Ivana Maria França de Negri
Por
mais que a era da globalização se apresente cheia de novidades e ofereça farta
e atraente gama de opções às crianças, tais como internet, videogames, livros
virtuais, nada substituirá a magia de pegar um livro e lê-lo do começo ao fim.
Aquele sentimento gostoso de cumplicidade, de sentar no cantinho preferido e
degustar cada página gulosamente.
Já
no início do aprendizado das primeiras letras, quando já pode decifrar sozinha
o código da escrita e dominá-lo, a criança adentra ao reino encantado dos
livros. É um caminho sem volta ao mundo da fantasia e do sonho. Quando se pega
o gosto de ler não se abandona jamais. É o melhor vírus que se pode adquirir e
deixar-se contaminar.
Quem
não se lembra da emoção das primeiras leituras na infância? Até mesmo muito
antes de aprender a ler, esse mundo nos era apresentado através das histórias
da carochinha dos Irmãos Grimm ou de Andersen, que eram pacientemente contadas
por nossos pais, tias e avós. Esses contos permitiam que adentrássemos o portal
encantado onde fadas, anões, feiticeiros, heróis, príncipes e princesas viviam
as mais apaixonantes aventuras. Aquilo tudo nos levava a um mundo tão
maravilhoso, que, mesmo após nos tornarmos adultos, um cantinho dentro de nós
ainda teima em manter viva essa memória que eventualmente aflora e dá vazão aos
nossos sonhos.
Atualmente
não se poupam críticas ao herói aprendiz de bruxo, Harry Potter, recorde de
vendas na área de literatura infanto-juvenil, verdadeira febre mundial. Não se
pode negar seu mérito, já que é tudo uma questão temporal. Monteiro Lobato
criou o universo do Sítio do Pica-Pau Amarelo, num cenário bucólico e campesino
de fazenda, bem ao gosto da época. Hoje, os heróis passeiam em aeronaves,
conhecem galáxias, seres extraterrestres e viajam no tempo. Tudo faz parte do
contexto de uma certa época da história. O que não se pode perder, de maneira
alguma, é a magia, o magnetismo encantado que a leitura exerce no imaginário
infantil.
Nem
só a parafernália virtual faz concorrência com os livros infantis, mas também
existem as dificuldades econômicas que a população enfrenta. O livro não é um
artigo barato, visto que é necessária uma edição bem feita, em boas editoras.
Não é costume usual oferecer livros de presente às crianças em seus
aniversários. Numa época em que tudo vem da China a preços “quase de graça”,
pode parecer dispendioso dar um livro de presente a uma criança, quando
uma série de bugigangas descartáveis e
inúteis é encontrada a preços imbatíveis. Como o livro é um artigo considerado
durável, e bem conservado pode ser útil a várias gerações, deveria haver um
estímulo dos governos nesse sentido. A propaganda poderia incentivar: - dê um
livro de presente a uma criança e ela ganhará de presente o mundo! Para os
menorzinhos, sempre há a opção das edições ilustradas, de vários materiais,
indo do tecido ao plástico, laváveis, atóxicos, tudo adaptado à idade do
pequeno leitor. O fascínio das figuras e desenhos sempre aguçará mais a fértil
imaginação infantil.
A
prova de que a literatura infantil não morreu é a grande quantidade de autores
especializados nessa área e o crescente interesse dos editores em obras
inéditas e recheadas de novidades para essa exigente faixa de público.
Incentivar
a leitura é o instrumento que forjará o gosto de ler pelo resto da vida. Como
dizia o poeta: “Feliz o que semeia livros...”