Armando Alexandre dos Santos - Cadeira no 10 |
Armando Alexandre dos Santos, vice-presidente da Academia Piracicabana de Letras acaba de lançar mais um livro histórico. Em “Dialética pró e contra as Cruzadas em documentos do século XIII”, Armando analisa, com documentos da época, os debates que ocorreram na França, na segunda metade do século XIII, entre partidários e opositores da realização de Cruzadas.
“Contrariamente ao que muita gente pensa − diz o autor − havia na Idade Média uma grande margem de liberdade para debates dessa natureza. Estava-se muito longe do unanimismo e da monotonia que geralmente se costuma atribuir a essa época histórica. A análise de dois documentos do século XIII, um memorial do Beato Humberto de Romans, geral da Ordem Domininicana, redigido para o Concílio de Lyon, em 1274, e um poema satírico de Rutebeauf, jogral muito popular no seu tempo, com argumentos contra as Cruzadas, mostra bem como se debatiam abertamente tais questões”.
Armando escolheu esses dois documentos, para sua análise, não só por manifestarem opiniões que divergiam de modo frontal quanto às Cruzadas, mas também por procederem dos dois extremos da sociedade medieval: “Humberto de Romans era, tipicamente, um homem bem integrado no stablishment político-religioso do tempo, como superior geral de uma importante Ordem religiosa, conselheiro e compadre do Rei da França, São Luís IX, e gozando de muita influência no Vaticano, a ponto de quase ter sido eleito Papa. Já Rutebeauf era um pobre trovador, desajustado e pobre, bordejando a marginalidade, mas foi um autor fecundo que teve grande influência na história da língua francesa e é considerado por Le Goff como o primeiro grande poeta lírico desse idioma”.
O livro, lançado pela Editora Equilíbrio, de Piracicaba, encontra-se à venda na Livraria Nobel, do Centro.
Para breve, será lançado pela editora da Universidad de Alicante, na Espanha, um outro trabalho em que Armando teve participação. Trata-se da tradução do catalão medieval para o português moderno do romance de cavalaria “Curial e Guelfa”, de autor anônimo do século XV, realizada pelo Prof. Ricardo da Costa, da Universidade Federal do Espírito Santo, que enriqueceu o trabalho com uma introdução metodológica e numerosas notas explicativas. Armando colaborou na revisão do texto em português e também redigiu um texto introdutório, intitulado “Típico retrato de uma época de transição”. O volume conta ainda com outro estudo sobre a obra, do Prof. Antoni Ferrando, da Universitat de València, na Espanha.
“Curial e Guelfa”, escrito cem anos antes de Cervantes ter publicado o Dom Quixote, traça um retrato da sociedade ibérico-italiana da passagem da Idade Média para a Renascença. Encontrado em manuscrito no final do século XIX, somente agora vem sendo estudado em profundidade, nos ambientes universitários europeus.
“No Brasil ainda é praticamente desconhecido, e graças à iniciativa pioneira do Prof. Ricardo da Costa poderá ser, aqui e em todo o mundo lusófono, divulgado e estudado” esclarece Armando, que também é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Associação Brasileira de Estudos Medievais.
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