*Por que tanta gente hoje em dia pesquisa as próprias raízes?
Armando Alexandre dos Santos - Cadeira no 10 Patrono: Brasílio Machado
“Sem temor, erguido sobre o travesseiro, Gonçalo não duvidava da realidade maravilhosa! Sim! Eram os seus avós Ramires, os seus formidáveis avós históricos, que, das suas tumbas dispersas corriam, se juntavam na velha casa de Santa Irinéia nove vezes secular – e
formavam em torno do seu leito, do leito em que ele nascera, como a assembléia majestosa da sua raça ressurgida... Gonçalo sentiu que a sua ascendência toda o amava, e da escuridão das tumbas dispersas acudira para o velar e socorrer na sua fraqueza.”
(Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires)
O tema do presente artigo é um curioso fenômeno que nas últimas décadas se vem manifestando, com crescente intensidade e cada vez mais generalizado, no Brasil, como também na Europa, nos Estados Unidos, em toda a América: o fenômeno da “Neo- Genealogia”.
Procuraremos inicialmente delimitar esse fenômeno, e para delimitá-lo tentaremos descrever suas numerosas manifestações. Na segunda parte, tentaremos explicá-lo: quais as razões psicológicas, sociológicas, psico-sociológicas, culturais, filosóficas, até mesmo de cunho religioso, que o motivam e produzem.
Cabe esclarecer, desde já, que procuramos redigir este trabalho evitando propositadamente dar a ele a amplitude, a extensão e o estilo de um tratado ou de uma tese acadêmica. Não visamos produzir uma exposição exaustiva, completa e acabada dos temas tratados, e menos ainda procuramos impingir à mente do leitor nossas próprias convicções pessoais; simplesmente quisemos sugerir ao seu espírito problemas e indagações que ele saberá, melhor do que ninguém, conferir com a realidade que tem diante de seus olhos e elaborar pouco a pouco, de acordo com suas próprias ideias, impressões e feitio psicológico. Os temas são, aqui, expostos e abordados de modo tanto quanto possível informal, em estilo vivo e corrente.
Antes de entrarmos na primeira parte da exposição, convém falar de um livro que, de certa forma, está na raiz desse curioso e intrigante fenômeno.
O livro de Alex Haley
Em 1976, o escritor norte-americano Alex Haley, de raça negra, publicou uma obra que se tornou rapidamente best-seller: Roots – Raízes.
Alex Haley foi militar, serviu na Marinha Norte-Americana, e quando passou para a reserva, aos 37 anos de idade, estabeleceu-se como jornalista e como escritor razoavelmente bem-sucedido.
A história de Raízes é interessante. Haley recordava-se de toda uma tradição
oral existente na sua família materna, a ele transmitida por algumas tias velhas, que se lembravam de terem ouvido contar que um ancestral da família fora capturado na África, quando se afastara da sua aldeia para cortar um tronco de árvore e fabricar um tambor. A tradição oral da família conservava o nome africano desse ancestral – Kunta Kinte –, o seu nome adotado nos Estados Unidos – Toby –, os nomes dos primeiros senhores que o escravo Kunta Kinte-Toby teve na América, algumas palavras e expressões do idioma africano, passados de geração em geração, e uma série de episódios da vida desse escravo.
A partir desses dados fragmentários e incompletos, Haley, graças a uma bolsa que recebeu da editora das Seleções do Reader’s Digest, pôde se dedicar à busca de suas raízes. Fez viagens à África, à Inglaterra, a diversos pontos dos Estados Unidos, consultou especialistas, arquivos, jornais da época em que os vários fatos se passaram. No total, pesquisou em 57 arquivos ou bibliotecas de três continentes, e levou, na pesquisa e na redação do livro, nada menos que 12 anos.
Inicialmente, graças a especialistas em idiomas africanos, ele conseguiu localizar o grupo linguístico a que correspondiam as palavras e expressões africanas de que se lembrava; conseguiu depois situar aproximativamente a região de onde deveria provir seu ancestral – as margens do rio Gâmbia – e, viajando para a Gâmbia, soube que Kinte era um nome muito freqüente em duas aldeias do interior do país, as quais, segundo a tradição oral, haviam sido fundadas séculos atrás por dois irmãos, membros de um mesmo clã.
Haley procurou essas aldeias, e numa delas teve uma longa conversação – naturalmente por meio de um intérprete – com um griot. Os griots são cantadores que, de memória e por tradição oral, cantam a história das aldeias, dos clãs negros, das sucessivas gerações de seus moradores. Cada griot tem discípulos que ouvem a cantoria do mestre, aprendem-na de cor, e passam para a frente aquele precioso repositório de tradição não escrita.
O griot consultado por Haley, após duas horas rememorando toda a história dos Kintes de passadas eras, chegou a um ponto em que, “quando os soldados do rei branco chegaram”, um jovem, chamado Kunta, tendo saído para derrubar uma árvore a fim de fazer um tambor, desaparecera. Haley, emocionado – é assim que ele conta no livro – somente então abriu seu caderninho de notas cuidadosamente catalogadas, e mostrou que aquilo coincidia exatamente com o ponto inicial de sua pesquisa, ou seja o que ouvira das velhas tias. Quando traduziram
para o griot o que dizia o norte-americano, o bardo sorriu, houve uma espécie de cerimônia, com danças tradicionais, batuques e atabaques, e o distante membro do clã Kinte foi solenemente reintroduzido naquela sociedade tribal.
Posteriormente, com base em registros da marinha inglesa e dos censos norte- americanos, Haley conseguiu documentar de modo bastante completo – a julgar pelo seu livro, repita-se – o histórico de sete gerações de sua família, desde Kunta Kinte até ele próprio, e escreveu um livro um tanto romanceado sobre as aventuras de seu pentavô.
Esse livro fez um sucesso extraordinário dos Estados Unidos, e a partir dali no mundo todo. Teve inúmeras edições. No Brasil, foi publicado pela Editora Record com o título de Negras Raízes. Já em 1977 foi transformado em filme e depois em seriado de televisão. Na TV norte-americana, imediatamente se tornou recordista absoluto de audiência, conseguindo 130 milhões de telespectadores.
Tanto o livro quanto o filme receberam diversos prêmios.Embora haja quem pense que em Raízes o elemento ficção prepondere bastante sobre o elemento pesquisa genealógica, o fato é que foi sobretudo a partir da publicação desse livro que tomou corpo e se fez notar mais sensivelmente, o fenômeno que, neste estudo, chamamos de “Neo-Genealogia”.
*Fragmento de texto da revista da Academia Brasileira de Letras que pode ser lido na íntegra no site da ABL: http://www.academia.org.br/abl/media/prosa44c.pdf
Rio Piracicaba
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6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
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11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
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13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
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18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
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26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
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28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
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31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Eliete de Fatima Guarnieri - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz
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