Carlos Morais Júnior Cadeira n° 18 Patrona: Madalena Salatti de Almeida |
Andante, ia pelos verdes campos
buscando na linha do horiznnte
os olhos verdes que perdera
naquela jura de amor inacabada...
Havia naquelas pernas
uma força de labareda, nos braços
a vivaz mocidade decadente um dia
e nos lábios o murmúrio seco
de um beijo, a vontade da carícia negada.
Andante de deserto por fora e por dentro,
carente do contorno facial do vento,
ou da alegre imagem querida
apagada na ardente brasa do turbulento coração.
Andante, tristonho, inexistente de virtudes,
e antes de tudo, saudoso de um lar, da mulher.
E um dia houve a companheira.
E houve um dia uma paixão,
como poucas tinham havido.
Mas o tempo veio, e com ele a desgraça
e o que era amor em amor se desfez.
Infelicidade que a vida dá em troca
do sofrimento, das rugas e do desespero.
Brincadeira maldosa do extrovertido destino, só isso...
Andante sozinho, de alma bem ferida,
sem saber voltar ao si mesmo, humilhado e quieto.
Daí para o passo, por força daquelas opções bem grandes,
foi apenas mais uma pisada em falso.
Depois a decadência, o nada, e poderia ser apenas tudo.
Andante, caminhante de quilômetros sem fim,
de estradas poeirentas e toalhas de asfalto.
Tristeza vai com ele para amargar-lhe os últimos dias.
Andante de pés no chão e coração vazio.
Apenas andante, sem destino e sem fé, cético de tudo,
porque ele próprio era um ato de ceticismo,
descrente de tudo, talvez porque, para ele, a vida
fosse um símbolo de descrença.
Andante de desatino na alma e nos pés,
palmilhando pelas milhas buscando um espelho,
para poder recolher o sangue das feridas abertas
e se pintar com ele para representar no palco da vida
o último ato da sua comédia existencial.
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