Lino Vitti Cadeira n° 37 - Patrono: Sebastião Ferraz
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Veja bem, o possível leitor, que
surgem, de imediato, nas linhas do título desta quiçá milionésima crônica
minha, dois vocábulos significativos sobre o tema pretensamente abordado por
mim: velhice e decano.
Ser
velho não é curvar-se bisonhamente ao peso dos muitos anos. Não é reclamar do
vazio físico, social, espiritual, humano enfim, com que a vida contempla os que
ultrapassam os 80. Não é deitar no leito do nada fazer aguardando a hora de
partir para a eternidade. Não é locupletar consultórios médicos ou hospitalares
com visitas constantes e nem sempre necessárias , na tentativa inútil de
repelir para longe aquilo que é próprio
de todos os mortais, feitos de carne e ossos que o tempo se compraz em achacar e destruir. Não
é encastoar-se numa torre de isolamento,
renegando tantas coisas belas e boas que a vida costuma oferecer a qualquer um
de nós, mesmo que a companhia dos anos seja numerosa e desagradável. Não é ainda – ser velho - renunciar aos amores familiares, aos sonhos
gostosos, aos anseios de vencer, aos desejos de divertir-se, às possibilidades
de conquistar novas amizades, novos relacionamentos, novos conhecimentos
artísticos, científicos; de renunciar à leitura de livros, jornais, revistas;
de deixar de sentar-se diante da tevê
para assistir disputas esportivas, novelas glamorosas, noticiário nacional e
internacional, filmes novos e antigos; e por último, diria, ser velho não é
jamais jogar a vontade de lado, no lixo, e deixar de escrever crônicas,
artigos, romances, poesia, pintar, transmitir novas teorias, novos princípios
políticos, participar da vida institucional do país e acompanhar tudo quanto em
outras nações acontece...
Isto
seria não ser um velho legal, e o contrário disso, seria, logicamente, SER
VELHO. Prematuramente, desnecessariamente SER VELHO!
A
velhice – a boa velhice – deve ser amada, como um dom divino, como um prêmio da
vida, como um valor inarredável da existência, como um modelo que deve
permanecer no seio da sociedade, para ser imitado, para ser guardado, para ser
cultuado. E às crianças, aos jovens, aos adultos e aos outros velhos, de qualquer
sexo ou condição humana, cumpre ver com olhos de ouro aqueles a quem o tempo elegeu para viver muitos anos,
aqueles que vêem o horizonte do ocaso já bem próximo, iluminado como um convite
a ser seguido, serenamente, à espera da noite sem fim e da eternidade .
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