: Benedicto Evangelista da Costa |
Eram azuis, grandes, de um brilho luminoso que, ao fixarem-se em outros olhos, transpassavam como setas.
Assim eram os olhos de Adolfo.
Fitá-los, era quase impossível, sustentar aquele olhar tornava o autor como que hipnotizado; se não desviasse a tempo as pupilas entrariam em midríase. Mesmo os próprios animais não ousavam fitá-los.
Nos seus três ou quatro anos, os cabelos negros e lisos já emolduravam aquele rosto tal qual nuvens negras envolvendo o sol poente no horizonte, quando um acesso de fúria tomava conta daquele rostinho infantil.
Com ternura, ajoelhado aos pés da cruz, mãozinhas postas a rezar, seu olhar parecia mesmo atravessar o do Cristo, que não o fitava, com os olhos desviados para o alto, talvez por estar cheio de compaixão, talvez pedindo algo ao Pai Supremo, já que era seu único filho, como dizia o Credo.
Mas se era seu único filho, como pedir também para o menino de olhos azuis?
E o Cristo na cruz, olhar desviado para o alto, não soube como pedir por alguém que não era Filho do Pai.
E assim, naquele dia, surgiu Adolf Hitler...
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
De como ainda me orgulho do meu país
Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara |
Garotos de olhares brilhantes nos aguardavam com uma programação de encher a alma: alusões ao Dia do Índio apresentaram jovens em trajes típicos declamando poemas de Gonçalves Dias e outros autores nacionalistas; outros atores que fazem aulas de castelhano improvisaram belamente um teatro com poemas de Neruda, um poeta tão complexo para a tenra idade, mas ditos em entonação emocionada; entrega dos exemplares das crônicas aos autores, todos bem trajados e orgulhosos pela publicação da linda obra; uma ex-aluna de voz encantadora dedilhando lindas canções de música popular brasileira.
Além dos atores da própria escola, toda a equipe de apoio altamente entusiasmada: a Diretora Christina, com sua equipe, preparou um ambiente lindamente decorado com sacolas com textos e recortes, cortinas, tapetes. Tudo com simplicidade e bom gosto, acredito que algumas peças sejam até de uso pessoal dos professores que se esmeraram para o evento. O Vice-Diretor Valmir orientava a cerimônia entusiasticamente, ressaltando qualidades e virtudes, motivando os alunos para um futuro promissor. Os professores, orgulhosos, viam suas crias se apresentando e recebendo o troféu do livro editado. Ao final, um pequeno coquetel organizadíssimo, com sucos deliciosos e lanchinhos preparados pela equipe.
Saímos felizes por tão motivador Sarau, de esperança no futuro de muitos jovens que insistem em conquistar seu espaço intelectual na sociedade.
Passados dois meses, aniversário da ESALQ, 110 anos, dentro do lindo projeto de abertura da ESALQ para as Escolas Públicas, o Diretor resolve compartilhar um bolo com a escola que visitará a ESALQ no dia 3, coincidentemente, para minha alegria a Escola é a Prof. Catharina Casale Padovani.
Que felicidade! É como se meu coração pudesse retribuir a gentileza daquele inesquecível dia de abril. Estou como criança em véspera de aniversário, acho que nem vou dormir na esperança de rever tão relevante comitiva. Realmente, o Brasil ainda tem solução.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
CONVITE
Em homenagem ao aniversário de Piracicaba, as professoras e escritoras Valdiza Maria Capranico e Marly Therezinha Germano Perecin convidam V.Sa. para a tarde de autógrafos da coleção “Piracicaba Conhece e Preserva”, na Livraria Nobel – centro – Rua Morais Barros, 770, na próxima sexta-feira, dia 05 de agosto, a partir das 16 horas.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Rio Piracicaba, que te quero tanto
Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 Patrono: Fernando Ferraz de Arruda |
Rio da minha cidade
que deslizas mansamente
Rio, saliva da terra,
inspiração dos poetas
Rio das águas cintilantes
que refletes a lua
Rio do futuro,
quero te ver limpo de novo
Rio da minha terra
tela tão linda do divino Pintor
Rio de Piracicaba,
meu poema vivo de amor
Ilustração de Angelino Stella (Noiva da Colina) |
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Galeria Acadêmica
1-Alexandre Sarkis Neder - Cadeira n° 13 - Patrono: Dario Brasil
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
7-Barjas Negri - Cadeira no 5 - Patrono: Leandro Guerrini
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
9-Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto - Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
12-Edson Rontani Júnior - Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
14-Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal - cadeira no 31 - Patrono Victorio Angelo Cobra
15-Evaldo Vicente - Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
25-Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins - cadeira no 26 Patrono Nelson Camponês do Brasil
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Eliete de Fatima Guarnieri - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz